Garrafa de Champagne inspira viagem para a França

L'assiette Champenoise, Tinqueux

Carlos Gardel foi um gênio da musica e colocou o Tango Argentino no mapa mundi. Poucos sabem, mas Carlos Gardel nasceu em Toulouse na França, ele não era argentino de nascença. Uma de suas mais famosas canções ficou eternizada como Por uma Cabeza em uma historia de uma das maiores paixões dos argentinos, o cavalo puro sangue inglês de corrida. Em português significa “por uma cabeça”.

Luiz Gastão e Richard Geoffroy em São Paulo, 2009

No nosso caso, a máxima vai para “Por uma Garrafa”. Tudo começou em 2009 quando veio ao Brasil Richard Geoffroy, Maitre de Chais do Dom Perignon da Moët & Chandon, responsável pela elaboração dos Champagnes de mesmo nome. Na ocasião a filial brasileira da LVMH (Louis Vuiton Moët Hennessy) preparou uma grande festa para a 1ª visita de Richard ao Brasil. Nesse dia foram servidos três Champagnes Dom Perignon, na realidade todo o conjunto de produtos desse champagne que é conhecido por muitos como o pai de todos os Cuvée de Prestige.

O Dom Perignon Brut 2000, o Dom Perignon Rosé 1998 e por último o lançamento oficial do Dom Perignon Oenothèque 1995. Os dois primeiros vinhos são conhecidos pela maioria dos enófilos no mundo todo, porém o último, o Oenothèque foi lançado pela 1ª vez aqui no Brasil.

O conceito do Oenothèque foi criado pelo próprio Richard Geoffroy. Trata-se do mesmo champagne, porém com dégorgement recente (em português degolado recentemente). Explicando melhor: o Dom Perignon 1995 foi lançado em 2003, com o dégorgement ou degola realizada em no ano 2000, o Oenothèque 1995 foi dégorgée em 2005. O dégorgement é o momento em que o vinho é retirado das caves e tem os fermentos retirados, recebendo a rolha imediatamente após. A diferença do Brut Normal para o Oenothèque é tempo a mais em que o vinho permanece na garrafa antes de receber a rolha. Esse processo sem duvida concede outras nuances e mais complexidade ao vinho.

Momento em que a Dom Perignon Oenotèque 1971 surge como meta

Nessa linda festa aqui no Brasil tive a oportunidade de conversar muito com Richard, um médico que logo após se formar descobriu sua vocação e iniciou carreira como enólogo do grupo Moët & Chandon. No ano 2000 Richard assumiu o posto de comando do Champagne mais famoso do mundo. Nossa conversa, obviamente, foi baseada nos vinhos Dom Perignon que eu havia degustado. Esse Champagne é tão importante em minha vida, que foi o Dom Perignon 1988 que bebi cerca de 15 minutos após o nascimento de meu 1º filho, em 1996.

Trio Dom Perignon degustado em 2009 - Brut 2000, Rosé 1998 e Oenothèque 1995

Luiz Gastão, Richard Geoffroy e Arnaud Lallement no Bar do Estrelado Restaurante

Discutimos safra a a safra e de repente comentei com ele que um de meus maiores sonhos era provar um Dom Perignon 1971, que foi uma grande safra na região, e mais ainda o ano de nascimento de minha esposa. O simpático e preciso Richard não hesitou e lançou imediatamente um desafio: “Se você for nos visitar em Epernay eu lhe ofereço um Dom Perignon 1971” e emendou: “não estou lhe oferecendo um Dom Perignon Brut 1971 e sim o Oenothèque 1971”. Isso foi marcante.

O almoço foi fenomenal e os vinhos oferecidos estavam todos impecáveis. No decorrer de 2010 trocamos uma série de e.mails quando no final do ano fechei meu plano de viagem de férias em família para a França. Seriam 20 dias pela França com a maioria dos dias em Paris, mas com um destino garantido, a região de Champagne. Como nossa viagem foi em janeiro e a Cave Dom Perignon estava fechada em férias coletivas, Richard agendou nosso encontro no espetacular Restaurante Lallement em Tinqueux, nos arredores de Reims. Esse restaurante também é um Relais Chateau chamado L’Assiette Champenoise  e como a festa era mesmo para o Oenothèque 1971, decidimos ficar hospedados lá mesmo. Um local inesquecível. Fica como sugestão para quem planeja uma viagem para a região de Champagne. Apartamentos sensacionais e uma culinária fabulosa, com 2 estrelas do renomado Guia Michelin.

Luiz Gastão com o sonhado Dom Perignon Oenothèque 1971 Magnun no Resturante Lallement em Tinqueux, Champagne

Dia 8 de janeiro último fazia zero grau em Tinqueux, quando precisamente às 8 da noite nosso anfitrião chega ao Lallement. Imaginem a ansiedade em estar novamente com o homem que elabora o mais renomado champagne do mundo? Pois bem, Richard trouxe para nosso jantar o Oenothèque 1971 em Magnun (uma surpresa!) e mais o Brut 200, recém lançado, e o Rosé 1996. Richard acertou com Arnaud Lallement, o chef de cozinha, um menu com trufas negras para acompanhar todos os champagnes. O jantar foi mesmo inesquecível e podemos dizer indescritível, mas além da dica do melhor restaurante de toda a região de Champagne, precisamos mesmo é comentar os vinhos.

O Dom Perignon Brut 2002 é extraordinário. Eu havia degustado o mais novo integrante da família exatamente a meia noite do dia 31 de dezembro de 2010, em Paris, e novamente nesse dia. Um vinho marcante repleto de caráter e com uma estrutura para durar por muitos anos. Já o Rosé 1996 estava com impecável equilíbrio entre todas as suas qualidades. 1996 foi uma das melhores safras da história da região e esse vinho está seguramente entre os 3 melhores Champagne Rosé degustados. Mas como era tudo ‘Por uma Garrafa’ estávamos todos ansiosos para provar o Oenothèque 1971. Quando chega à mesa aquela linda garrafa o restaurante quase parou.

Luiz Gastão, Richard Geoffroy e Arnaud Lallement no Bar do Estrelado Restaurante

Não é sempre que se degusta uma obra prima como essa. Esse champagne havia sido dégorgée em 2006, ou seja, permaneceu nas caves por 35 anos antes de receber a rolha. Esse recentemente degolado faz com que um vinho de quase 40 anos pareça uma criança. É difícil descrever, mas tudo estava na taça. Elegância, substância, integridade, corpo e finesse. Um dos vinhos mais importantes de minha vida e que serviu de guia para uma linda viagem em família.

Minhas avaliações para esses vinhos foram: Dom Perignon Brut 2002 – 96 pontos, Dom Perignon Rosé 1996 – 97 pontos e o Dom Perignon Oenothèque 1971 – 99 pontos.  Agora começa tudo de novo, pois precisamos ter mais uma garrafa para programar a próxima viagem. Saúde!!!!

Um pouco da história do Champagne e dessa lenda chamada Dom Perignon

A história concede ao monge Dom Pérignon o invento desta que a cada dia se consagra como a bebida mais charmosa e alegre do planeta, o Champagne. A região de Champagne era antes conhecida como uma zona de produção de lã de qualidade. No século XI ela começa a entrar no mapa como uma potencial região produtora de uvas viníferas quando o filho de um viticultor de Châtillon-Sur-Marne foi eleito Papa com o nome de Urbano II. Foi ele um grande impulsionador dos vinhos de sua terra natal. Em Roma, o Papa não escondia sua preferência pelos vinhos da sua região e fazia questão de promovê-los. Nessa época o vinho da região de Champagne não era ainda a Champagne que séculos mais tarde encantou o mundo, com um dos mais únicos e exclusivos vinhos do Planeta.

Trio Dom Perignon degustado no Restaurante Lallement em Tinqueux, Champagne

Dom Perignon Oenothèque 1971 Magnum

A saga do Champagne começa em 1639, aproximadamente 6 séculos depois de Urbano II, quando nasce Pierre Pérignon. Filho de um oficial das cortes regionais poderia seguir os passos do pai, mas quando aos treze anos vai para um colégio jesuíta em Châlons-Sur-Marne, Pierre descobre sua verdadeira vocação. Quando esse Monge Beneditino com quase 30 anos chega à Abadia de Hautvillers, ao norte de Epernay, além da adesão estrita às regras de São Benedito inicia uma devoção para a melhoria dos vinhos da região e só por isso já merece seu lugar na história.

Sua visão na época era quase de um revolucionário, pois introduziu práticas como poda controlada, baixo rendimento das parreiras e colheita cuidadosa. Pierre era um especialista em vinhos tanto brancos como tintos, mas sua consagração veio após sua morte quando Dom Grossard, tesoureiro da Abadia de Hautvillers, inicia a divulgação de que o monge Dom Perignon foi quem ‘inventou’ o Champagne. Outro que foi apaixonado por Champagne foi o Rei Luis XIV. Ele provou pela primeira vez aos dezesseis anos em Reims, durante sua coroação e a partir daí elegeu o champagne como sua bebida favorita.

A Magnum de Dom Perignon Oenothèque 1971 momentos antes de ser aberta no Resturante Lallement

Na realidade o Champagne não foi inventado e sim se auto-inventou. Todos os vinhos começam a borbulhar quando as uvas são prensadas. Fungos das cascas das uvas entram em contato com o açúcar do suco, convertendo-o em álcool e gás carbônico. Esse processo é conhecido como fermentação que ocorre em todos os vinhos. Em regiões muito frias como a Champagne os fungos ficam inativos durante o inverno, antes que todo açúcar seja fermentado e convertido em álcool.

Na primavera eles se reativam e continuam a agir sobre o açúcar não convertido, dando origem a mais álcool e gás carbônico que emergem sob a forma de bolhas. Na produção do Champagne isso sempre ocorre na garrafa. Esse método de produção é conhecido como método clássico ou champenoise.

Os Champagnes Dom Perignon são importados pela LVMH Brasil – www.lvmh.com