A expressão muito usada pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche e bem colocada no maravilhoso livro “Quando Nietzsche Chorou”, de Yrvin Yalon, é, na verdade, inspirada no poeta Píndaro ao gritar “Homem: transforma-te no que és!”.
Um e outro, apelavam para um dos mais difíceis entendimentos humanos: o de que temos que procurar incessantemente a nossa verdade já que a nossa responsabilidade com a vida é a de não nos reproduzirmos antes de voltarmos ao que realmente somos. Nascemos nós mesmos, na pura essência, na abertura total da verdade. Sem capas ou disfarces.
Pouco a pouco, vamos nos afastando do eixo, do centro, em nome da imprescindível civilização. Sociedade, política, educação, família, religião, manipulações e condicionamentos fazem as capas. Que se agregam de tal forma, que chegamos à vida adulta com uma auto-imagem inteiramente deturpada. E o que Nietzsche chama de reproduzir é transmitir aos outros e ao mundo, uma figura que não é real, mas resultado daquilo que lhe foi feito ou agregado.
Reproduzimos numa relação a dois, nos filhos, nas atividades profissionais, nas amizades, etc. É quando fica muito complicado arrancar as capas(não confundir com máscaras, necessárias pela versatilidade das circunstâncias), porque as pessoas à volta, não só acostumaram-se com elas, como talvez nos amem e nos admirem nelas. Já pensou nisso?
Quantas vezes um casamento não acaba quando um dos parceiros começa a se auto-inquirir, a buscar se conhecer realmente através de uma terapia e deixa de ser “aquele com quem eu me casei”, como vai estranhar o outro? Ainda mais que temos contra o que ele chama de “niilismo” (do latim nihil: nada), a impotência que os homens experimentam diante da vida e de seus movimentos mais viscerais, uma espécie de negação ou ressentimento contra a existência justamente por não encontrar respostas outras que não as estabelecidas por uma sociedade problemática, desacreditada e sem originalidade ou propostas novas.
Nessa cultura do nada, não se encontra apoio para tirar as capas, muito pelo contrário; nela, espera-se que todos continuem iguais a fazer o jogo da falsidade, da hipocrisia, da conveniência. Eis porque a tentativa da gente se tornar o que é, de des-envolver, de conseguir entender o Eu e a amplidão das nossas necessidades e anseios, é uma tarefa hercúlea. Mas que vale muito a pena, podem ter certeza.
Para que se possa ainda que parcialmente saber o que se quer da vida e tentar viver de acordo com isso. E ainda mais importante: saber o que não se quer mais para si. Principalmente ao olhar para certas atitudes alheias e perceber o quanto as pessoas se desconhecem e jamais se tornarão quem são. Pelo menos, nesta passagem.