Com tintos e brancos fabulosos, a Família Drouhin esbanja competência, charme e simpatia em uma região que abriga os vinhos mais elegantes do mundo
A Maison Joseph Drouhin está nas mãos da família Drouhin há mais de 130 anos. Joseph Drouhin era um jovem corajoso e empreendedor oriundo da região de Chablis. Em 1880, com 22 anos de idade, instalou-se em Beaune e fundou sua empresa, com a finalidade de vender vinhos de grande qualidade com o seu próprio nome. O filho Maurice seguiu os seus passos e aumentou os domínios da família ao comprar terrenos em algumas regiões demarcadas excepcionais tais como Clos des Mouches e Clos de Vougeot. Robert Drouhin, que sucedeu Maurice em 1957, comprou mais vinhas principalmente na Côte de Nuits e Chablis. Foi dos primeiros na Borgonha a introduzir a culture raisonnée (cultivo sem pesticidas ou outros produtos químicos). Hoje em dia os filhos de Robert e Françoise Drouhin continuam imbuídos da mesma paixão que inspirou o fundador da empresa. Roberto Drouhin teve 4 filhos, Philippe, Veronique, Laurent e Frederic.
Todos estão hoje em posições de destaque na companhia e um complementa o trabalho do outro. Fréderic é o presidente do diretório, Laurent é responsável pelo negócio da família nos Estados Unidos onde vive, Véronique é enóloga e responsável por perpetuar o estilo dos vinhos tanto na Borgonha quanto no Oregon e Philippe é responsável pelas vinhas na Borgonha e também no Oregon, onde a família produz deliciosos Pinot Noir, com estilo novo mundo, porém com a tradição e estilo da casa. Todos conservam os valores da empresa e a busca constante pela qualidade, para o prazer de todos aqueles que apreciam a elegância natural do vinho produzido a partir da castas Pinot Noir e Chardonnay.
Essa matéria começou a ser escrita no dia 11 de novembro último, quando Laurent esteve no Brasil para divulgar os vinhos da Borgonha da família no evento PFV. PFV são as iniciais de Primum Familiae Vini, uma organização composta por 11 produtores de vinhos que tem em comum a qualidade e o prestígio de seus vinhos e também por serem todas empresas familiares. Em janeiro, dia 12, em férias com a família, estive em Beaune e fui visitar a Domaine Drouhin.
Passei a manhã com seus 3 irmãos, Philippe, Veronique e Frederic. Fomos recepcionados por Philippe, que com muito orgulho e paixão nos levou a visitar as vinhas. A propriedade dos Drouhin na Borgonha possui 73 hectares distribuídos nas Côte de Nuits, Côte de Beaune, Côte de Chalonnaise e Chablis, ou seja, estão presentes em quase todas as principais apelações da região. O conglomerado hoje é um dos maiores proprietários da Borgonha, onde mais de dois terços das vinhas estão classificadas como “Premiers Crus” e “Grands Crus”. Essas vinhas estão distribuídas em cerca de 90 denominações diferentes. A Maison Joseph Drouhin apresenta uma gama fascinante de vinhos, com toda a autenticidade e personalidade de grandes brancos a base de Chardonnay e excepcionais tintos a base da Pinot Noir. Atualmente a Maison adota o método biológico e biodinâmico no cultivo de suas vinhas. Nas vinhas somente produtos naturais são utilizados e todos os procedimentos demonstram o maior respeito pelo solo, vinha e ambiente. Philippe é um apaixonado pela agricultura biodinâmica e com muita humildade diz que ainda tem muito a aprender sobre essa encantadora teoria de Rudolf Steiner.
Depois de um deleite de visita as vinhas fomos a Maison Joseph Drouhin, que fica no coração da encantadora cidade de Beaune, a capital dos vinhos na Borgonha. Frederic foi nosso host em uma visita impecável na adega. Ao final da visita em uma mesa linda tínhamos 14 vinhos que iríamos degustar. Se uniram a nós a encantadora Veronique e Philippe. Foi difícil segurar a emoção de estar cercado pela família Drouhin com aquela artilharia de vinhos. Pois bem, Veronique escolheu carinhosamente 7 brancos e 7 tintos. Os brancos foram degustados em ordem crescente de intensidade. Primeiro foi o Bourgogne 2009 seguido do Chablis 2009, Chablis Montmains Premier Cru 2009, Chablis Vaudesir Gran Cru 2008, Puligny-Montrachet Premier Cru Les Folatiéres 2008, Chassagne-Montrachet Morgeot Premier Cru 2008 e Clos des Mouches 2008.
Todos impecáveis em cada faixa de preço. O que marcou foi o quanto é delicioso o vinho básico da casa, mostrando o terroir da Borgonha e a expressão da Chardonnay. Os Chablis estavam espetaculares. O Vaudesir 2008 tirou o fôlego e mostrou o que é um grande Chablis Grand Cru de uma grande safra. 2008 foi realmente uma safra esplendorosa na região de Chablis. Os últimos 3 brancos de nosso tasting são a expressão máxima da casta Chardonnay. Veronique é mesmo corajosa, pois primeiro me desafiou para tentar entender a diferença de um Puligny e um Chassagne, colocando o Clos de Mouches por último. Não há duvida que o Chassagne é mais intenso que o mais elegante Puligny. Já o Clos de Mouches é a expressão máxima do estilo e o que os Drouhin querem mostrar. Um branco inesquecível. Vale ressaltar que quando Laurent esteve no Brasil degustei com ele o Clos de Mouches 2007. Dois grandes brancos que estão quase no mesmo nível. O 2007 é mais marcante, mas o tempo pode mudar essa ligeira vantagem do 2007.
Logo na sequência fomos para a bateria dos tintos. Começamos com o Bourgogne 2009 ao lado do Moulin-a-Vent também 2009. Interessante, pois o Bourgogne é Pinot Noir e o Moulin-a-Vent é Gamay. Esse último foi um dos mais expressivos vinhos a base de Gamay degustados. Mais uma vez vale ressaltar, pois os 2 vinhos estavam impecáveis e mostravam um incrível frescor. Logo após voltamos a uma coleção de Pinot Noir. Chambolle-Musigny 2008, Gevrey-Chambertin 2008, Clos de Mouches 2008, Corton Bressandes Grand Cru 2008 e Echezeaux Grand Cru 2008. Os jovens comunais mostraram estilo, personalidade e raça. O Clos des Mouches, como no caso do branco é a cara da família. Um vinho com estrutura e requinte. Já os dois Grand Cru estavam sublimes. Muito intensos, elegantes e repletos de finesse. O raríssimo Corton Bressandes (somente 1.200 garrafas por ano) estava com um estilo peppery sensacional. Inesquecível. Já o Echezeaux estava mais encorpado e com um pouco mais de madeira. Um grandíssimo vinho. Ambos estão no inicio de vida e são tintos para longa guarda. O consumo sugerido para essas 2 obras de arte é entre 2014 e 2030.
Após a impecável degustação tínhamos ainda pela frente o Grand Finale da visita. Os irmãos Drouhin prepararam uma mesa dentro do Parlamento dos Duques da Borgonha datado século XII, hoje de propriedade da família, onde almoçaríamos. Além da oportunidade de sentir um pouco da história, uma espécie de viagem no tempo, estava lá, preparando o almoço, o chef do renomado restaurante Le Benaton, um dos mais expressivos de Beaune.
Para esse especial almoço Veronique surpreendeu mais uma vez, e escolheu para acompanhar o 1º prato, uma lagosta da Bretanha com raviólis de cogumelos (cèpes), o mais importante vinho que a família produz, o Montrachet Marquis de Laguiche, safra 2003. Provar um Montrachet é a maior emoção possível para um amante de vinhos. Fazer uma descrição sobre esse vinho é muito difícil, pois sua profundidade, caráter e unicidade são fenomenais. A seguir, para estar ao lado de uma paleta de cordeiro ao forno, Veronique escolheu um tinto de uma das melhores safras de todos os tempos na Borgonha. O Chambolle-Musigny Premier Cru 1985. Degustamos lado a lado com seu irmão mais novo o Chambolle-Musigny 2008, que viera da mesa de degustação. O estilo Chambolle/Drouhin estava presente nos 2 vinhos, tanto no super jovem quanto no maduro. Vale sublinhar que o que mais impressionou foi a integridade do 1985. Um tinto impecável que mostrou de fato o que é um bom Pinot Noir envelhecido (25 anos). E o melhor ainda pode ser guardado por mais alguns anos.
Os vinhos da Maison Joseph Drouhin são importados para o Brasil pela Mistral.