Com champagnes excelentes em todas as categorias, essa Maison se destaca pela consistência de seus produtos e por seus dois Top Cuvée’s, o excelente Cuvée William Deutz e o provocante Amour de Deutz
A Maison foi fundada em 1838 in Aÿ, um dos principais vilarejos na grande região de Champagne, por William Deutz e Pierre-Hubert Geldermann, ambos alemães, da cidade de Aachen. Após pouco mais de 20 anos, a 2ª geração já tomaria a liderança da casa. Os filhos René Deutz e Alfred Geldermann focaram a expansão do negócio para fora da França e os resultados foram excelentes na Inglaterra, Alemanha e Rússia.
Já no inicio do século XX René Lallier, genro de René Deutz, iniciou um legado que está na empresa até os dias de hoje. Nem tudo para essa casa foram flores. A philoxera em 1911, a 1ª Guerra Mundial, a Crise de 1929 e a 2ª Guerra Mundial, foram desafios, mas que nunca tiraram o foco da família em produzir grandes champagnes, sempre com as melhores uvas de suas propriedades em Mesnil Sur Oger, Bisseuil, Pierry e Aÿ, dentres outras.
Em 1996 a família Rouzaud, proprietários da Maison Louis Roederer, já era a maior acionista da Maison Deutz e nomeou Fabrice Rosset para o cargo principal na casa. Fabrice investiu muito nas vinhas e na modernização da produção, mas sem nunca deixar de manter a qualidade e o estilo dos vinhos da Deutz. Os investimentos de 1997 a 2006 alcançaram 10 milhões de euros.
Recentemente, ano passado, mais 5 milhões de euros foram investidos na modernização da Cave tanto em novas prensas quanto em tanques e também na expansão dos túneis de estocagem das garrafas. Em 2011 a casa atingirá a produção de 2 milhões de garrafas por ano.
A convite de Fabrice Rosset, habitué de nosso País (esteve no Brasil 3 vezes nos últimos 2 anos), fomos durante minhas férias visitar a Maison. Pois bem, em 10 de janeiro último fazia muito frio em Reims quando Jean-Marc Lallier chegou ao hotel para nos levar a Aÿ. Jean-Marc, descendente direto de René Lallier, é o executivo responsável por marketing e comunicação.
Também faz parte do grupo de degustação que elege todo ano os champagnes que vão ao mercado. Ao chegarmos a Champagne Deutz, logo na entrada vimos hasteada a Bandeira do Brasil. Uma homenagem que as grandes casas costumam fazer para seus visitantes estrangeiros.
Logo após uma calorosa recepção começamos a visita. A primeira imagem foi mais uma obra de expansão que abrigava inúmeros trabalhadores, com os vinhedos ao fundo. A visita às Caves começou com as prensas, tanques de fermentação, engarrafamento e estocagem. Tudo novo e com a mais alta tecnologia. Descendo mais chegamos às Caves onde as garrafas ficam armazenadas. A Maison Deutz possui 8 quilômetros de Caves subterrâneas. Para um enófilo de carteirinha é prazeroso demais ver tantas garrafas, principalmente as de formatos especiais, como magnum (1,5 litros), Jeroboam (3 litros) e Mathuselah ou Matusalám (6 litros). É de dar água na boca.
Após uma longa e muito bem conduzida visita às Caves e às Vinhas com Jean-Marc, era a hora de voltar à bela casa para a sala de degustação onde já nos esperava Michel Davesne, enólogo chefe da casa e responsável final pela elaboração de todos os champagnes. A dupla Jean-Marc e Michel elaborou uma sensacional seleção para que conhecêssemos o estilo da casa e a evolução dos Champagnes.
Começamos pelo carro chefe, o Deutz Brut Classic, que estava excelente e mostrando o estilo Deutz de ser, com muito frescor, elegância e caráter mineral. O Classic provado é elaborado a partir de 1/3 de cada casta permitida na região de Champagne, ou seja, Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier. Predominantemente safra 2007 com 20% de vinhos de reserva das safras 2005 e 2006. Vale ressaltar que o Champagne Brut não safrado é uma arte de blending e que tem como objetivo, apesar das mudanças de cada safra, preservar o estilo da casa. Na sequência provamos o Brut Millésimé 2005. A primeira impressão foi o mousse (como os franceses chamam as borbulhas explodindo na taça). Aromas deliciosos de brioche e mel. Boca firme com fruta madura (maçãs). A safra em questão foi muito boa na região.
Os dois próximos champagnes eram mesmo de tirar o fôlego. Foram servidos dois Cuvée William Deutz, o 1996 e 1988, justamente para podermos entender como os champagnes de alta gama são na juventude e como evoluem. Quando acessamos o 1996, Davesne exclamou: “Big Year”. Realmente a safra de 1996 talvez tenha sido a mais espetacular dos últimos 30 anos na região. Elaborado a partir de 70% de Pinot Noir, 25% de Chardonnay e 5% de Pinot Meunier, apresentava muito frescor, maçãs e um caráter cítrico, lembrando casca de laranja. Um vinho fabuloso e profundo. O irmão mais velho por incrível que parece estava mais fechado e tivemos que esperar alguns minutos para que ele desabrochasse. Impressionou muito também, apesar de ter menos profundidade. Minhas avaliações para esses dois sensacionais champagnes foram 96 e 94 pontos, respectivamente. Após essa espetacular sequência tivemos dois Rosés e um Blanc de Blancs, que propositalmente Jean-Marc deixou para o final. O Rosé elaborado a partir de 90% de Pinot Noir e 10% de Chardonnay tem cor rosa acentuada e aromas de morangos e cerejas. Gustativamente estava muito prazeroso e mostrava com precisão o caráter da Pinot Noir em um champagne rosé. O Rosé Millésimé 2006 estava muito interessante e para mim foi mais um momento especial, pois esse foi meu primeiro champagne da safra 2006 millésimé, que segundo Davesne, foi muito boa para os vinhos da casa. De cor rosa ainda mais profunda que a anterior apresentava uma perlage finíssima e não muito veloz. Fruta vermelha madura com enorme riqueza nos aromas. Em boca é sutil e com a Pinot Noir ainda mais marcante. Excelente e com muita vida pela frente. A última garrafa era o Blanc de Blancs 1988. Como o próprio nome diz branco de brancas, ou seja, produzido a partir de 100% de Chardonnay. Já bem mais evoluído e com deliciosa nuance tostada em boca. O interessante e inusitado mesmo foi comparar lado a lado dois champagnes da mesma safra, 1988, um com Pinot Noir predominante, o Cuvée William Deutz e o outro 100% Chardonnay. Como não podia deixar de ser o Cuvée William Deutz estava mais intenso que o Blanc de Blancs.
E quando achamos que tinha acabado, Jean-Marc havia planejado um almoço e como não poderia deixar de ser, com mais champagne. O menu especialmente elaborado para a ocasião foi meticulosamente harmonizado com mais três champagnes. Começamos com o irmão mais novo do último da degustação, ou seja, o Blanc de Blancs, da especial safra de 2004. Complexidade aromática impressionante. A fruta madura está presente, com a pêra e maçã, seguida de tons de frutas secas, toques de mel, fermento e um final levemente tostado. Muito cremoso em boca. Conjunto entre acidez, álcool e fruta excelente. Retrogosto duradouro. Esbanja classe.
Após esse início tínhamos pela frente a dupla de Cuvée William Deutz safra 1999, a Brut e a Rosé. O Brut de cor dourada e fina perlage tem um nariz marcante com frutas maduras (pêssegos), tons florais deliciosos e um toque final especiado. Excelente e colecionável. Já o Rosé tinha delicada perlage e com uma cor rosa mais clara. Visualmente, é extremamente provocante e charmoso. Aromaticamente, é sensacional, voluptuoso. Firmes nuances de frutas vermelhas maduras (framboesas) e tons adocicados, que nos remetem a um bom Pinot Noir (sua composição é 75% de Pinot Noir com 25% de Chardonnay). Na boca, é muito firme e profundo. Final de boca longo e marcante.
Logo após o o almoço finalizaríamos a visita a Maison Deutz, mas não a degustação. No Jantar escolhi o Restaurante Le Millenaire no centro de Reims para jantar com a família e comemorar o aniversário do meu filho caçula. E mais uma surpresa de Jean-Marc e da Maison Deutz. Esperava por nós uma Amour de Deutz 1999, safra do aniversariante. E foi assim que acabou nossa visita a região de Champagne, pois no dia seguinte partimos para a Borgonha. No português mais claro possível, fechamos com chave de ouro, pois o Amour de Deutz 1999 estava simplesmente espetacular.