Produzido nas cercanias de Verona, esse tinto é fabuloso para os dias mais frios

Amarone

Quarteto de Sensacionais Amarone safra 2006

Desta vez vamos começar pelo fim. A safra 2006 na região do Veneto, mais especificamente nas comunas de Negrar, Santo Ambrogio e Fumane, foi extraordinária, talvez a melhor dos últimos 15 anos. Para colecionadores e apaixonados por esse sensacional vinho, o Amarone della Valpolicella, é uma grande oportunidade, pois a maioria desses tintos já estão deliciosos hoje e com muitos anos de evolução pela frente.
O Amarone della Valpolicella é um vinho suculento, frutado, complexo e que apresenta toques marcantes de uva muito madura (uvas passificadas),  mas nem sempre todas essas características foram cultuadas como são hoje. Antes da 2ª Guerra mundial esse mesmo vinho era considerado uma falha. Deveria ser um vinho doce e como tinha inadvertidamente todo seu açúcar fermentado e convertido em álcool virava um vinho seco. Só mais tarde essa falha original transformou-se no seu maior trunfo.
Esse nobre tinto italiano na maioria das vezes tem a denominação ‘Clássico’ no rótulo. E ele é mesmo clássico, delicioso e único.
O Amarone della Valpolicella (na região temos também o Recioto della Valpolicella, que é doce) é produzido a partir das castas locais Corvina (Corvina Veronese), Covinone, Rondinella e Molinara. Há cerca de seis anos o consórcio DOCG (denominazione de origine controllata e garantita) da região permite não mais utilizar a antes obrigatória Molinara, que é a plebéia deste memorável vinho. A Corvina é a rainha deste blend.  As uvas destinadas a produção do Amarone, após a colheita, são colocadas em esteiras horizontais que ficam em galpões cobertos, sempre com boa ventilação. As uvas ficam nestas esteiras normalmente até o início de fevereiro e após esta fase de “apassimento natural” entram no processo de vinificação.

Processo de Apassimento na Serego Alighieri

Aqui o interessante é que o Botrytis, o mesmo fungo que produz as uvas para o Grande Vinho Doce “Sauternes”, pode também se manifestar, mas nesse caso o fungo em questão não é bem-vindo. A maioria dos produtores hoje preferem excluir as uvas afetadas pela podridão nobre para conseguirem vinhos mais frescos e frutados. Nas décadas passadas foram produzidos Amarones com grande quantidade de Botrytis, o que fez destes vinhos menos especiais. Por último, não espere de um bom Amarone menos que 15 graus de álcool. Prepare-se para uma explosão de aromas de uvas-passas no nariz e uma “boca” completamente cheia, seguida de uma persistência quase infinita. É um grande tinto seco.

Os Melhores Amarones do mundo estão disponíveis aqui no Brasil

Como é de praxe o PPOW organizou um tasting com alguns dos melhores Amarone disponíveis no Brasil. Degustamos 4 vinhos da extraordinária safra 2006, um 2005, um 2004, um 2003 e um 2001. Um dos vinhos não degustados, por seu preço ser muito alto, foi o Amarone de Giuseppe Quintarelli, que está disponível no Brasil.

O genial Giuseppe Quintarelli

Quintarelli produz  os mais clássicos e profundos vinhos de toda a região, uma espécie de Romanée Conti da Valpolicella. Para quem quer fazer uma extravagância e provar um dos mais espetaculares vinhos do Mundo, tente esse produtor. Além de produzir os melhores Amarone, produz também um Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc de nome Alzero, que é mesmo uma obra de arte. Estive pessoalmente visitando esse senhor em sua casa (Vinícola) em Negrar. Uma das mais fabulosas experiências de minha vida. Provei na ocasião algumas safras de seu Amarone e todos são verdadeiramente incríveis.
Já que falamos dos vinhos de Quintarelli podemos começar abordando o excelente Amarone Classico Bertani 2003. O porquê da comparação vai direto ao estilo do vinho. Talvez os tintos da casa Bertani sejão tão tradicionais, clássicos, quanto os vinhos de Quintarelli. Desse nosso painel não temos duvidas que dentre todos os Amarone que provamos o Bertani foi o mais formal.

O Clássico Amarone da casa Bertani

Repleto de personalidade, esse vinho aromaticamente é especial, pois alia tons florais, toques de couro, nuances de alcaçuz e uma fruta muito presente. Seus taninos são mais rústicos, que mostram mesmo o estilo mais clássico do vinho. Um grande tinto que foi construído para ir a mesa acompanhando de um prato “forte”. Casou de maneira excepcional com um bife ancho sangrando.
Dos Amarone “mais antigos”, ou seja, antes dos 2006, provamos ainda o Amarone Classico de Tommasso Bussola 2005, o Amarone Classico Vaio Armaron da casa Serego Alighieri 2004 e por ultimo o Guerieri-Rizzardi Amarone Villa Rizzardi 2001, esse último o “mais maduro” da turma. Desses 3 o mais modernos e campeão hoje (não incluindo os 2006) foi o Bussola 2005. De estilo moderno com muita fruta madura como framboesas e cerejas, seguidos de marcantes tons florias, tons especiados e um hint defumado. Gustativamente impressionante confirmando o estilo mais moderno, com bom corpo. Pode ser consumido já e por mais 10 anos. O campeão do futuro foi o Vaio Armaron 2004. Um vinho de estilo mais tradicional, ainda fechado nos aromas. Depois de 2 horas na taça mostrou a que veio. Um vinho de extrema personalidade e finesse nos aromas. A fruta negra está em excelente volume e os tons animais estão na medida certa. Boca firme com um final longo e persistente. Vinho para esperar por mais 4/5 anos para estar excelente. Depois disso ainda continuará evoluindo por mais outros 5 anos, seguramente.

Visão aérea da Vinícola Serego Alighieri

O sobrenome da vinícola Alighieri é do próprio Dante Alighieri. Seu filho Pietro comprou a propriedade em 1353. Após 20 gerações a Villa onde se localiza a Vinícola ainda pertence aos herdeiros de Dante Alighieri. Tive o prazer de visitar essa vinícola anos atrás. Uma verdadeira maravilha. Quem estiver planejando uma viagem a Verona, não pode deixar de visitar essa maravilhosa propriedade. Por último comentamos o “mais velho” dos Amarone provados, o Villa Rizzardi 2001. Um vinho pronto para ser degustado. De corpo intermediário e mais para o estilo tradicional, apresenta boa carga de frutas com bom volume de madeira.  Taninos bem formados e boa estrutura em boca. Final muito agradável. Para quem aprecia um vinho mais pronto temos nessa garrafa uma grande pedida.

Para voltarmos ao inicio da matéria vamos fechar com um quarteto impressionante, ou seja, os 4 Amarone da reluzente safra 2006. Foi um enorme prazer podermos constatar a grandíssima qualidade dessa safra. Degustamos Allegrini, Tommasi, Zenato, todos Amarone della Valpolicella Classico, e o Pieropan Vigna Garzon, esse último não é Amarone Classico e sim um single vineyard. Coindientemente todos os vinhos em questão são de estilo mais moderno, sendo o Tommasi o menos moderno dos 4 e o Vigna Garzon o mais moderno. Todos esses vinhos foram avaliados com mais de 92 pontos, ou seja, todos excelentes, cada um com seu estilo. Tecnicamente tivemos um empate entre o Allegrini e o Zenato. O Allegrini é um tinto moderno, vibrante e cheio de vida. Aromas encantadores com destaque para a fruta negra, tons de tabaco, nuances defumadas e toques de baunilha. Boca voluptuosa. Um tinto preciso com excelentes taninos. Já é prazeroso, mas estará melhor com mais 2/3 anos de garrafa. Um vinhaço! Sou fã confesso dessa casa, que também tive a honra de visitar. Nunca provei um Amarone dessa casa médio, todos sempre excelentes.

O Classico Rótulo do Amarone Allegrini

O Amarone Classico Zenato 2006 é fabuloso.

Entrada da Vinícola Zenato

Muito rico e encorpado aromaticamente falando. Sem duvida um dos mais concentrados de todos, com uma impressionante carga de frutas negras e vermelhas entrelaçadas com uma bela madeira. Os tons de couro e florais estão também muito bem integrados no conjunto.

Um grande Amarone que já pode ser apreciado hoje, mas tem muita vida pela frente. Talvez um grande exemplo da expressiva safra 2006 na região.O Tommasi 2006 foi o mais especiado e “apimentado” de todos os Amarone degustados. A fruta negra madura (ameixas e cerejas) estão bem presentes. Aromaticamente foi o mais provocante e “perfumado” de todos. Palato muito firme. Um tinto repleto de sensualidade e estilo.

Por último o mais moderno de todos foi o Vigna Garzon 2006. A família Pieropan é craque em produzir os melhores brancos a base da casta Garganega (DOC Soave) de todo o Veneto. Mais recentemente a casa lançou esse sensacional Amarone. A família escolheu o Monte Garzon ao norte de Verona para produzir um grande Amarone de vinhedo único. Rubi intenso. No nariz, é delicioso. Muita fruta madura como ameixas, cerejas e amoras.

3 Amarone, 3 Estilos

Nota- se a madeira sutil e apetitosa. Palato muito apetitoso. Apesar de seus potentes 16% de álcool, é um vinho fresco, equilibrado e elegante. Finaliza bem na boca. Excelente e com vida pela frente.

Vinhos dessa edição:
Amarone Della Valpolicella Classico
Allegrini 2006
Tommasi 2006
Zenato 2006
Tommaso Bussola 2005
Serego Alighieri Vaio Armaron 2004
Bertani 2003
Guerieri-rizzardi Villa Rizzardi 2001

E (o único que Nao é clássico)
Amarone Pieropan Vigna Garzon 2006

Os vinhos Bussola e Pieropan são importados para o Brasil pela Decanter – www.decanter.com.br
Os vinhos Allegrini são importados para o Brasil pela Grand Cru – www.grandcru.com.br
Os vinhos Zenato são importados para o Brasil pela WorldWine – www.worldwine.com.br
Os vinhos Quintarelli e Serego Alighieri são importados para o Brasil pela Mistral – www.mistral.com.br
Os vinhos Guerieri-Rizzardi são importados para o Brasil pela Vinci Vinhos – www.vinci.com.br
Os vinhos Tommasi são importados para o Brasil pela Interfood (Todo Vino) – www.todovino.com.br
Os vinhos Bertani são importados para o Brasil pela Casa Flora  – www.casaflora.com.br