A paisagem é linda para os olhos e os vinhos excelentes para a boca
Poucos sabem que na Itália se produz vinhos em todas as regiões. Isso é uma ótima noticia já que se trata de um país lindo, onde é possível aliar o prazer de degustar ótimos vinhos em locais maravilhosos. A rota das Dolomitas é uma verdadeira obra prima da natureza. O termo Dolomitas , Dolomiti em italiano, é o nome dado a uma cadeia montanhosa localizada no Nordeste da Itália. Essa cadeia montanhosa estende-se pelas províncias de Belluno, Bolzano, Trento, Údine e Pordenone. De toda a cadeia montanhosa das Dolomitas a parte mais linda e encantadora localiza-se em uma pequena região que liga a lindíssima cidade de Cortina D’Ampezzo à especial Bolzano.
Cortina D’Ampezzo é uma estação de inverno que já foi palco de olimpíadas de inverno em 1956 e mantém até hoje um charme quase inabalável quando o assunto é ski e luxo. Abriga, por exemplo, hotéis de alto padrão que normalmente só funcionam no inverno. Partindo de Cortina na Strada Dolomiti rumo a Bolzano você irá percorrer cerca de 110km. É uma pequena estrada de duas mãos cruzando os Alpes Italianos onde você pode parar para apreciar a maravilhosa vista e até fazer um picnic. Um passeio incrível que transpassa locais absolutamente espetaculares. Dentre os destaques temos as estações de Ski de Passo di Falzarego e Passo del Pordoi, não deixando de dar uma pequena desviada e visitar Ortisei. A última parada antes do fim da pequena estrada fica o famoso e absolutamente espetacular Lago Carezza.
Um lago azul de água translúcida que você só vai acreditar vendo. Uma imagem que vai durar para sempre em sua memória. Tive o prazer de fazer essa viagem muitos anos atrás e cada ano que passa a vontade de voltar aumenta.
Mas e o vinho? Depois dos 110 quilômetros dessa extraordinária viagem, chegamos a Bolzano, no sul do Tyrol.
De Bolzano até Verona são 158 quilômetros (pela auto-estrada) de muitos vinhedos e muitos produtores de grandes vinhos. No começo dessa viagem temos a região do Alto Adige, com brancos e tintos fabulosos. São inúmeros os produtores de alta qualidade dessa região, mas dessa vez vamos destacar dois vitivinicultores que sem duvida estão entre os mais expressivos de toda essa região do Alto Adige, como Elena Walch. A Vinícola de Elena está localizada em Termeno (Tramin) e produz uma grande gama de vinhos. Tivemos a oportunidade de provar seus dois vinhos top’s, o branco Beyond The Clouds 2006 e o Tinto Kermesse 2004.
O primeiro é uma verdadeira obra de arte. Elena Walch produz esse reluzente branco à base de Chardonnay (predominante) blended com uma série de outras castas brancas autóctones da região que não são declaradas pelo produtor.
Apresentando boa densidade é um branco de extrema sensualidade aliando vigor e elegância. Tem a fruta tropical em bom volume, nuances de baunilha e um final floral. Palato firme e muito apetitoso. Tem estrutura para continuar evoluindo por mais alguns anos (4/5 anos). Sem duvida estamos falando de um branco de alta gama. O tinto Kermesse 2004 está no mesmo patamar do sensacional “Além das Nuvens”. Elaborado a partir de um blend de diversas uvas (essas sim declaradas por Elena), são elas a local Lagrein (a mais importante casta tinta do Alto Adige) com as “francesas” Merlot, Syrah, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot. Esse importante e imponente vinho prima pelo estilo. Muita fruta negra madura, especiarias, toques de pimenta do reino e nuances de alcaçuz. Boca rica, excelente acidez e um final longo, duradouro, persistente e muito apetitoso.
O segundo produtor de destaque do Alto Adige é Alois Lageder. Essa casa se localiza em Magré, cerca de 7 quilômetros ao sul de Termeno. Apesar de produzir excelentes tintos, Alois Ladeger tem mais destaque com seus deliciosos brancos varietais produzidos com Chardonnay, Gewurztraminer, Moscato Giallo, Pinot Grigio, Pinot Blnac, dentre outros. Tivemos a oportunidade de provar o da casa Alois Lageder o Pinot Grigio Benefizium Porer 2007. Por ser um branco da safra 2007 já estava maduro e pronto para ser apreciado. Esse vinho prova que os vinhos brancos dessa região tem estrutura para evoluir em garrafa por alguns anos. Sua acidez é o segredo para ainda estar muito gostoso e cheio de vigor. A fruta madura está presente. De corpo médio é gostoso, com bom final de boca.
Na seqüência, rumo a Trento, cerca de mais 20 quilômetros ao sul, fica localizada, em Mezzolombardo, uma das mais importantes vinícolas de toda a Itália. Estamos falando da propriedade Foradori, comandada por Elizabetta Foradori.
A casa em questão está na região do Trentino e tem na uva Teroldego o grande destaque. A casta tinta Teroldego é um primor, que para os amantes de Syrah, posso adiantar que elas tem características semelhantes. Essa semelhança se dá já que ambas, Syrah e Teroldego, geram vinhos com caráter terroso e herbáceo com muita complexidade e profundidade. Pois bem, Elizabetta produz uma série de vinhos, brancos e tintos. Nós de PPOW, tivemos o prazer de provar todos os vinhos Foradori disponíveis no Brasil, através de seu atual importador. São eles o branco Myrtho 2008 e os tintos Teroldego e Granato, ambos da safra 2007. Elizabetta no ano passado esteve por aqui pela primeira vez para participar de uma feira de vinhos ecológicos, orgânicos, biodinâmicos e naturais. Seus vinhos são, desde 2007, produzidos a partir de técnicas de agricultura com cultivo biodinâmico. O Myrto 2008 é um vinho interessante, com bom frescor nos aromas. Tem toques de limão, apricot, leves nuances de mel e um final herbáceo na medida certa. Na boca é confirmado o frescor. De corpo mediado apresenta boa acidez. Esse vinho foi elaborado em 2008 com 90% da casta Incrocio Manzoni (criada pelo professor Italiano Luigi Manzoni na década de 20 do século passado através do encontro da Riesling Renano e da Pinot Bianco) e 10% de Sauvignon Blanc. Aqui vale um comentário: se o branco de Elizabetta é bom, imaginem os tintos, que são mesmo o destaque da casa. O Teroldego Rotaliano 2007 é um espetáculo de vinho, principalmente se estivermos falando de custo beneficio. Um tinto que sobra em personalidade, apresentando boa carga de frutas negras e vermelhas com um bom acento floral e um toque de madeira. O que impressiona é o caráter mineral marcante. Delicioso para ir a mesa acompanhando pratos de massas e carnes. Por menos de 100 reais a garrafa é uma pechincha. Logo após degustar esses dois vinhos, chegava a mesa o Granato 2007.
Nesse momento as recordações vieram á cabeça. Há 10 anos estive na VinItaly em Verona, maior feira de vinhos do planeta e tive a honra de presenciar um grande feito de Elizabetta. O Granato 1999 foi eleito o melhor vinho de toda feira batendo nada mais nada menos que vinhos como Barolo Runcot de Elio Grasso, Maurizio Zanella Rosso e Branco Cervaro della Sala da Casa Antinori. Tudo isso ocorreu durante o famoso programa de televisão Porta a Porta durante a feira, com a presença dos maiores críticos de vinhos da Itália. Nostalgia de lado voltamos ao Granato 2007. Mais uma vez esse vinho mostrou a genialidade de Elisabeta. Um vinho de excelente qualidade. Tem no nariz toques florais e minerais com uma deliciosa amora proveniente de uvas de boa qualidade (elaborado com 100% Teroldego selecionadas dos cinco vinhedos mais importantes da propriedade). A madeira está muito bem posicionada e com o tempo irá se integrar melhor junto ao conjunto de acidez, álcool e fruta. Gustativamente tem taninos duros, ainda “não totalmente prontos”, mostra que tem muito futuro pela frente. Um tinto jovem e complexo, repleto de raça, vigoroso, aristocrático e muito elegante. Vinhaço que tem 20 anos de evolução pela frente.
Pouco mais de 20 quilometros ao sul chegamos a Trento, onde fica localizada a Vinícola Ferrari.
Sem dúvida os bollicini (como carinhosamente os italino denominam os espumamtes ) dessa casa estão entre os três melhores de toda a Itália, ao lado dos espumantes da Franciacorta das casas Ca’ Del Bosco e Bellavista, ou seja, do norte são os melhores bollicini dentre todos. Provamos o excelente Perlé 2004, recém chegado ao Brasil. Já tivemos o prazer de provar diversas safras desses “champagne” italianos e sempre o Perlé é espetacular e normalmente bate muitos champagnes em degustações às cegas.
Por último, geograficamente falando de norte para o sul, chegamos a propriedade Tenuta San Leonardo, cujas terras produzem vinhos há mais de 700 anos. Essa Tenuta localiza-se em Borghetto All” Adige Avio, pouco mais de 100 quilômetros ao sul de Bolzano. Pois bem essa casa plantou em pleno solo das Dolomitas as castas francesas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot.
A família Guerrieri Gonzaga tem orgulho em produzir um dos mais Bodaleses tintos de toda a Itália. Em minha opinião esse vinho ao lado do Sassicaia são os dois mais “franceses” tintos italianos. A tipicidade de um bom Bordeaux se nota logo nos aromas do San Leonardo 2004. Um vinho extraordinário, carnoso e encorpado. O interessante é que sobra elegância. Fim de boca delicioso, longo e persistente.
Os dois mais impactantes tintos desse tasting foram o San Leonardo 2004 e o Granato 2007. Nas terras das Dolomitas temos esses dois vinhaços, um produzido a partir de um corte bordalês e o outro um Teroldego in purezza… Precisamos falar mais dessa terra de grandes vinhos????
Somente como informação, vale ressaltar que no contra-rótulo dos vinhos Myrto e Granato da Foradori e do San Leonardo da Tenuta San Leonardo, temos descrito “Vignetti delle Dolomiti Indicazione Geografica Tipica”. O Foradori Teroldego Rotaliano é um DOC (Dominazione di Origine Controllata).
Saúde! Principalmente para quem pode sonhar em apreciar a vista das Dolomitas degustando um delicioso vinho da terra.
Os vinhos Ferrari e Elena Walch são importados para o Brasil pela Decanter – www.decanter.com.br
Os vinhos da Tenuta San Leonardo e Alois Lageder são importados para o Brasil pela Mistral – www.mistral.com.br
Os vinhos Foradori são importados para o Brasil pela WorldWine – www.worldwine.com.br