A cobertura do PPOW na entrevista com Sua Santidade
Em meio ao ciclo de palestras do programa de sua quarta visita ao país, Sua Santidade o Dalai Lama concedeu entrevista coletiva no WTC, em São Paulo, na sexta-feira, 16 de setembro.
Presente entre os principais veículos de mídia nacionais e internacionais, o PPOW registrou o evento e apresenta um resumo das declarações do Dalai Lama em resposta às perguntas dos jornalistas, sorteadas na hora.
De ótimo humor e disposição, o Prêmio Nobel da Paz (1989) e líder religioso da resistência pela liberdade e independência do Tibet falou sobre o que considera essencial para que países e povos possam se desenvolver e conviver em harmonia, segundo a compreensão e a compaixão, o respeito à liberdade e à valorização da ética.
Participaram da mesa, além de Sua Santidade, o monge Geshe Lhakdor, o tradutor Manoel Vidal e Lia Diskin, da Associação Palas Athena.
“A convivência nasce do diálogo que celebra nossas diferenças.”
“Estou aqui, falando com vocês, como um ser humano, como um dos sete bilhões de seres humanos na Terra.”
“Basicamente, somos iguais. Nossas diferenças, físicas, emocionais, religiosas, culturais, se situam em um nível secundário. Muitos dos problemas criados pelo homem são devidos à importância que se dá ao secundário, esquecendo dessa unidade primária que há entre todos nós.”
“É preciso criar consciência sobre o nosso planeta azul e sobre a igualdade entre os seres humanos que o compartilham. Esse planeta azul é a nossa casa e é dela que devemos cuidar.”
“Há diversas religiões e conflitos acontecem por isso. Essas diferenças são exploradas por pessoas mal intencionadas política e economicamente, que manipulam os conflitos em nome da religião. Devemos promover a harmonia entre as diferentes tradições religiosas. Há diferenças filosóficas, mas acima disso devemos cultivar a compaixão, o amor, o perdão e também a moral e a ética para alcançar harmonia.”
“Todas as religiões têm o potencial de trazer mais ética.”
“Talvez a mídia não se interesse tanto pela harmonia, porque como sabemos os fatos mais noticiados são as catástrofes, mas vocês (jornalistas) têm um papel a desempenhar na promoção desses valores. Vocês podem também mencionar a conscientização desses valores. Vocês precisam ter um nariz de elefante, uma tromba, para farejar os fatos de todos os lados, não apenas o que está à frente, mas o que se esconde atrás. Em todas as profissões há distorções e corrupção, por isso é importante investigar completamente os fatos para depois informar, com uma reportagem honesta e objetiva.”
“A oração e a meditação são como recargas para nossa bateria interior. Sou um monge budista, mas sou péssimo praticante (risos). Mas quando encontro outras pessoas não pratico a raiva, o medo… Essa é a verdadeira prática religiosa; é aplicar no dia-a-dia o que você recarregou antes. Quando você tem essa atitude dentro do templo mas não fora dele, isso não é prática. É a mesma coisa com o alimento que te dá energia e você gasta. É assim com a oração e a meditação, elas te dão energia para você “gastar” no dia-a-dia.
“Paz entre os povos ou conservação da natureza? Precisamos dos dois igualmente! Seria como dizer o que é mais importante: a comida ou a bebida? Não vivemos apenas com um ou outro.”
“No futuro da humanidade, a religiosidade tem seu papel mas é preciso que aceitemos sua diversidade, seus diferentes apelos. As pessoas têm diferentes posições mentais. Para algumas, a existência de um único Deus criador é muito eficaz e preenche suas necessidades de credo. Para outras, essa ideia não encontra eco, pois estão mais sintonizadas com uma religião que não tem um Deus criador, como no Budismo, em que tudo acontece pela vontade da própria pessoa. Ao conviver e aceitar essas diferenças, não fazendo delas motivo de conflitos manipulados, o homem alcançará um futuro harmônico.”
Fotos Alessandra Przirembel Angeli