Amantes de vinho pagam dezenas de milhares de reais por uma garrafa

Rótulo do mais cobiçado vinho do mundo, o Romanée Conti 1985

Quanto vale um sonho? O milionário americano Charles Simonyi, por exemplo, sonhou ir à orbita do planeta Terra e pagou caro para realizar uma breve viagem. Foram 25 milhões de dólares por 2 semanas lá nas alturas.

Sonhar vale para todos. Valem sonhos dos mais simples aos mais complexos. Valem para qualquer gosto, idade, tamanho e preço. Mas o que vale mesmo quando se fala em sonho é a paixão, afinal os sonhos em todo mundo são movidos por paixões!

A indústria de bens de consumo, seja ela qual for, vive de gerar sonhos para seus consumidores. São inúmeros os exemplos de produtos Ultra Premiumque povoam o imaginário das pessoas como relógios, perfumes, bolsas, sapatos, viagens e etc, mas nesse artigo vamos nos dedicar a desvendar quais são os vinhos mais desejados do mundo.

O mega milionário Charles Simonyi pronto para o embarque

No “mundo do vinho” grandes aficionados e colecionadores desejam degustar ou ter em sua adega privada os ícones da vitivinicultura mundial.

Vamos elencar a seguir quais são os sonhos de consumo de enófilos mundo afora, tanto no quesito tradição e requinte quanto no quesito raridade e novidade. Esses últimos quase sempre são denominados Cult Wines. Alguns chamam os vinhos muito caros e produzidos em ínfimas quantidades de Garage Wines. Seja Cult seja Garage, o que esses vinhos têm em comum são preços elevadíssimos.

Nessa semana vamos falar dos Grandes Vinhos Franceses, nas próximas semanas vamos nos dedicar a Italianos, Espanhóis, etc.

França – A maioria dos Sonhos dos Enófilos

A França é o grande berço quando o assunto é “Vinhos TOP”, ou seja, a maioria dos vinhos mais especiais e caros do mundo é sem dúvida da terra de Sarkozy. Só para lembrarmos a mística do vinho Romanée Conti. Esse vinho ganhou grande repercussão aqui no Brasil quando o publicitário de Lula presenteou o então presidente recém eleito com uma garrafa desse monumental vinho, safra 1998. Nosso ex-presidente antes de assumir seu 1º mandato na presidência degustou o mais cobiçado vinho do planeta, sonho dos sonhos de quase todos os enófilos.

A sorte de Lula é tão grande que mesmo não sendo enófilo, realizou o sonho de muitos. Acho que essa preciosidade líquida deu sorte a ele. Não deu? Provar esse vinho é uma experiência para poucos!  O impressionante é que a procura por esse vinho tem crescido a cada safra. Um fenômeno para deixar qualquer especialista em marketing encafifado, pois nem mesmo o todo poderoso Parker conseguiu deixar cair o interesse por ele, mesmo com suas baixíssimas pontuações para os vinhos da safra de 1998. Parker, crítico e especialista em vinhos potentes e a base de Cabernet Sauvignon e Merlot, só deu uma vez 100 pontos para o Romanée Conti, um Pinot Noir puro da safra 1985, e nem por isso esse vinho deixou de ser a Rolls Royce do mundo do vinho.  A sensação é que essa jóia da Borgonha está acima de tudo.

Além do 1985 que é unanimidade em termos de procura, as safras mais recentes de 1990, 1996, 1999, 2002, 2004 e 2005 são verdadeiras obras primas segundo os especialistas. Para se ter uma idéia de preços, é difícil, nos Estados Unidos, achar uma garrafa desse vinho por menos de 5.000 dólares. A última safra lançada no mercado europeu ano passado, a 2008, alcançou preços estratosféricos que chegaram perto dos 15 mil dólares para uma garrafa de 750 mililitros.

Mesmo com esses preços o mercado brasileiro é importante para o proprietário do Romanée Conti. Ele costuma vir ao Brasil para encontros com seus clientes e também com jornalistas.

Aubert de Villaine, em seus vinhedos na Borgonha

Em meados de 2008, Aubert De Villaine, o proprietário da Domaine, veio mais uma vez ao Brasil para visitar algumas cidades e em um de seus eventos por aqui, brindou com um grupo de jornalistas o lançamento completo de seus vinhos da safra de 2004.

Rótulo do La Tache 2004 degustado em 2008 - São Paulo com Aubert de Villaine

Além do Romanée Conti, Villaine produz outros 7 vinhos, sendo 3 deles, os tintos La Tache e Richebourg, seguidos do branco Montrachet (esse o mais imponente e disputado vinho branco do planeta), sem dúvida, parte integrante da lista dos sonhos de muitos enófilos. O La Tâche 1996 e o Richebourg 1999 são monumentais e estão no mesmo nível do próprio vinho principal da casa.

O mais espetacular Richebourg de todos os tempos, o 1999

Ainda na França temos mais um sonho de muitos enófilos, agora da comuna de Pomerol, situada na macro região de Bordeaux, o Petrus. Esse vinho diferentemente de outros bordoleses como os Chateaux Margaux e Haut Brion, que são produzidos há mais de 200 anos, nasceu no final século XIX.

O Petrus (não é Chateau Petrus e sim só Petrus) é produzido, quase sempre, a partir de 100% da uva Merlot e tem uma legião de seguidores pelo mundo todo. Foi em uma vertical (degustação do mesmo vinho de várias safras) que fez com que 4 executivos ingleses de um grande Banco fossem demitidos por causa de um jantar no restaurante de mesmo nome (Petrus), em Londres, após gastarem em 5 pessoas a bagatela de45.000 libras esterlinas (mais de R$ 150 mil). O pior é que eles pediram reembolso e foi por isso a demissão.

Só um deles conseguiu salvar a pele. Parece que esse fato que já tem mais de 8 anos era o prenúncio da crise financeira que recentemente veio à tona. A sensação é que com a crise financeira atual, de rasgar dinheiro deixou de ser prática usual. Sonho vale, mas não como pessoa jurídica. Certo?

O Petrus 1982, sonho de muitos enólfilos

Exposições e escândalos a parte o Petrus está entre os mais intensos e profundos vinhos do planeta. Para se ter uma idéia da longevidade desse vinho, o Petrus 1970, em 2002 quando tive a honra de prová-lo, ainda não estava pronto para “beber”. Será que está pronto hoje? Nos leilões tanto da Sotheby’s quanto da Christie´s, os Petrus estão sempre entre os mais disputados.

As safras de 1921, 1929 e 1945 são jóias raríssimas e restam pouquíssimas garrafas no mundo. As safras mais recentes como 1982, 1989, 1990, 1995, 1998, 2000, 2003, 2005, 2008 e 2009, estão entre as mais afamadas e desejadas por enófilos mundo afora. O preço básico de lançamento da extraordinária safra 2009 superou US$ 5 mil no mercado americano.

O caríssimo Chateau Lafite Rothschild 2000

O mais espetacular Mouton Rothschild das recentes safras, o mítico 1996

Ainda em Bordeaux temos alguns cult wines como Le Pin(talvez o mais Garage Wine dentre todos), Ausone, La Mondotte e Pavie como sensações, mas precisam de um pouco mais de tempo para se consolidar e estar ao lado do Petrus. Esses vinhos estão com seus preços superando, e em muito, tradições de Bordeaux tais como Chateau Mouton e Lafite Rothschild, além dos lendários Chateau Margaux, Haut Brion e Latour, que também são sonhos de quase todos os enófilos do planeta. Safras mais antigas desses vinhos, como Chateau Margaux 1900 e 1982; Latour 1945, 1961, 1990 e 2000; Mouton 1945, 1959, 1982 e 1996; Lafite 1982 e 2000; e Haut Brion 1961 e 1989, são vendidos em leilões a preços fora de qualquer controle. São verdadeiramente ‘ouro líquido’.

Da Borgonha temos alguns seguidores dos vinhos da Domaine de la Romanée Conti, como o Richebourg e o Clos de Vougeot do produtor Méo-Camuzet, o Musigny do Comté de Vogué, o Romanée Saint Vivant da Domaine Leroy, o Clos de La Roche da Domaine Dujac, o Chambertin Clos de Beze Vieilles Vignes de Dominique Laurent e o Chambertin de Armand Rousseau, dentre outros.

O extraordinário Clos de la Roche 1999 da Domaine Dujac

Vale ressaltar que o Clos de Vougeot é do ponto de vista artístico o vinho mais importante do mundo, pois foi esse vinho que acompanhou o prato principal, as “Cordornas no Sarcófago”, no filme “A Festa de Babete”. Um vinho que deveria ter concorrido ao Oscar por seu papel e importância nesse “delicioso” longa metragem.

O inesquecível Musigny Comte de Vogüé 1990, recentemente degustado

Degustar um Clos de Vougeot de um grande produtor é realmente um sonho. A grande maioria dos “loucos por vinhos”, os mais compulsivos, perdem a cabeça com os raríssimos e disputadíssimos vinhos dessa região, pois a Borgonha, com suas micro propriedades, produz quantidades muito pequenas, que fazem valer a lei da oferta e procura.

Para se ter uma idéia o preço de lançamento de vinhos Grand Cru da Borgonha tiveram, em muitos casos, seus preços multiplicados por de 5 a 8 nos últimos 10 anos, ou seja, de 400% a 700% de aumento. A vida dos enófilos está ficando cada vez mais difícil… Cada vez mais cara.

Ainda na França temos outra paixão inveterada que está na maioria dos sonhos dos amantes dos vinhos, os Champagnes. Beber um Champagne já é um privilégio, seja ele qual for, mas se entrarmos na mente dos sonhadores, todos querem ter a chance de provar um Krug Vintage ou um Salon, ou até mesmo um Krug Collection, esse último tão raro que nem em minhas duas visitas a Maison Krug, em Reims, nem cheguei perto de uma garrafa. Poucos sabem, mas champagnes non vintage, devem ser consumidos logo que chegam ao mercado.

Já os Vintages (safrados) de grandes casas podem durar meio século. Nos últimos anos tivemos safras espetaculares na Champagne como a de 1996, que está entre as melhores de sempre. Dos Krug Collection, o 1961 e o 1964, estão entre os mais valiosos vinhos com “bolinhas” do mercado e praticamente não tem preço de base.

Dos Krug Vintage, o 1988, é o mais grandioso dentre todos, pois além de tudo tem uma história curiosa.

 

O grande e longevo Champagne Krug Vintage 1988

O raríssimo Salon 1996

A Maison Krug pela 1ª vez em sua vida lançou um Champagne antes de uma safra subseqüente, pois a 1989 foi lançada antes da 1988, tamanha a certeza que a casa tinha de estar a frente de um dos champagnes mais longevos de todos os tempos. Provei em 2002 esse champagne e confesso que fiquei impressionado com a potência, elegância e profundidade. Um Champagne feito para durar.

 

Ainda sobre Krug, foi essa casa que lançou ano passado o mais caro Champagne de todos os tempos. U$ 3.500 ,base Estados Unidos, foi o preço de lançamento do Krug Clos D’Ambonnay Blanc de Noirs 1995. Dos Salon o 1996 é monumental. Tive o prazer de degustá-lo em 2007 em Mesnil-Sur-Oger, sede da propriedade. Foi sem dúvida o mais impressionante Champagne já degustado em minha vida. Um sonho realizado. Essa garrafa já é comparada aos fenomenais Salon 1982 e 1990.

Na semana que vem temos mais sonhos de enófilos.