Vinhos do Novo Mundo e Vinhos Doces são também sonhos para muitos enófilos

O mais cult de todos os vinhos dos USA, o Screaming Eagle Cabernet

Novo Mundo – Plena ascensão no mundo dos TOPs 

No novo mundo existem menos ícones quando o assunto são vinhos dos sonhos, mas já temos alguns com muita pompa e circunstância. A Austrália e os Estados Unidos encabeçam, por terem começado primeiro a produzir vinhos muito especiais, raros e caros. Na América o Napa Valley está no topo da lista com os melhores e mais procurados expoentes.

Screaming Eagle, Abreu Madrona Ranch, Araujo Eisele Vineyard, Shafer Hillside Select, Dominus (propriedade de Christian Moieux, o mesmo do Petrus), Caymus Special Selection e o badaladíssimo Opus One, fruto da união de Robert Mondavi e o Barão Philippe Rothschild, estão entre os mais procurados. A coqueluche dentre todos é o Screaming Eagle que alcança mais de 5 mil dólares por garrafa dependendo da safra. Foi com esse vinho que realizei há três anos mais um sonho de enófilo, pois tive o prazer de degustar o 2003.

4 dos mais sonhados Cabernet da California

Como foi meu 1º (e também o último) Screaming Eagle não consigo tirá-lo da cabeça até hoje. E para não ter dúvida do que estamos falando, o degustei ao lado do Cheval Blanc 1999, um vinho de estirpe. O Cult Screaming Eagle 2003 superou facilmente na minha avaliação o Cheval, principalmente pela impressionante profundidade e estrutura.

Um sonho raro, caro e excepcional. Além do sonho dos sonhos Screaming Eagle 2003, os destaques e sonhos degustados nos últimos anos são os Dominus 1992, 1994 e 1996, os Araujo Eisele Vineyard 1998 e 2002, os Abreu Madrona Ranch 1995 e 2001, os Shafer Hillside Select 1994, 1997 e 1999, os Caymus Special Selection 1994 e 2004 e por último os Opus One 1994, 1996 e 2005. Todos esses vinhos tem Cabernet Sauvignon como “espinha dorsal” e estão entre os melhores vinhos a base dessa casta produzidos no Planeta.

Quarteto de Espetaculares California Cabernet da sensacional safra 1994

Da Austrália temos dois vinhos que disputam o berço de cult dos cults do país. De um lado o grandíssimo Grange Shiraz do conglomerado Penfolds, que já levou o nome de Hermitage, uma alusão aos seus irmãos do Rhône na França também elaborados com a casta Syrah, e o Hill of Grace Shiraz da família Henschke. São dois dos vinhos mais robustos e encorpados do mundo.

Exemplos de sonhos como o Grange 1999 e o Hill of Grace 1998, que valem hoje mais de mil dólares a garrafa, também fazem parte constante do sonho de muitos loucos por vinhos.

Imponente Trio de Sonhos do Novo Mundo

Pois bem, todos os países buscam produzir seus objetos de desejo. O Chile hoje tem destaques como Almaviva, Altair, Viñedo Chadwick e Clos Apalta, sendo esse último, da safra 2005, consagrado em 2008 como o 1º e único vinho da América do Sul a receber o laurel de Wine of the Year da renomada revista americana Wine Spectator.

Um dos mais sonhados vinhos de nosso continente

O vinho já era especial e com esse reconhecimento se tornou ainda mais desejado, principalmente por brasileiros que adoram (e desgutam muito) vinhos chilenos. Dos Clos Apalta, além do 2005, temos o 1999, o 2001 e o 2006, como excepcionais e muito perto em qualidade do irmão mais afamado.

Dos Almaviva os destaques são o 1996 e o 2001, dos Viñedo Chadwick o 1999 e o 2006, dos Altair o 2003 e o 2006. A Argentina começou tarde na produção de vinhos high end, mas já tem o Noemia, um Malbec 100% da Patagônia, que custa quase R$ 400. Além do Noemia 2006, temos como sonhos argentinos o Ícono 2005 de Luigi Bosca, o Magdalena 2005 de Pascual Toso, e os colossais Nicolas Catena Zapata 1999 e 2004.

3 tintos dos sonhos da Argentina

Rótulo de um dos mais espetaculares vinhos de nosso continente

Esse último é um dos vinhos mais colecionáveis de nosso continente, pela longevidade, estrutura e intensidade. O Nicolas Catena Zapata 1999, um Cabernet Sauvignon predominante (82%) com o restante de Malbec, que hoje não tem preço de mercado (já está esgotado há muitos anos), é um dos mais imponentes, complexos e especiais vinhos que provei da America do Sul.

Em recente degustação às cegas com outros 6 vinhos a base de Cabernet Sauvignon ao redor do mundo, esse vinho provou que é mesmo sonho de enófilo, pois superou vinhos como Chateau Ducru Beaucaillou 1995, Penfolds Bin 707 1998, Joseph Phelps Insignia 1997 e o Almaviva 2001, dentre outros.

Um resultado surpreendente em todos os sentidos, mas provando que o novo mundo tem vinhos que estão no topo entre os melhores do mundo.

Vinhos Doces a preços estratosféricos

O Melhor Yquem degustado, o inebriante 1999

 

O vinho doce mais desejado por qualquer enófilo é produzido ao sul da cidade de Bordeaux, nas cercanias de um vilarejo chamado Sauternes, que produz um vinho doce de mesmo nome.

Dentre todos os Sauternes, diversos são excepcionais, mas temos uma verdadeira obra prima. Mesmo nas safras mais difíceis, nunca provei um que não fosse excepcional. Trata-se do ultra longevo Chateau D’Yquem, um vinho branco doce produzido a partir da casta Semillon.

O mais velho Yquem que provei foi o 1982, logo não posso comentar verdadeiras lendas como o 1975 e 1976. Dos degustados os destaques e sonho para qualquer enófilo são os Yquem 1986, 1990, 1999, 2001 e 2003.

 

Christian Vanneque com o sonho em suas mãos

 

O Chateau D’Yquem 1811 foi comprado pelo colecionador Christian Vanneque  junto a “The Antique Wine Company” ,em julho último, por 75.000 libras esterlinas. Essa garrafa registrou novo Guinness World Record, com o titulo de o mais valioso vinho branco de todos os tempos.

O sorriso de Christian com a garrafa do vinho de precisos 200 anos, em mãos, sem duvida, mostra que um sonho foi realizado. Não foi?

Poucos sabem que além de França e Itália (teve seu Vin Santo Occhio di Pernice comentado em nossa parte 2, dos sonhos de um enófilo na semana passada), os mais impressionantes vinhos doces do planeta são provenientes de 3 países, a saber: Hungria, Áustria e Alemanha.

Nesses países podemos encontrar vinhos doces com preços que chegam ao absurdo e às vezes até superam os preços do próprio Chateau D’Yquem. O primeiro destaque ainda da França são os Sélection de Grains Nobles (SGN), da Alsácia. Tenho certeza que o número de enófilos que sonham com vinhos doces é menor, mas se temos meias garrafas que alcançam mais de mil dólares, podemos concluir facilmente que existem sonhadores por trás desse fenômeno.

Da Hungria temos o Tokaji Eszencia, um líquido dourado, muito denso, graduação alcoólica baixa, acidez elevada e de doçura encantadora, que é sonho de enófilo sim. Uma pequena garrafa de 200 mililitros desse néctar dos deuses custa mais de 300 dólares, da safra corrente, sendo os mais antigos disputados como se fossem diamantes. Não posso me esquecer do Oremus Eszencia 1999. Um grande sonho realizado.

A obra prima liquida chamada Oremus Tokaji Eszencia 1999

Áustria e Alemanha produzem os vinhos chamados Trockenbeerenauslese (TBA) que são elaborados, como os Sauternes, os Sélection de Grains Nobles e os Tokajis, a partir de uvas atacadas pela Podridão Nobre – Botritys Cinérea. Dois produtores da Alemanha podemos chamar de craques na produção desses vinhos, são eles: Joh.Jos. Prüm e Egon Müller, ambos do Mosel-Saar-Ruwer.

O templo sagrado chamado Weingut Joh.Jos. Prüm

 

Para se ter uma idéia o Joh.Jos. Prüm Riesling Trockenbeerenauslese Mosel-Saar-Ruwer Wehlener Sonnenuhr 1971 já alcançou em leilões mais de 2.500 dólares por uma meia garrafa. Esse vinho, por exemplo, já com quase 40 anos, ainda tem mais 30 anos de evolução na garrafa.

Em 2010 degustei um dos mais espetaculares vinhos doces de minha vida e que continuará sendo um sonho ter uma garrafa em minha adega. O majestoso, sensual e inebriante Riesling Scharzhofberger Auslese Goldkapsel 2007 do Produtor Egon Müller. No mesmo dia quando da visita da herdeira de Egon Müller a São Paulo, degustei também o 1990, maravilhoso, mas menos impactante que o jovem 2007.

 

O encantador Riesling Auslese de Egon Müller

Na vizinha Áustria temos um sem número de grandes produtores, mas um se destaca dentre todos. O nome do produtor é Kracher. Essa casa elabora mais de uma dezena de Trockenbeerenauslese e todos, sem exceção são sensacionais, mas o destaque é o No 6 Scheurebe Trockenbeerenauslese Zwischen Den Seen 2002, um sonho de vinho pela sua maravilhosa doçura e pela novidade, pois é produzida pela casta Scheurebe, uma “especialidade” austríaca.

Os TBA de Kracher estão no mesmo nível de seus co-irmãos alemães citados acima, do Chateau D’Yquem, do Tokaji Eszencia da Oremus e do Domaine Weinbach Gewürztraminer Furstentum Quintessence de Grains Nobles. Esse SGN alsaciano, da safra 2001, ao lado do já citado Scharzhofberger Auslese Goldkapsel 2007, foram os dois mais espetaculares vinhos doces de toda minha vida.

Rótulo do mais espetacular vinho doce da Alsácia

Pessoalmente esses dois vinhos superaram por pouco, em minhas avaliações,  os estupendos  Yquem mencionados acima.

Para não deixar de mencionar um branco doce do novo mundo, a África do Sul tem em um vinho doce, seu maior ícone e sonho de muitos. Ele tem muita história, pois fazia parte da lista de preferidos de Napoleão Bonaparte. Seu nome é Vin de Constance do produtor Klein Constantia. Uma tradição elaborada por uma casta rara chamada Muscat de Frontignan. Das diversas safras provadas desse néctar sulafricano destaco os inesquecíveis 1997 e 2005.

Os Nectares Austríaco e Sul Africano

Um brinde a todos que tem como compromisso produzir vinhos que inspiram os sonhos dos amantes dessa nobre bebida, a mais elegante e fantástica dentre todas… E que nossos sonhos de enófilo continuem vivos por muito tempo, sejam eles quais forem!