Brancos deliciosos que esbanjam vida e frescor

Cacho da Sauvignon Blanc

Eu me sinto um verdadeiro defensor do vinho branco. A cada dia que passa vejo o consumo por esse estilo de vinho aumentar, mas confesso que ainda tenho amigos, conhecidos, leitores, etc., que pensam que vinho é sempre tinto. Para a alegria dos fãs de vinhos brancos a boa noticia é que esse vinho tem recuperado espaço no mundo todo, principalmente para aqueles que são amantes da cultura da enogastrononia. O vinho branco tem sempre espaço em uma boa mesa, principalmente quando o objetivo é harmonizar.

Já falamos sobre isso, mas vale à pena repetir. Alguns pratos com vinho tinto não harmonizam. Ostra fresca com Malbec, por exemplo, não dá!! Linguado grelhado com Cabernet Sauvignon é pura guerra em suas papilas gustativas. Então, ficar só nos tintos, ainda mais no verão, é tarefa difícil. Por isso, vamos sugerir vinhos produzidos a partir da uva que tem a cara dessa estação. A uva em questão tem no primeiro nome o sobrenome da uva tinta mais importante do planeta. Adivinhou?

Estamos falando da especial, versátil e deliciosa Sauvignon Blanc. Essa uva, que tem a cara dos trópicos, tem origem na França e para nossa sorte foi migrando aos poucos para muitas regiões do mundo. Hoje se firma, ao lado da Riesling, como a segunda mais importante ‘uva branca’ do planeta, atrás somente da multi-cultivada Chardonnay, que aliás, acabou virando moda em hollywood, quase como sinônimo de vinho branco.

A Sauvignon Blanc tem origem na região de Bordeaux e se consagrou com brancos do leste do Vale do Loire, uma região que produz alguns dos mais espetaculares exemplares dessa uva. Estamos falando dos deliciosos Pouilly Fumé e dos vibrantes Sancerre. Ambos são vinhos versáteis que podem ser apreciados logo após serem lançados no mercado, e outros, os mais especiais, podem evoluir e melhorar em garrafa por muitos anos.

Em Bordeaux quase sempre a Sauvignon Blanc faz parceria com a Semillon no blend dos grandes brancos secos dessa região. Temos em Bordeaux brancos espetaculares, mas dificilmente encontramos Sauvignon Blanc puros.

Geralmente as principais características de vinhos produzidos a partir dessa casta, são os toques herbáceos, as nuances de frutas cítricas e a presença mineral, sempre marcados por muito frescor, principalmente os que não foram nem fermentados nem envelhecidos em madeira. Já os fermentados e envelhecidos em madeira mostram mais complexidade e profundidade.

O interessante é que fora da França muitos países conseguiram fazer dessa uva um sinônimo especial de vinho branco. Esse é o caso da Nova Zelândia, por exemplo. Lá, a uva é plantada em todo o país, mas é na Ilha do Sul, mais precisamente ao norte, em Marlborough, que são produzidos os mais incríveis e frescos Sauvignon Blanc do Planeta.

No centro sul da Ilha Norte, mais precisamente em Martinborough, também podemos encontrar excelentes exemplares, que na maioria das vezes apresentam mais corpo e força, principalmente se comparados com os de Marlborough.

O mais cobiçado Sauvignon Blanc do Loire, O Pouilly-Fumé Baron de L da casa Ladoucette

A França, mais especificamente o Vale do Loire, como berço, e a Nova Zelândia, como a sensação, são mesmo os países mais destacados na produção de excelentes Sauvignon Blanc. Além dessas duas potências a casta é cultivada em diversos países do mundo. A Europa tem deliciosos brancos à base da casta em Rueda na Espanha e na Itália, com destaque para a região do Friuli que produz excelentes brancos denominados somente Sauvignon e não Sauvignon Blanc.

Do novo mundo a casta esta presente tanto na América do Norte, mais notadamente na Califórnia, como na América do Sul, onde tem presença importante no Chile, Argentina, Uruguai e Brasil. A África do Sul vem se esmerando na produção de ‘raçudos’ brancos a base da casta.

Para a matéria em questão degustamos 16 vinhos, sendo 5 da Nova Zelândia, 5 da França, 3 do Chile e um representante de cada país, África do Sul, Estados Unidos e Itália. Desses vinhos somente dois não são Sauvignon Blanc Puros, mas que tem a casta como predominância acima de 85%.

Todos os vinhos estavam em muito bom estado de conservação e de maneira geral estavam de bons a excelentes.

 

Trio de valiosos Sauvignon Blanc do leste do Vale do Loire

Dos 5 brancos franceses tivemos um painel muito interessante, pois tínhamos dois Pouilly-Fumé, sendo um  2006 e outro 2008, um Sancerre também 2008, um Cheverny 2010 e um Vin de Table Français de Touraine 2006 . O Pouilly-Fumé 2006 da renomadíssima casa Ladoucette estava evoluído, já com um tom mais amarelado, mas integro, com boa acidez, caráter mineral, suculento e repleto de vida. O ideal é que esse vinho seja consumido entre 1 e 6 anos de seu lançamento, ou seja, esse delicioso 2006 está prontíssimo para consumo.

Realmente um grande branco, que casou bem com vieiras grelhadas com toques de azeite extra virgem. A casa Ladoucette produz o mais espetacular Sauvignon Blanc dentre todos, o Baron de L. Esse super Sauvignon Blanc tem estrutura para evoluir em garrafa por 10/15 anos. O Sancerre 2008 de Pascal Jolivet estava reluzente, firme e muito fresco. Muito estruturado e ainda cheio de vida.

Detalhe do rótulo do delicioso Cheverny Le Vieux Clos 2010

O evoluído Puzelat Le Buisson Pouillex 2006

O Cheverny Le Vieux Clos 2010 produzido pela família Delaille é um inusitado blend de 85% de Sauvignon Blanc com 15% de Chardonnay. A Appellation D’Origine Contrôlé (AOC) de Cheverny obriga que a porcentagem de Sauvignon Blanc seja entre 60% e 80% da composição final, permitindo o uso de Chardonnay e outras castas “brancas” no blend.  Dificilmente temos vinhos compostos por essas duas uvas que tem estilos quase opostos. Independentemente de qualquer coisa, esse branco é estruturado, fresco e muito vivo. Um branco delicioso, cheio de charme e elegância.

Da AOC de Touraine, nas cercanias da belíssima cidade de Tours, provamos o bombástico e maduro Le Buisson Pouilleux 2006, produzido pela família Puzelat. É bombástico por ser o mais alcoólico de todos os brancos degustados para essa matéria (14,5º de Álcool).

Com relação ao seu desenvolvimento em garrafa, esse vinho se mostrou o mais evoluído de todo o painel, com toques frutas tropicais e boa untuosidade. Muito intenso e firme. Deve ser consumido nesse ano. Por último degustamos o Poully-Fumé Les Deux Caillou 2008 da casa Fournier Père et Fils.

Essa casa comandada pelo enérgico e simpático Claude Fournier produz sensacionais Sancerre e Pouilly-Fumé. Esse vinho foi o destaque entre todos os franceses ao lado do maduro Ladoucette 2006, pelo seu estilo. Um marcante e autentico Sauvignon Blanc do Vale do Loire, com acidez, toques cítricos e marca mineral na medida certa.

 

Luiz Gastão quando da visita da Loja Forunier no lindo vilarejo de Sancerre

O último europeu foi o Friulano Sauvignon Ronco dele Melle 2009, produzido pela casa Venica, no Collio, já quase na fronteira da Eslovênia.  Um branco profundo, cheio de vida, presença herbácea e um marca cítrica, com um final de boca eletrizante. Muito especial e diferente. Vale à pena provar.

O mais inusitado dos Sauvignon Blanc desgusatdos, foi o Friulano Ronco delle Mele

Indo para o outro lado do mundo, tivemos uma “briga” sensacional entre os Sauvignon da Nova Zelândia, sem duvida os mais “on fashion” Sauvignon Blanc do mundo hoje. Tínhamos na mesa 3 vinhos da safra 2010, coincidentemente todos de Marlborough, um 2009 de Martinborough, Ilha Norte, e por último um 2011 de Woodthorpe também da Ilha Norte. Normalmente os vinhos de Marlborough são mais frescos e mais diretos que os do Norte.

Como nosso painel foi significativo conseguimos atingir o objetivo para alcançar o que tínhamos proposto a realizar. Sem duvida os Sauvignon Blanc da Nova Zelândia são mais diretos e retos, com acidez marcante, toques herbáceos e cítricos, seguidos de um final mineral. De maneira geral os toques herbáceos são mais marcantes que os franceses e a marca mineral menos impactante.

O impressionante quinteto de Sauvignon Blanc da Nova Zelândia

Todos esses 5 vinhos tiveram excelente avaliação, variando entre 87 e 90 pontos, ou seja um tasting muito parelho. Os vinhos do Norte, o Te Mata Sauvignon Blanc Woodthorpe 2011 é um branco de corpo médio, cheio de vida e com final delicioso. Ainda do norte, tivemos o mais intenso dos Neozelandeses, o Craggy Range Te Muna Vineyard 2009.

Um vinho mais encorpado se comparado com os demais, apresentando mais corpo, sem deixar a marca cítrica e a fruta bem marcada. A razão para essa maior intensidade é devido a fermentação de parte do vinho (cerca de 15%) ter sido fermentada em barricas de carvalho francês. Muito gostoso.

Dos vinhos da Ilha Sul, todos de Marlborough, fizemos uma horizontal da safra 2010 (todos os vinhos da mesma safra). Uma briga sensacional entre eles com uma chegada eletrizante, pois todos estavam excelentes. A vitória, no photochart, foi para o Villa Maria Private Bin, com um empate técnico em segundo lugar entre o Hunter’s Jane Hunter e o Nobilo Icon.

O Villa Maria marcou mais por seu impressionante caráter mineral, seguido de toques especiados. O Nobilo se mostrou levemente mais fresco e com uma carga de frutas mais intensa. Por último o Hunter’s foi o mais fresco dentre todos, com muito bom equilíbrio entre acidez, álcool e fruta.

Partindo da Oceania em direção às Américas, demos uma “parada” na África do Sul. De lá provamos o “picante” Ataraxia Sauvignon Blanc 2010, produzido na região de Hermanus, a leste da Cidade do Cabo. Esse sem duvida ganhou o titulo de mais exuberante e intrigante dentre todos os brancos desse painel. Os toques herbáceos provocantes, a acidez, o caráter mineral e a fruta estão muito bem entrosados. Seu final de boca é eletrizante.

Um vinho que merece ser apreciado pelo seu estilo e persistência. Que tal com umas ostras frescas com toques leves de limão siciliano? A África do Sul produz diferenciados brancos em algumas de suas regiões, sendo as mais destacadas Constantia (infelizmente não provamos nenhum dessa vez), Stellenbosch e Hermanus. Vale destacar que Hermanus é responsável pela produção dos melhores Chardonnay do país de Mandela.

O Robert Mondavi Fumé Blanc 2008 foi o único representante dos Estados Unidos no painel. Produzido a partir de Sauvignon Blanc (mais de 90%) com o restante de Semillon provenientes do Vale do Napa. Apresentou um excelente conjunto, apesar de já apresentar certa evolução. Boa acidez e boa carga de fruta são os destaques dessa garrafa.

África do Sul e Estados Únidos também produzem bons Sauvignon Blanc

Logo na sequência tivemos 3 Sauvignon Blanc do Chile. Foram eles o Viña Bisquertt La Joya Reserve 2011, o Los Vascos e Quintay, ambos da safra 2010. O primeiro é elaborado com fruta do Vale de Colchagua e, os dois últimos, com fruta do Vale de Casablanca.

Esse Vale é de onde provém o maior numero de brancos do Chile, ao lado dos promissores Vales de Leyda e Limarí. Podemos afirmar que estamos à frente de bons vinhos brancos, mas que não podem ser comparados com os apresentados acima no quesito tipicidade. O caráter mineral desses chilenos é menos impactante principalmente se comparado com os franceses e neozelandeses.

O melhor desempenho dentre os Chilenos foi o Los Vascos, por apresentar mais complexidade tanto aromática quanto gustativa. O fresco e ultra jovem La Joya 2011 estava reluzente e pelo seu custo-benefício é uma excelente pedida para ser apreciado em um dia quente de verão à beira da piscina.

Dois frescos Sauvignon Blanc do Chile

Os vinhos Pascal Jolivet, Te Mata e Ataraxia são importados para o Brasil pela Mistralwww.mistral.com.br

Os vinhos Nobilo, Mondavi e Los Vascos são importados para o Brasil pela Inovini/Aurorawww.inovini.com.br

Os vinhos Delaille e Craggy Range são importados para o Brasil pela Decanterwww.decanter.com.br

Os vinhos Fournier Père et Fils, Venica, Hunter’s e Quintay e são importados para o Brasil pela Premiumwww.premiumwines.com.br

Os vinhos Puzelat e Bisquertt são importados para o Brasil pela WorldWinewww.worldwine.com.br

Os vinhos Ladoucette e Villa Maria são importados para o Brasil pela Vinci Vinhoswww.vinci.com.br