Quem é o sanguinolento ditador envolvido em crimes, homicídios e tráfico de diamantes?
Livro explora território desconhecido na história da África de forma soberba e diferente
A história do Zimbábue é desconhecida para muitos de nós. O que aconteceu naquele país? Quem o dominou? E as guerras, quem foram os culpados pelos conflitos? Como foi a dominação branca lá? Quem é o sanguinolento ditador envolvido em crimes, homicídios e tráfico de diamantes?
Essas respostas podem ser encontradas em Fora das Sombras (tradução de Marina Slade; Editora Bertrand Brasil, 308 páginas, R$ 35,00). O que me atraiu para esse livro foi a foto que ilustra a capa, que traz um garoto branco andando num cenário árido. E é essa a sensação de solidão, aridez e de se estar perdido que habita cada página do primeiro livro de Jason Wallace, que venceu prêmios como o Costa Children’s Book Award e o UKLA Children’s Book Award por esta obra.
Aqui, conhecemos o garoto inglês Robert Jacklin que, com 13 anos, se muda com os pais para o Zimbábue na década de 1980. Após anos de guerra pela independência, Robert Mugabe assume o poder prometendo esperança e liberdade. Mas uma parte da população não está satisfeita com essas mudanças e pretende lutar para voltar ao passado.
É justamente nessa luta que Jacklin se encontra: o garoto começa a lidar com situações em que ele fica dividido entre defender a “causa negra” e a “causa branca” – e é um garoto em especial chamado Ivan que vai cultivar o ódio dentro dele, dando um duplo sentido a alguns acontecimentos e colocando na cabeça do moleque que tudo de ruim que aconteceu na vida dele tem relação com a vinda para a África.
O sensacional dessa obra não é só esse trabalho sensível que o autor faz em construir esse sentimento dentro de Jacklin, mas também de saber como tratar com o fim da infância, as dores da vida, o ódio e as escolhas, além de explorar a história da África como ninguém nunca tinha feito antes. Temas como o colonialismo, o preconceito contra os negros, o bullying e a violência estão presentes na história, como se evidencia no seguinte trecho:
“O colonialismo é um ideal obsoleto que nunca funcionaria. Não importa quem você seja, não pode simplesmente fincar uma bandeira e reivindicar direitos sobre a terra dos outros. Esta é a África dos africanos. E o povo negro tinha todo o direito de se rebelar e usar a força”.
A linguagem é parecida com a que John Boyne utiliza em seu O Menino do Pijama Listrado, e se torna impossível largar o livro depois que a história começa a avançar. Vale como dica para aqueles que querem uma boa história, para aqueles que procuram por conteúdo ou simplesmente para ler e repassar para os conhecidos um livro que te faz refletir sobre as nossas escolhas e o nosso papel na história.
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