Degustação vertical histórica, de 16 safras do Seña, é o destaque da inauguração e coloca o vinho chileno no topo do mundo
Desde 2005 a vinícola chilena Seña é adepta da filosofia biodinâmica de Rudolf Steiner na produção de seus vinhos, mas agora, mais precisamente na semana passada, dá um passo importante para a indústria de vinho chilena e para o próprio país. Em 29 de outubro, dia de lua cheia, foi inaugurado o Seña Biodynamic Centre, localizado no próprio vinhedo, no coração do Vale de Aconcagua. O Centro foi desenhado para dar à filosofia e agricultura biodinâmica um espaço dimensionado para os rituais e métodos aplicáveis. Dessa forma, o Seña amplia o comprometimento firmado em 2005 em criar vinhos com sentido autêntico de origem através de uma agricultura autossustentável. Isso implica utilizar técnicas ancestrais que preservam o ciclo da fertilidade e biodiversidade na propriedade, com um profundo respeito pelos processos da natureza, inclusive na relação entre flora e fauna nativa.
Essa inauguração se tornou uma celebração de três dias, reuniu 140 personalidades do vinho que representam os diversos continentes onde Seña está presente. Eram jornalistas, colecionadores, importadores, dentre outros. A jornada começou no dia 27 de outubro, no Oceano Pacífico, em Viña del Mar e se estendeu até os Andes, no Valle do Aconcágua.
Seu colunista do PPOW estava lá e trouxe o destaque dessa festa: o painel internacional com a vertical de 16 safras do Seña, de 1995 (a primeira safra do Seña) até a última e recém-lançada 2010.
Aliás, essa vertical me fez relembrar outras duas, também muito importantes. Em 2006 o visionário, determinado e obstinado empreendedor chileno Eduardo Chadwick, proprietário do Seña, veio ao Brasil. Foi minha primeira vertical do Seña. Naquela ocasião provamos no Hotel Hyatt, em SP, quatro safras do mais reconhecido e renomado tinto chileno. Aqui vale mencionar que o Seña foi o 1º Grand Cru de fato do Chile. A segunda vertical foi ano passado, no Bar des Arts, em São Paulo. Na ocasião a degustação foi comandada pela enóloga assistente Carolina Herrera, que apresentou seis safras desse Grand Cru Chileno . Mas a terceira, que vamos destacar nessa matéria, foi a mais espetacular de todas.
Visão e determinação de um grande empreendedor
Eduardo Chadwick, herdeiro de um império vitivinícola no Chile, composto pelas renomadas Vinícolas Errazuriz, Arboleda, Caliterra, Seña e Chadwick, lançou o primeiro Seña safra 1995 e foi o pioneiro na prática da produção de vinhos ícones, que foi se proliferando nos anos seguintes. O projeto Seña foi uma joint venture entre Eduardo Chadwick e o saudoso e genial Robert Mondavi. O objetivo era elaborar um vinho de alma chilena com a tecnologia e força dos Mondavi, que na época dominavam a produção de vinhos premium na América do Norte. Robert criou um verdadeiro império que anos depois foi vendido para a gigante Constelation. Os Mondavi saíram da parceria, mas Chadwick continuou firme. Somente para entender cronologicamente, a 1ª safra do Almaviva foi a 1996, o Clos Apalta da Casa Lapostolle e o Montes Alpha M foram lançados com a safra 1997. Não há duvida que os melhores tintos do Chile são esses, somados ao também espetacular Santa Rita Casa Real. Recentemente esse quinteto recebeu mais uma companhia. Estamos falando do Viñedo Chadwick lançado com a safra 1999.
Esse tinto é o mais caro vinho chileno disponível no mercado hoje. Esse projeto de Eduardo é uma homenagem a seu pai Dom Alphonso Chadwick Errazuriz. As uvas que produzem esse espetacular tinto são oriundas de onde era antes o antigo campo de Pólo da família em Puente Alto, Vale do Maipo. Isso é só para dizer que esse homem é incansável e tem quase uma obsessão em produzir os melhores vinhos do Chile. O bom para nós é que a cada ano que passa isso fica mais claro. Esses dois vinhos, Seña e Viñedo Chadwick, estão entre os melhores tintos do Planeta com espinha dorsal da casta Cabernet Sauvignon. Disso Eduardo se orgulha muito, pois teve a coragem de colocar desde a cata de Berlin de 2005 seus vinhos TOP ao lado dos melhores Grand Cru Classé de Bordeaux e Super Tuscans. Na Famosa Cata de Berlin, seus vinhos Viñedo Chadwich 2000 e Seña 2001 derrotaram nada mais nada menos que Chateau Margaux, Lafite e Latour safra 2000, dentre outros. Não podemos esquecer que esses grandes tintos franceses estão entre os mais renomados tintos do mundo e para não deixar por menos, todos da extraordinária safra 2000.
Vertical Histórica – dia 29 de outubro de 2012
O conceito de uma vertical é degustar o mesmo vinho de safras diferentes. No caso dessa histórica degustação estamos falando de 16 safras do vinho Seña, desde sua primeira versão, o 1995 até o 2010, recém-lançado. A vertical aconteceu no dia 29 de outubro último, no Hotel Termas de Jahuel, nas cercanias da cidade de San Felipe, ao norte de Santiago.
Seña 1995: o que vem a cabeça é um vinho chileno à base de Cabernet Sauvignon, porém com um estilo de um excelente tinto de Bordeaux. Rubi mais claro se comparado com os irmãos mais novos. Levemente turvo e com um pouco de resíduos sólidos. Muito evoluído nos aromas com toques de couro, especiarias (louro), alcaçuz, tostados com a fruta negra ainda presente. Um “Bordeaux” na acepção da palavra. Pronto para ser apreciado, não devendo ser guardado por mais tempo. Deve ser consumido logo. Delicioso. Sua composição é 70% Cabernet Sauvignon e 30% de Merlot e Carmenère. 88 pontos.
Seña 1996: estava muito diferente do 1995, mais formal e com uma percepção de doçura mais tímida. A fruta negra madura está super presente. Muito elegante e fino. Também lembra um Bordeaux. Mais ainda para o estilo clássico. Em boca excelente, delicioso. A mais bela lembrança de um grande Seña do último milênio. Marcou por sua elegância e equilíbrio. O menos alcoólico Seña dentre todos. Seus 12,6º de álcool é coisa rara nos dias de hoje. Uma deliciosa surpresa, pois 1996 não foi uma safra reluzente no Chile. 92 pontos.
Seña 1997: estava mais vivo e ainda mais pungente que o que já havia sido degustado dois dias antes no jantar de abertura no Sheraton de Viña del Mar. Também com o marcante estilo Caberrnet Sauvignon de ser. Um tinto repleto de estilo com a fruta presente, madeira na medida e um final mineral. Excelente em boca, taninos deliciosos e um final de boca marcante. Por incrível que pareça estava mais evoluído que o 1996. Sua composição final é 84% Cabernet Sauvignon e 16% de Carmenère. Também clássico e com mais alguns anos de evolução em garrafa. 90 pontos.
Seña 1998: foi o menos impactante, porém com excelente frescor em boca. Se comparado com os irmãos mais velhos tem menos “pegada”, mas é delicioso. Os aromas de frutas negras estão bem postados e o retrogosto é muito agradável. Pronto para o consumo. 90 pontos.
Seña o 1999: O mais surpreendente. Bem mais verde e herbáceo se comparado com os primeiros Seña. Esse fator provavelmente se dá pela representativa quantidade de Merlot (16%) e Carmènere (9%) no blend final, que é completado por 75% de Cabernet Sauvignon. O mais chilean style da década de 90. Final de boca delicioso, com um frescor marcante. Um tinto para acompanhar um rack of lamb. 92 pontos.
Seña 2000: O badalado e famoso, que fez muito bonito na “Cata de Berlim”. Ainda estava bem fechado, mas com uma força impressionante. Imensamente fino, com elegância de sobra. Um dos grandes tintos de nosso continente. Fruta, acidez, álcool e madeira em total consonância. Uma obra de arte. 94 pontos.
Seña 2001: Esse vinho já foi eleito por mim como o melhor em duas degustações verticais anteriores. O que mais impressiona é que com o tempo, esse vinho vem se tornado ainda melhor. Sublime no olfato, muito equilíbrio entre a fruta, os toques especiados, a madeira e o caráter mineral. Um vinho espetacular no conjunto aromático. Em boca é delicioso, rico, aristocrático, clássico e com um final de boca sensacional. Situa-se no intermezzo entre a classe de um Grand Cru de Bordeaux e um top tinto chileno. Tem a elegância de um grande Cabernet Sauvignon de Bordeaux, mas com um toque leve herbáceo que o diferencia, registrando a marca dos grandes chilenos. De fato estamos à frente de um Bordeaux com sotaque chileno. A sensação de seu frescor em boca é perto da perfeição. Único, inesquecível e colecionável. A composição final desse ícone chileno é 74,9% Cabernet Sauvignon, 15,1% Merlot, 6.3% Cabernet Franc e 3,7% Carmenère. 96 pontos.
Seña 2002: foi de fato prejudicado, mas por um motivo muito simples. Foi degustado logo após dois monumentos ,os Seña 2000 e 2001, e isso lhe custou um pouco. Um pouco mais “verde”, mas repleto de precisão, apesar de ser de um ano mais frio. Interessante seu final de boca. De certa maneira lembra o 1998. 90 pontos.
Seña 2003: foi o que maior percepção de doçura apresentou até aquele momento do painel. Gordo, rico e alcoólico (potentes 14,5º). Apresentou fruta de sobra no nariz. Sente-se uma marmelada de frutas negras e vermelhas muito maduras. Os toques herbáceos estão mais integrados hoje que ano passado (fez parte da degustação das seis safras no Bar des Arts em 2011). Não se sente tanto o “verde” como no ano anterior, o que me leva a concluir que mais um ano de garrafa lhe fez bem. Madeira bem postada e sem exageros. Um grande vinho para apreciadores de tintos com bastante corpo e força. Vale destacar que 2003 foi uma safra muito
quente e esse 2003 era até o momento o Seña que mais Merlot possui (40%). Esse vigoroso tinto teve seu blend final composto pelos 40% de Merlot citados com 6% de Carmenère, 2% de Cabernet Franc e restante, 52%, de Cabernet Sauvignon. 91 pontos.
Seña 2004: estava muito firme e rico nos aromas. Mais um Seña com menos Cabernet Sauvignon (composição final 51% Cabernet Sauvignon, 35% Merlot, 6% Carmènere, 5% Caberent Franc e 3% Petit Vedot). Mais fruity, de estilo mais moderno. Seus aromas são sublimes com a fruta negra exibindo um delicioso caráter. Boca intensa e cheia. Retrogosto marcante e muito firme. Esse foi o primeiro Seña que levou Petit Verdot em seu blend final. 91 pontos.
Seña 2005: estava mais clássico, principalmente se comparado com o 2004. Perfumado com fruta e alegria no olfato. Muito bem integrado e com um charme marcante. Seus taninos são extremamente bem formados. Especial e com um final de boca muito longo e persistente. Clássico e com muita vida pela frente. 92 pontos.
Na sequência tivemos uma dupla os Seña 2006 e 2007, que haviam brilhado muito no ano passado, brigando cabeça a cabeça pela segunda posição.
Seña 2006 é uma bomba de tanta fruta madura nos aromas. Perfumado e cheio de vida. Seu buque é provocante e sensual. Em boca ainda é jovem e cheio de estilo. Quase mastigável de tão intenso. Um dos mais modernos Seña de todo o painel. Delicioso e muito indicado para os apreciadores de vinhos encorpados e marcantes. Seu blend final é 55% Cabernet Sauvignon, 16% Merlot, 6% Cabernet Franc, 10% Carmenère e impressionates 13% de Petit Verdot. Aparentemente esse ano foi um ano onde o estilo do Seña mudou um pouco. Não se sente mais quase nada herbáceo por aqui. 2006 foi muito quente, principalmente no final da temporada. Mais um grande Seña. 93 pontos.
Seña 2007: é mais um Seña que apresenta extrema alegria. Muito alegre e cheio de vida. Um pouco menos moderno, mas também intenso. Taninos de excelente modelagem. Finos e muito integrados. O mais especiado e peperry do painel até o momento. Tem um estilo semelhante ao 2006, mas com um pouco mais de força e presença. Um vinho de classe mundial que deve ser apreciado entre 2013 e 2020. Sua composição é 57% Cabernet Sauvignon, 20% Carmenère, 12% Merlot, 6% Cabernet Franc e 5% de Petit Verdot. Um tinto de tirar o folego e de deixar muitas saudades. 95 pontos.
Seña 2008: foi de fato uma gratíssima surpresa, pois afinal de contas era a primeira vez que o provava. Muito rico mesmo em sua plena juventude. Sensacional balanço entre seus componentes. Taninos exuberantes e muito bem constituídos, acidez marcante, madeira precisa no conjunto e fruta abundante. Tem potencial para muitos anos. Deve estar muito melhor daqui 2 anos. Blend final: 57% Cabernet Sauvignon, 20% Carmenère, 10% Merlot, 5% Cabernet Franc e 8% de Petit Verdot. Grandíssimo Seña. 94 pontos.
Seña 2009: também surpreendeu, pois apresenta muita estrutura e elegância. Um tinto diferente com uma pegada marcante. Se comparado com os últimos três degustados marcou menos, principalmente se comparado no quesito balance. Mesmo assim estamos falando de um delicioso tinto, com muita vida pela frente. 92 pontos.
Como diria os mais românticos o bom mesmo é ter um Gran Finale. Pois bem, foi isso que aconteceu, pois o Seña 2010 brilhou muito. Apesar de ainda ser uma “criança” é um tinto Blockbuster, muito alegre e cheio de vida nos aromas. O conjunto aromático é vibrante, algo mágico, inebriante. A fruta é abundante muito presente, a madeira está milimetricamente integrada ao conjunto. É elegante e de estilo moderno ao mesmo tempo. Um tinto enigmático e muito sensual. Em boca é sensacional e confirma o que havia sido detectado no nariz. Muito vivo e moderno, sem deixar de ser muito elegante. Seus 14º de álcool estão excelentemente bem postados no conjunto. Vale destacar que os últimos quatro Seña degustados tinham 14,5º de álcool. Um fenomenal Seña que estará evoluindo sobremaneira nos próximos 15 anos. 95 pontos.
Conclusões e Ranking Final do Painel de mais de 100 especialistas
Logo ao final do tasting, o competente enólogo chefe do conglomerado Chadwick, Francisco Baetig, que conduziu o tasting com enorme precisão solicitou a todos os participantes elegerem seus três Seña preferidos, na ordem de 1º a 3º colocados. O Resultado final foi muito interessante.
A medalha de ouro fico com o Seña 2007, seguido do 2010 e do 2001.
Pessoalmente foi mais um dia de muita alegria, pois pela terceira vez consecutiva escolhi o Seña 2001 como meu medalha de ouro. A minha prata foi para o 2010, com o 2007 levando o bronze. Me deu muita satisfação ainda ouvir em alto e bom som de Francisco Baetig, que seu campeão também havia sido o 2001.
Depois de três degustações às cegas com esse que é sem dúvida um dos mais especiais vinhos de nosso continente tenho a satisfação de eleger o Seña 2001 como o mais espetacular vinho Sul Americano degustado ever. Palmas para o incansável Eduardo Chadwick, que cumpriu com seu sonho de produzir grandes tintos em terras chilenas.
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Se quiser saber mais sobre:
Degustação Seña do ano passado com Carolina Herrera:
Seña: o primeiro grand cru chileno
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Os vinhos Seña são importados para o Brasil pela Expand – www.expand.com.br
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