Graphic novel infanto-juvenil explora região e cultura desconhecida da África Ocidental em obra de altíssima qualidade
Quando resenhei comecei a escrever a resenha de A Narradora das Neves: Uma Aventura no País Inuit, comentei que a proposta do CurauComU sempre foi explorar culturas desconhecidas e se aprofundar nas histórias do mundo.
Esta série infanto-juvenil lançada pela Editora Nemo e que explora os rituais, crenças e costumes de diversas partes do mundo é o que melhor se encaixa nessa proposta. Além disso, é uma obra de refinada e única qualidade e que muito me lembra alguns livros que lia quando criança e me levavam a descobrir outras culturas e costumes.
Com O Apanhador de Nuvens: Uma Aventura no País Dogon (tradução de Fernando Scheibe; Editora Nemo, 48 páginas, R$ 24,00), a dupla francesa Béka & Marko continua com esse instigante trabalho de difundir a cultura, agora explorando uma região desconhecida da África Ocidental.
A HQ acompanha a rotina de uma vila Dogon – povo que habita o Mali e Burkina Faso e vivem em aldeias penduradas nas escarpas de Bandiagara, ao leste do Rio Níger – durante um período de extrema seca. A falta de água ameaça as plantações. Preocupados, os anciões perguntam ao chacal se a situação vai melhorar, mas os vestígios deixados pelo animal na mesa de adivinhação não dão qualquer esperança. Nem mesmo as cerimônias com tambores ajudam.
Resta no jovem Amakalá uma pequena chama de esperança. Além de uma curiosidade normal à sua idade e disposição em ajudar o pai no campo, ele possui o dom de encontrar em seus sonhos a máscara que traz todas as novidades ao seu povo. Amakalá acredita que a solução para o problema da seca está no “apanhador de nuvens”, um totem que fica no Altar do Binou para atrair as nuvens e fazer chover. Para isso, ele conta com a ajuda de seu amigo Iemená, garoto dotado de um humor inteligente e sagaz, mas de temperamento cauteloso.
Os dois decidem então colocar um plano em ação e levar o objeto para as nuvens e fazê-lo funcionar custe o que custar. Só que tudo sai do controle quando o apanhador é roubado e os dois precisam resgatá-lo a qualquer custo.
Assim como A Narradora das Nuvens fez com os inuits, Béka & Marko exploram de maneira criativa, informativa e inventiva a cultura Dogon, tornando o livro uma oportunidade para jovens leitores – e também leitores mais velhos e curiosos – descobrirem as tradições desse povo fascinante, desde seu modo de viver, crenças e ambiente, até sua organização social com grupos e funções definidos. Todos os elementos são reunidos no fio de uma deliciosa narrativa de desenhos envolventes, que mesclam perfeitamente a ação e o cenário. As cores, quentes e suaves, complementam a ambientação.
Com O Apanhador de Nuvens fica mais uma vez o convite para explorar um ambiente desconhecido, rico e mágico: afinal, a cultura de cada povo é a verdadeira riqueza da humanidade.
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