Em livro de memórias, vencedora do prêmio Nobel narra como enfrentou um regime ditatorial com solidariedade, fé e greve de sexo
Esta não é apenas mais uma história que envolve um momento de coragem e inspiração: é uma história de solidariedade sobre uma pessoa que, com gestos pequenos, começou a conquistar um mundo dominado pela guerra, injustiça e poder.
Leymah Gbowee venceu o Nobel da Paz em 2011. Ela foi um dos elementos chaves para derrubar o ditador Charles Taylor do governo liberiano em 2003, e essa história é contada no extraordinário livro Guerreiras da Paz (tradução de Donaldson M. Garschagen; Cia. das Letras, 304 páginas, R$ 39,50), escrito em parceria com a jornalista Carol Mithers.
Ex-ditador Charles Taylor
O livro de memórias explora o período que vai de 1989 a 2003 e envolve uma guerra civil que devastou a Libéria e o regime de Taylor, que, em abril de 2012, foi julgado e condenado como responsável por crimes contra a humanidade durante a guerra em Serra Leoa, se tornando o primeiro ex-chefe de Estado condenado pela justiça internacional.
O antigo presidente da Libéria, que ficou no poder de 1997 a 2003, criou e colocou em andamento uma campanha de terror com o intuito de controlar Serra Leoa e explorar suas minas de diamantes, resultando uma guerra civil que deixou mais de 120 mil mortos entre 1991 e 2001.
O Tribunal Especial para Serra Leoa já havia condenado em Freetown oito pessoas por crimes cometidos em Serra Leoa, com penas entre 15 e 52 anos. O antigo presidente liberiano, que se declarou inocente, enfrentava no total oito acusações: crimes contra a Humanidade e crimes de guerra, incluindo assassinato, violências sexuais e pilhagem, cometidos entre novembro de 1996 e janeiro de 2002.
Num gesto de coragem, Leymah se tornou uma das mais importantes ativistas africanas e foi responsável por modificar toda a cultura do medo daqueles que vivia ao seu redor e abrir mãos de seus sonhos para lutar. O relato da autora é pessoal e importante, já que o papel das mulheres dentro dos conflitos normalmente é deixado de fora ou esquecido pelos livros de história.
Leymah viu cair por terra o sonho de se tornar médica e precisou fugir em meio a corpos de conhecidos assassinados. Ela passou de uma mulher impedida de abandonar um casamento fincado em violência física e humilhação a uma vencedora que conseguiu superar as adversidades para se tornar consolo, motivação e inspiração de milhares de mulheres na Libéria e em outros países para onde continua a levar sua experiência.
Sua voz ecoa através das palavras do livro – impecavelmente escrito, já que as descrições fazem com que vejamos as casas, sintamos o cheiro da comida e nos encolhamos diante dos horrores da guerra -, narrando os momentos tristes e deprimentes, bem como as conquistas, sem nunca ceder ao drama ou à vaidade ou tornar o povo uma simples vítima.
A autora entra naquele seleto grupo de escritoras – e de mulheres – que fizeram história e mudaram o mundo com um pequeno gesto que alcançou proporções imensas e fizeram a diferença.
Guerreiras da Paz é um livro onde a coragem, acima de tudo, fala mais alto e mostra como o poder de uma pequena ação é importante.
Imagens: Reprodução
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