Depois de Che, eis que surge outro argentino revolucionário
Eu não sou católico, na verdade, nem cristão. Alguns poucos séculos atrás isso talvez pudesse me render uma fogueira, mas os tempos são outros, os radicais mais perigosos hoje vem de outra vertente, e quem comanda a igreja é um bom velhinho, simpático, argentino e que está virando do avesso o que significa o papado. (Antes de criar inimizades, melhor explicar que bom velhinho é figurativo, a considerar pela minha meta pessoal de longevidade, ele é jovem e cheio de energia para dar e vender).
Bergoglio começou logo na largada escolhendo um nome artístico óbvio e até então ignorado por seus antecessores: Francisco. O de Assis dizem que foi um jovem bem de vida entre os séculos XII e XIII e que um dia renunciou a tudo para viver uma existência de dedicação aos pobres. Bergoglio homenageou assim o que entendo ser a essência do cristianismo.
No dia seguinte ao conclave, já Francisco, foi à recepção do hotel onde se hospedou para pagar a conta. Que tenha sido apenas um gesto, a imagem do bom velhinho de branco no balcão é ótima, quebrou tudo. Eu imaginaria mais um manto de veludo vermelho, um cetro de ouro, aquele chapelão pontudo cravado de diamantes e a bajulação de um séquito luxuoso (ranhetice minha), mas o Bergoglio quis mostrar simplicidade, registrou sua marca. Depois ainda veio aquela do trono; sai a suntuosidade dourada e rebuscada, entra a cadeira de madeira. Li até que trocou os aposentos papais por uma acomodação mais modesta (eita!). Combinou melhor com os ensinamentos do mestre “carpinteiro”.
Quanto à conduta na gestão da casa, não acompanho tanto o assunto para poder avaliar direito, mas me parece que andou pegando firme com aqueles temas todos que levaram o alemão antes dele a espanar. Determinou investigações aos molestadores de criancinhas, está se esforçando para varrer burocratas corruptos da organização e reformando o escandaloso banco do Vaticano. Admitiu erros, pediu desculpas, desenrijeceu dogmas e se aproximou do povo.
No último final de semana Jorge Mario, o jesuíta com mestrado em química (sim, sim, um cientista!) foi passear pelo barril de pólvora. Primeiro foi à Jordânia, depois passou pela Cisjordânia e finalizou em Israel. Visitou e rezou em lugares sagrados para judeus e muçulmanos, defendeu a criação do Estado da Palestina, beijou a mão de sobreviventes do holocausto e convidou os lideres dos dois lados a visitarem juntos o Vaticano para um encontro de orações. Enfim, deu aula de política externa. Danado de bom esse velhinho!
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