Candidato a Deputado Federal pelo Partido Verde, Alê Youssef se impõe a missão de atrair o interesse do eleitorado jovem ao adotar um desafio como tema de campanha: “O que é novo para você?”

Por Ivone Santos

O paulistano Alexandre Youssef é formado em Direito pela Universidade Mackenzie. Professor de Ética e Cidadania e de Política Contemporânea, no universo da política já atuou como Assessor Especial do Ministro da Justiça José Carlos Dias (entre 1999 e 2000), Coordenador da Juventude da Prefeitura de São Paulo, gestão Marta Suplicy, e diretor da campanha de Soninha Francine, eleita para a Câmara Municipal de São Paulo e de quem foi Chefe de Gabinete por dois anos.

Desde 2005, é sócio do Studio SP, casa de shows e artes, um dos criadores do Overmundo, o primeiro site brasileiro de web 2.0, 100% colaborativo, e do Instituto Overmundo, dedicado à promoção do acesso ao conhecimento e á diversidade cultural do Brasil.

Às vésperas das eleições, Alê Youssef, também Presidente do Bloco Carnavalesco Acadêmicos do Baixo Augusta (área que tem sido revigorada com suas ações) e colunista de política da revista Trip, falou com exclusividade ao PPOW.

Por que votar em Alê Youssef?

Porque… na verdade, a resposta é mais complexa do que o simplismo que existe na política. Não é “Por que votar em mim?”, mas se você acredita em determinadas coisas, bandeiras, questões que tenham a ver com a nova geração em sentidos como o desenvolvimento econômico, como quando você identifica a economia criativa como sendo alternativa de geração de renda, através das indústrias criativas da arte, da moda, da noite, da cultura; tendo em vista, também, a transparência que as relações humanas devem ter e que, no caso das relações políticas, as novas tecnologias podem fornecer; e no que diz respeito a direitos, se você acredita que os direitos dessa geração vão ser preservados; se acredita que não existe país desenvolvido sem determinado tipo de igualdade, e, mais que tudo, se você acredita que pode haver um novo jeito de fazer política, uma coisa que pode ser diferente, que pode ser nova, que pode, pode, pode…, aí sim, quem tem essa visão deve votar em mim. Porque não é apenas um jargão: “Vote em mim: saúde, segurança, educação”. Isso ninguém aguenta mais. É uma coleção de coisas que precisam ser levadas em conta e, com isso, resgatar o voto de opinião, porque você tem que votar pela opinião.

Você, que participou do governo do PT, por que não se candidatou pelo partido?

Fui filiado ao PT por 15 anos, e não só participei do governo, como da construção do PT, numa relação muita próxima que me deu muitos amigos, que tenho até hoje. Foi lá que eu aprendi a gostar de política, a fazer política. Foi vendo a propaganda do Lula, em 1989, que eu falei: “Nossa, que maravilha, é possível.” E o motivo da minha saída foi também por causa do PT. O que aconteceu com o partido foi uma overdose de pragmatismo. Eu não aguentei esse topa tudo pelo poder. Só que isso não é exclusividade do PT. O PSDB é igual, não é? O problema é que o PT se anunciava diferente. E mais, o que acontece hoje na política brasileira é uma briga, uma espécie de Fla-Flu, entre PT e PSDB, e os dois, para vencer um ao outro, têm que se aliar com o que há de pior, com a pior corja. Então fui para o Partido Verde, logo no momento em que a Marina Silva anunciou a saída dela do governo para ir para o PV e se candidatar à presidência, porque ela tocou num assunto muito importante, muito forte pra mim, que gosto de política e acompanho diariamente, que é o realinhamento histórico das forças políticas. Não dá mais pra gente viver nessa guerra entre PT e PSDB, em que quem se beneficia é o PFL, o Democratas, o PTB, o PR e por aí vai. Saí do PT por isso tudo, porque realmente não aguentava mais a realpolitik(*) em que o partido se meteu. Ao mesmo tempo, não gosto do simplismo de falar: “Ah, o PT é que é corrupto”. A política, da maneira que está sendo feita, é que faz com que todos tenham esse tipo de conduta em troca de minutos de televisão, em troca de base parlamentar.

No seu texto de apresentação no site, você afirma que em determinado momento tinha vergonha de assumir que seu caminho era a política. Por que isso?

Tinha sim, por causa disso tudo. Faço parte de uma geração que se acostumou a ficar alheia à política, a falar que a política é uma droga, que se acostumou a não participar da política. E conviver com essa geração no meu dia-a-dia, com meus amigos, é conviver com essa resignação, com essa apatia, com essa rejeição. Então é óbvio que isso acaba gerando um sentimento de vergonha, no sentido de que você vê a política tal qual ela é, e o pensamento mais óbvio das pessoas é falar: “A política é ruim, é uma merda, é suja”, e portanto, se você gosta de política, você é uma merda, é sujo. Então é por isso que tinha vergonha… e também a vergonha pelo próprio PT, em que eu fiquei 15 anos da minha vida atuando e me senti e me sinto ainda muito triste com certos rumos que foram tomados. Mas, ao mesmo tempo, as coisas foram se reaproximando, porque eu acho que tanto a política precisa deixar de ser careta, como a nossa geração precisa ser engajada, então não é uma questão de vergonha e, sim, de transformar em orgulho e falar: “Eu posso lidar com isso”.

Você se juntou ao PV já com pretensão de se candidatar?

Não. Eu me juntei ao PV faz um ano e meio e foi por conta da decisão da Marina de sair do PT para o PV. Eu fui para o PV para ajudar a Marina, em primeiro lugar. Eu já tinha muita afinidade com ela, sempre tive, desde a época do PT, assim como com o Gabeira, que foi uma das pessoas que me estimulou a entrar no PV. Participei da elaboração do plano de governo da Marina para ajudá-la, como um dos coordenadores da área de cultura. Aí, no meio desse processo, pintou esse convite, muito legal, que foi feito dentro de uma observação muito clara em relação ao que eu estava falando dessa geração, da falta de representatividade. O Gabeira, no Congresso Nacional, podia identificar isso, a Marina, no Senado, e outras pessoas com quem convivo em vários outros lugares. Todas as questões relacionadas a essa geração, elas não têm um eco no Congresso, elas não têm força, elas não aparecem. Então é um absurdo que São Paulo tenha hoje uma situação como essa de efervescência cultural e de diversidade tão forte – e toda essa região em que a gente está agora, do Baixo Augusta, se transformou num exemplo disso – e nenhuma dessas expressões artísticas, culturais, comportamentais ou geracionais tem um eco no Congresso. Então por isso pintou o convite para eu me candidatar, o que foi posterior à minha entrada no partido.

Se for eleito, sua atuação será focada na área cultural ou você tem outras propostas?

Tenho o foco não apenas no mandato, mas este tem algumas diretrizes, ou linhas mestras. A primeira é a da Economia Criativa, mesmo, essa ideia de você valorizar a arte, moda, música, cultura, comportamento, design, publicidade, arquitetura, todas as forças das indústrias que dependem da criatividade para sobreviver e que na nossa opinião compõem uma força econômica muito forte para este século que está apenas começando. É uma economia sustentável, uma economia em que o Brasil é especialista, pela diversidade cultural riquíssima, misturada com o jeito brasileiro, com a diversidade da natureza e dos recursos naturais, enfim, uma série de questões que fazem a gente acreditar no sucesso do fortalecimento desse setor. Além disso, existem questões relacionadas ao dia-a-dia dessa geração, por exemplo, à transparência. Eu quero fazer com que a gente tenha um site 100% colaborativo, de web 2.0, que permita às pessoas participarem das sugestões, da edição dos projetos de lei, radicalizar nesse aspecto, por isso nossa ideia chama Transparência Radical. Transmitir o mandato ao vivo, nos gabinetes, nos corredores, o que é também uma coisa a que essa geração se acostuma cada vez mais por causa da internet. E além disso, tem a defesa dos direitos, eu sou a favor do casamento gay, a favor da adoção gay, a favor de uma nova discussão muito, muito séria sobre a política de drogas, porque a que está aí só está matando jovens, e é uma política de guerra que infelizmente se mostrou completamente falida. Ou a gente encara essa discussão seriamente, ou então vamos ficar na eterna hipocrisia, com esses coronéis sendo eleitos, com esses discursos policialescos que de nada adiantam para eliminar a figura do traficante.

Você enxerga um espaço no Congresso para uma atuação transparente e diferenciada?

A primeira coisa que é importante ressaltar é o seguinte: todos os meus amigos, as pessoas mais próximas, falam, falaram e continuam falando, e eu tenho total consciência disso, é que na hora em que você decide se candidatar para entrar no Congresso Nacional, você tem que estar ciente de que vai enfiar a mão na merda. Então, você tem que fazer isso com luva, que é para não se contaminar com a merda. Eu acho que a transparência é a melhor luva que existe. Você fica imune, fica supertransparente, e ao mesmo tempo isso te coloca de um jeito forte lá dentro. Se você transmitir o seu mandato ao vivo, se você faz a situação colaborativa, e se é eleito por movimentos sociais importantes, por formadores de opinião, você traz para o Congresso uma visibilidade bem diferente do que aquele cara que é eleito no curral eleitoral, que ninguém nunca viu nem ouviu falar, o que aliás é isso que ele quer. Se você tem essa portura, acho que é possível encarar essa vida no Congresso e até subverter a lógica lá dentro, escancarar certas coisas, provocar para que isso aconteça. Então é nessa diferença que eu aposto, misturada com a coragem de enfrentar esses cartéis que existem lá dentro.

Dentro do PV e em relação aos outros candidatos a deputados, existe uma estratégia ou orientação de partido alinhada com essa sua proposta de atuação?

Na verdade, eu estou querendo embutir isso no PV. O PV tem uma grande vantagem, que é dar liberdade; todos nós concordamos com as linhas gerais, com a necessidade do desenvolvimento sustentável, do desenvolvimento humano, que são as questões principais do partido. E cada um adapta suas propostas de acordo com essas bases, esses parâmetros. Os partidos são moldados pelas bancadas que eles elegem no Congresso. Enfim, vai depender muito do que acontecer nessa eleição, de quem serão os deputados do PV eleitos. A partir daí se monta a cara do partido a partir da próxima legislatura. O que de cara já posso falar é que nós vamos ser representantes dessa figura incrível que é a Marina, que está despontando no cenário nacional como sendo uma alternativa real, que tá na disputa dessa eleição bravamente, mas caso não consiga ir para o segundo turno, com certeza sai como uma das grandes vitoriosas dessa campanha, sem sombra de dúvida.

O que o candidato a deputado federal Alê Youssef tem a dizer sobre sustentabilidade e modo de vida consciente?

Eu acho que a gente precisa e tem que juntar o nosso exército agora, que é o exército de quem pensa desse jeito. E quantificar quantos nós somos. A gente precisa avançar muito como sociedade. Não só no Brasil, mas no mundo, no que diz respeito à sustentabilidade. E a gente sabe que os recursos estão se esgotando, a gente sabe que o modelo industrial de consumo dos recursos naturais, o modelo que está em vigência, é muito destrutivo, e que os dois projetos principais representam exatamente a mesma coisa, o da Dilma e o do Serra. Ou a gente inverte essa lógica, de um jeito novo, alternativo, buscando práticas de sustentabilidade, ou a gente vai chegar realmente numa situação limite. Já estamos numa situação limite. Então quando a gente fala de economia criativa, a gente não está falando só da valorização das áreas da economia da cultura, a gente quer mudar o eixo da ideia de desenvolvimento. Era matéria-prima, depois passou para produto, depois passou para serviço, e agora a gente pode fazer uma ação que seja uma coisa absolutamente não-poluente, que são ideias, a criatividade das pessoas, como sendo o principal foco de política de desenvolvimento, de movimento econômico. E do ponto de vista da vida consciente, eu não acredito que a gente possa ter vida consciente se parte do desenvolvimento econômico do Brasil está baseado em venda de automóvel e venda da linha branca. Que a felicidade é igual a comprar um microondas, uma geladeira. Isso não é vida consciente. Pelo contrário, isso aí é a vida que leva em conta uma máxima que é infelizmente errada, que é assim: os países ricos já usaram todos os seus recursos naturais, por que nós que temos agora somos os únicos que não podemos? Infelizmente, somos os únicos e não podemos mesmo. A gente precisa ter um outro tipo de desenvolvimento, um outro tipo de consciência. Isso influi no desenvolvimento humano e pode ser conseguido por uma revolução educacional. Senão a gente fica com dois mundos complertamente diferentes, separados, aquele consciente, engajado, preocupado; e aquele que quer um lugar ao sol. Agora, como a gente faz para explicar a essas pessoas que esses avanços podem ser diferentes? Aí é a história da educação… mas a gente também pode oferecer cursos de formações técnicas diferentes, criativos, baseados em profissões novas. Não precisa ser só torneiro mecânico, pode ser desenhista de game, entende o que quero dizer? Não tem que ser jardineiro ou eletricista, você pode ser técnico de som, designer, enfim, é uma outra vida, é um outro mundo, é olhar pra frente, é olhar para o século 21.

(*) Realpolitik, expressão alemã que identifica a política baseada em fatores práticos e materiais em detrimento a objetivos teóricos e éticos.

 

Linguagem de cartoon no material de campanha