A política no fim das contas é um grande xadrez. As vezes não distinguimos ao certo quem são os jogadores ou quem são as peças
O enxadrista político é um ser complexo. Ele pode numa partida estar comandando o tabuleiro e noutra ser comandado dentro dele.
No caso, hoje estamos tendo a satisfação de assistir a um grandioso campeonato, com os melhores jogadores do país se enfrentando em disputas sinistras, ferozes e com muitas técnicas. Coisa para PhDs.
Como em qualquer bom campeonato, temos os cabeças de chaves, aqueles que todos sabem que são cascas grossas. Dentre todos esses hábeis enxadristas, porém, há um deles que me intriga bastante, um verdadeiro fenômeno. Ele tem uma linguagem própria, até ininteligível. Nós todos já o presenciamos em xeque inúmeras vezes. Encurralamentos sem saída para qualquer outro jogador, esse gênio consegue quase que milagrosamente reverter situações perdidas e sair do sufoco mais forte ainda. Parece que joga até com três damas! Bom, pelo menos uma, podemos afirmar que por enquanto ele tem.
Contudo, este nosso mágico dos tabuleiros, tem esse ano, uma bronca feia pela frente. O campeonato está pegando fogo! Na briga pela faixa de campeão, três pesos pesados trabalhando em equipe estão desequilibrando a disputa. Gente experiente, que não mexe peão à toa, sabem tudo. Está certo que um deles acabou em certo momento fazendo alguns movimentos de ataque tão arriscados ao tentar se defender, que agora está jogando sem a cavalaria. Mas outro deles, entretanto, como um típico “come quieto”, ficou ali no seu cantinho estudando o jogo sem pressa, e quando chegou a oportunidade, ahh… mostrou a que veio o danado!
Alguns outros jogadores, outrora protagonistas de grandes partidas, estão agora como a sábia coruja, mais ouvindo do que falando. Eles também jogam em equipe e tem um ex-bicampeão para lhes dar costas quentes. E que ninguém se iluda que irão ficar só no poleiro, não senhor, essa turma também gosta da coisa e tem lá seus truques, seus bispos e torres bem posicionados, ameaçadoramente buscando qualquer erro desesperado do adversário para fazer o movimento decisivo.
E claro, tem aquele monte de jogadores coadjuvantes, negociando um movimento aqui, uma peça ali, sempre batalhando por sua sobrevivência nesse intrincado jogo de estratégia e tática. Eu particularmente estou atento a uma jogadora que aos olhos de muitos parece até uma doninha brincando num covil de lobos, mas a moça já mostrou que é esperta e já até montou sua própria equipe. Ainda bem que perdeu o último campeonato, sucesso prematuro pode não ser bom.
No xadrez político não raramente presenciamos jogadas espantosas, como o caso recente de uma peça estratégica que se rebelou e num ímpeto de insubordinação ousada, deu uma banana para sua equipe de longa data e se aninhou com os adversários para garantir vaga como competidora num campeonato municipal. Vez em quando testemunhamos algum retorno triunfal, tal qual aquele ex-campeão impedido de seguir no jogo por alguns anos e que, sem muito alarde, voltou à cena já fazendo arte de novo.
Há pouco tempo, numa das partidas mais importantes, a atual campeã promoveu um rearranjo geral no tabuleiro, em uma manobra delicada, vista apenas em momentos de grande aperto, a fim de aplacar o ataque sufocante do oponente. Vão-se os peões, dá-se até a dama em sacrifício se for necessário, mas o rei tem que viver. Duro vai ser garantir o reinado tanto tempo sem proteção.
Quanto aos juízes, essas figuras em que depositamos toda a nossa inocente confiança, lá estão com a hercúlea missão de tentar garantir um jogo limpo. Um deles, um sujeito que não está lá para brincadeiras, anda fazendo a turma tremer, já virou ídolo nacional.
A nós, resta assistir com muita atenção a essa inigualável demonstração de habilidade dos nossos grandes jogadores, orgulho nacional, homens e mulheres do povo, gente que nós escolhemos. Eles, que nos guiam com tanta dignidade. Que vençam os melhores! Seja lá o que o que melhor significa nesse caso…. E para os que andarem fora da linha, fica aqui a nossa torcida para que possam desfrutar de uma longa temporada vendo o sol nascer quadrado.
