Já estávamos quase partindo de nossa visita ao Palácio da Alvorada, quando de longe eu avisto uma tropa marchando

 

Palácio da Alvorada

 

Vinham num bando de uns 20, naquele sapateado ensaiado, cada qual na sua marcha. Meu filho de 4 aninhos tinha coincidentemente passado os últimos dias cantando (algumas dezenas, ou talvez até uma centena de vezes) o clássico “Marcha soldado, cabeça de papel”.  Senti que era uma encomenda!

 

Quando se aproximaram percebi que a vestimenta não seria tão difícil de conseguir em uma boa loja de fantasias caso os pequenos se empolgassem com toda aquela pompa dos gloriosos Dragões da Independência.

 

Vá lá que o regimento venha dos tempos da colônia, de quando Dom João chegou meio acossado ao Brasil depois da espremida que levou em Portugal por conta da guerra entre a Inglaterra e a França de Napoleão. Naquela ocasião, o príncipe regente  criou, em 1808, o 1º Regimento de Cavalaria do Exercito a fim de guardar a sede do governo.  A mídia oficial diz que os Dragões passaram pelos grandes momentos da história do país; independência, Guerra da Cisplatina, proclamação da república, etc.  Eu não estou muito certo a respeito desses tais grandes momentos, mas deixe como está… toda nação, especialmente quando não os tem, precisa enfeitar seus feitos.

 

Assistindo a encenação se desenrolar, pensei que de certa forma havia ali um retrato do Brasil. A turma não estava muito afinada, fiquei sem saber direito quem é que marchava corretamente. Era uma mistura de estilos, algo como uma miscigenação de marchas. Logo que passaram pela portaria do palácio a caminho das bandeiras, tomei um susto; o que eu achava que era uma estátua de cera de um soldado cercado por um quadrado de fitas, se moveu e juntou-se ao grupo, agregando à tropa mais um pitoresco estilo.

 

A cerimônia de retirada das bandeiras foi muito interessante. Para uma missão de tal importância, há todo um ritual diário a ser cumprido por aquela tropa heterogênea. Acho até possível que existam para isso. O progresso ia relativamente em ordem até chegar no momento mais esperado de todos; a dobradura da bandeira nacional! Confesso que fiquei um pouco apreensivo quando percebi que os soldados que seguravam as duas pontas da bandeira não combinaram direito pra que lado a dobrariam primeiro. Mas até aí, quem já não sofreu dobrando o lençol da cama? Ainda bem que havia lá um terceiro soldado, o líder, para acabar com o drama e desfazer a confusão. Após uma análise do problema; “por aqui, não, por alí, isso, isso…”, finalmente concluíram a missão. A corneta soou rouca e partiram os soldados orgulhosos com as bandeiras dobradas de volta ao Palácio.

 

E nós ficamos alí, naquele fim de tarde bonito, vendo as emas pavoneando no enorme gramado, e pensando; – isso sim é que é um dinheiro bem gasto!