Casta responsável por brancos, tanto secos quanto doces, volta ao topo no mundo

Vinhas de Riesling do Cru Erdener Pralat de Dr. Loosen a beira do Mosel em pleno Outono

Nos últimos anos a casta Riesling, que um dia reinou nas mesas do mundo todo, ficou um pouco desaparecida. No Brasil não foi diferente, já que por aqui foi ainda mais abalada devido a uma série de vinhos de qualidade duvidosa que invadiram o nosso mercado nas décadas de 70 e 80. Os vinhos à base da nobre Riesling não tem nada a ver com esses Rieslings brasileiros que para nossa fortuna desapareceram (quase). Pois bem, nos últimos anos através de um grande trabalho da mídia especializada em vinhos do mundo inteiro essa uva vem voltando com toda a força.

E não é por poucos motivos que a Riesling vem reconquistando o mercado mundial quando o assunto é um bom vinho branco. Os ingleses de forma inexorável nunca se renderam ao modismo e ao glamour de outras castas e sempre deram o topo do podium a Riesling como a mais importante uva “branca” do planeta ao lado da glamorosa Chardonnay.

Em uma matéria idealizada pelo PPOW, tivemos uma grata surpresa com o enorme interesse demonstrado pela maioria dos importadores, não só pela divulgação no já exitoso portal e de nossa coluna Vinho & Vida, mas também pelo carinho em querer recolocar o foco no vinho branco e mais ainda no renascimento da casta Riesling. Foi tamanho o interesse que vamos dividir a matéria em três, pois além de tudo a penetração da casta é enorme, em vários países do mundo e com vinhos secos, meios secos e, por último, os doces, que são mesmo fascinantes. Isso sem falar que podemos ter um vinho a base de Riesling de 7º a 15º de álcool. A casta pode perder no glamour para a Chardonnay da Borgonha, responsável pelos brancos mais elegantes e repletos de finesse do planeta, mas no quesito diversidade, a vantagem da Riesling é notória. Outro ponto que é importante ressaltar é que os vinhos a base da Riesling são estaticamente mais longevos que os Chardonnay, principalmente se estivermos falando de vinhos de mesmo valor. Nessa semana abordaremos os Rieslings secos e meio secos da Alemanha, na semana seguinte os Alsacianos e do Novo Mundo e, por último, os espetaculares e raros Doces.

Riesling, Estilo e Grandes Berços

Podemos dizer que não há vinho melhor em termos de pureza do que um bom Riesling Alemão ou Alsaciano de estirpe. A utilização da madeira (carvalho) no processo de vinhos tem grande influência na injusta história da decadência dos Rieslings. A Riesling não se adapta e não produz grandes expoentes quando passa por madeira nova. Sua passagem pela madeira nova tem que ser muito bem administrada, pois em caso de excesso de madeira a Riesling perde todas as suas características, tais como sua sensacional acidez, sua presença mineral e também sua grande complexidade de frutas nos aromas. Não há como negar que o vinho produzido pela uva Chardonnay com muita madeira foi um destruidor de paladares ao redor do mundo e foi um dos responsáveis por levar os Rieslings para o exílio, que para nossa sorte durou pouco. Os vinhos brancos hoje, que estão em franca recuperação, tem nos vinhos a base dessa casta um grande aliado: o aroma da Riesling. Intrigante, mineral e floral. Buquê único. Aromaticamente são ricos, amplos e maduros, com muito equilíbrio no álcool aliados a toques minerais, de mel e quase sempre florais que os levam a uma posição inigualável. Isso não quer dizer que a uva Chardonnay esteja em descrédito, muito pelo contrário. Em ambos os casos saber escolher o vinho é o grande desafio, ou seja, podemos encontrar sublimes Riesling e maravilhosos Chardonnay, mas também de ambas castas podemos encontrar vinhos de fracos a deploráveis. Se alguém te perguntar qual é a casta responsável pelos melhores brancos do mundo você pode responder sem medo: os top Chardonnays da Borgonha e os Rieslings de estirpe tanto da Alsácia, no norte da França, como os da Alemanha, de diversas regiões, que descrevemos a seguir. A terceira casta mais importante do mundo quando o assunto é vinho branco pode gerar discussão, mas quanto aos dois primeiros, não há dúvida. Para disputar essa posição a Sauvignon Blanc é a mais forte candidata, ao lado da espetacular Chenin Blanc, ambas de origem do Vale do Loire na França.

Já que mencionamos de quais países vêm os melhores Rieslings, precisamos especificar de onde na Alemanha vem o ‘creme de la creme’. Podemos encontrar sensacionais vinhos a base da Riesling em várias regiões da Alemanha, mas os melhores são de Franken (Francônia), Rheingau, Rheinessen, Pfalz, Nahe e Mosel-Saar-Ruwer. Vale ressaltar que todas essas regiões estão relacionadas com rios, sendo os principais o Mosel (Mosela) e o Rhein (Reno) e seus afluentes.


Grandes Riesling-Rheingau versus Mosel

Tivemos o privilégio de provar mais de 30 vinhos de excelente qualidade produzidos a partir de 100% dessa encantadora uva. Degustamos alsacianos, alemães, australianos, chilenos, americanos e neozelandeses, secos e doces. Nessa semana falaremos dos secos e meio secos da Alemanha.

Grandes brancos da terra natal da Riesling

Com relação aos Rieslings alemães a situação é mesmo complexa, pois tivemos a oportunidade de degustar desde vinhos muito leves com 8º de álcool até alguns que alcançam mais de 14º. Podemos ainda encontrar vinhos extremamente fáceis de degustar por serem muito sutis, até verdadeiras explosões na boca com muita complexidade aromática e gustativa. Vamos aos destaques de nossa grande degustação.

Dos mais leves o destaque vai para o delicioso Grans-Fassian Trittenheimer Riesling Kabinett 2007, do Midle Mosel. Esse branco é produzido com vinhas localizadas nos arredores de Leiwein e Trittenheim, onde o Mosel faz a curva mais aguda em seu longo trajeto no sul da Alemanhã.

Curva do Mosel com Panorama de Leiwen à esquerda e Trittenheim a direita

Com seus 8,5º de álcool e muita sensualidade esse vinho foi o destaque na leveza do painel. Um branco meio-seco que pede uma taça atrás da outra. Excepcional para começar qualquer evento relacionado com vinhos, principalmente para os que gostam de iniciar com uma certa “doçura”. Foi degustado com mexilhões no bafo in natura (sem nada, nem sal, nem azeite). Sensacional harmonização.

Ainda dos mais leves tivemos mais um destaque, o delicioso DRL Riesling 2009 da Loosen Bros. Com seus 8,5 graus de álcool e muita sensualidade esse vinho foi muito bem no “quesito leveza” de nosso painel. Mesmo leve tem uma impressionante personalidade. Campeão absoluto no value for Money. A propósito, o produtor desse vinho é nada menos que o excepcional Dr. Loosen, talvez um dos maiores destaques dos últimos anos na Alemanha. Quem comanda a casa desde 1988 é Ernest Loosen, carinhosamente chamado de Ernie. Entre seus seus títulos os principais são: “International Wine Challenge’s White Winemaker of the Year” em 2005 e ainda nesse mesmo ano foi eleito “man of the year” pela revista inglesa Decanter, esse último título é um dos mais cobiçados por todos os “homens e mulheres do mundo do vinho”. Seus vinhos “mit prädikat” são sempre sublimes.

Weingut Dr Loosen a beira do Rio Mosel

Dr. Loosen Riesling Kabinett Blue Slate 2009

Na subida de intensidade e presença tivemos mais um vinho do Weingut Dr. Loosen, o sensacional Dr. Loosen Riesling Kabinett Blue Slate 2009. Esse vinho, no rótulo em alemão vem com Blau Schiefer ao invés de Blue Slate, com seus 7,5º GL é só finesse, com um delicioso toque doçura. Seus aromas são de frutas cítricas e sua persistência no olfato é notória. No palato é vivo, rico e ao mesmo tempo delicado, com a marca Mineral “registrada” dos grandes vinhos a base dessa casta do Mosel (Blue Slate ou Blau Schiefer significa ardósia azul). Um Kabinett de 1ª linha que prima pela elegância com aquela doçura na medida certa (é classificado como seco, mas é muito mais adocicado que muitos outros Kabinett). É mais adocicado que o irmão DRL acima. Uma espetacular sugestão para acompanhar um menu japonês. Excepional com Sushi.

Ainda do Middle Mosel provamos um Riesling do talvez mais impressionante produtor da região, ao lado de Dr. Loosen, Fritz Haag. Os vinhedos da família Haag estão localizados nas cercanias de Braunenberg (nordeste de Trittenheim). São inúmeros vinhos produzidos desde os mais simples até os doces. Provamos o entry level Riesling Trocken 2007. Com seus 12º de álcool é um vinho delicioso, que mostra as características da Riesling do Mosel na acepção da palavra.

Vinhedos de Riesling Fritz Haag a beira do Mosel

Por último do Mosel, um pouco mais ao nordeste de Braunenberg, provamos o seco, com leves nuances adocicadas, Vom Roten Schiefer 2006 do produtor Clemens Busch. As vinhas cultivadas biodinamicamente de Clemens estão localizadas em Pünderich, onde temos mais a presença da ardósia vermelha (Roten Schiefer). Um preciso e delicioso vinho um pouco mais alcoólico (12,5º), repleto de estilo e personalidade. À mesa esse branco casou de maneira perfeita com um “farfale ao molho de gorgonzola com finas tiras de radicchio”. De maneira geral os Riesling do Mosel estão entre os mais elegantes dentre todos e podem evoluir na garrafa por muitos anos, principalmente os de grandes safras como foi 2009 (uma das melhores dos 15 anos). Os Kabinett evoluem seguramente por 5 anos e os Spätlese podem chegar a 20 anos, enquanto os Auslese, Beerenauslese e Trockenbeerenauslese (TBA) podem atingir mais de 30 anos em franca evolução. Os TBA’s, ao lado dos Sauternes de Bordeaux e dos Portos Vintage de Portugal, estão entre os vinhos mais longevos dentre todos.

Do Rheingau provamos cinco preciosidades, dos seguintes produtores, todos top da região, a saber: duas de Hans Lang, uma de Franz Kunstler, uma da Domdechant Werner e uma do Weingut Robert Weil.

Vinhedos da Weingut Robert Weil no Rheingau

Do primeiro provamos o delicioso Johann Maximiliam 2006 e o potente Vom Buntem Schieffer 2005 e do segundo o excelente Hölle Kabinett Trocken 2008. Dos Lang o Vom Buntem 2005 mostrou mais personalidade e força, com um final de boca eletrizante. Apesar de ser 2005 ainda tem mais vida pela frente, pois sua estrutura é excelente. O Hochheimer Hölle Riesling Kabinett Dry 2008 (esse é o que consta no contra rótulo) da casa Franz Kunstler representa a expressão máxima da casta. Presente carga mineral nos aromas, com toque de frutas de polpa branca como maçãs, peras, pêssegos etc, seguidos de tons cítricos e toques florais muito sutis. Um vinho perfumado e elegante. Gustativamente é suculento e muito rico, confirmando todo o caráter mineral detectado no nariz. Final de boca longo e muito apetitoso. Já o Kiedrich Gräfenberg Riesling Kabinett Trocken 2007 do espetacular produtor Robert Weil estava profundo e reluzente. Um Riesling dos mais raçudos, com muita força, presença mineral e fruta de boa qualidade. Esses dois últimos Kabinett, de dois dos mais renomados produtores do Rheingau, foram os destaques de todo o painel “Riesling Secos”, ao lado do meio-seco Dr. Loosen Blue Slate 2009.

Os Kabinett que foram destaque

Por último, do Rheingau provamos da Domdechant Werner o Hochheimer Stein Riesling Kabinett halbtrocken 2005. Esse meio-seco é de uma sensualidade extrema, pois alia uma deliciosa mineralidade com uma leve e fresca doçura. Muito bom.

De maneira geral os vinhos dessa região são especialíssimos e com uma profundidade impressionante. São os mais longevos Riesling de toda a Alemanha, cada um em sua categoria.

Voltando aos secos da Alemanha temos que destacar um vinho do produtor mais importante do Rheinhessen, a Weingut Keller, que se localiza a noroeste de Worms, mais precisamente em Flörsheim-Dalsheim, nas cercanias do rio Reno (Rhein em alemão). O Riesling Trocken 2009 é exemplo de pureza com toques leves de maçãs e aquela presença mineral marcante. Final fresco e profundo. Para um vinho genérico mostra o que essa casa pode produzir. Os brancos dessa região usualmente amadurecem mais rápido que os do Mosel e Rheingau.

Riesling de 3 Regiões da Alemanha - Mosel Rheinhessen e Rheingau

Por último degustamos dois Riesling secos da região da Francônia (Franken), que tem a influencia do Rio Main. De lá provamos o delicioso Horst Sauer Eschendorfer Lump Kabinett Trocken 2009 e o presente Iphofer Julius Echter-Berg Riesling Spatlese Trocken “S” 2005 de Hans Wirsching .

Dupla de Peso da Francônia

Ambos deliciosos, mas vale destacar que o segundo é um Spätlese Trocken (seco), de certa maneira mais raro, pois a maioria dos Spätlese são vinhos doces. Esse excepcional branco da Francônia possui 14,5º de álcool, que o colocou como ponto fora da curva de todos os Riesling secos provados. Por ser elaborado com uvas com alto grau de açúcar (vide legenda abaixo) alcança tão alta graduação alcoólica para um Riesling seco. Por ser mais potente tem menos o caráter mineral e é mais rústico se comparados com os Riesling que degustamos das outras regiões da Alemanha. Esses brancos de maneira geral são os mais diretos e retos de todos os outros vinhos desse painel e de fato são geralmente mais rústicos, talvez menos puros e elegantes, mas apresentam excelente corpo e boa intensidade. Podemos sugerir que esses vinhos da Francônia são ótimos para serem consumidos entre 3 e 5 anos de vida.

Vinhedos de Rieslings com a Vila de Escherndorf Franken ao fundo

Glossário e dicas para entender os Rótulos dos Vinhos Alemães

Trocken: Seco

Halbtrocken: Meio-Seco (também pode ser Feinherb – mais popular)

QmP– Qualiätswein mit Prädikat: Vinhos feitos com uvas naturalmente maduras. Os melhores vinhos da Alemanha são QmP. Não é permitida a chaptalização (adição de açúcar no mosto).  Abaixo em ordem ascendente de maturação das uvas descrevemos as classificações QmP

  • Kabinett: Vinhos leves e refrescantes idéias para aperitivos
  • Spätlese: Literalmente vinho produzido com uvas de colheita tardia. Mais maduras que as destinadas aos Kabinett. Vinhos podem variar de secos encorpados até doces leves. Muita atenção com os Secos, pois podem ser enfadonhos e muito alcoólicos Podem envelhecer bem.
  • Auslese: Elaborado com uvas mais maduras que os Spätlese, algumas vezes atacadas pela Botrytis Cinéria*(podridão nobre). Esse vinhos usualmente apresentam açúcar residual. Podemos encontrar alguns raros secos. Importante ser envelhecido. De boa guarda.
  • Beerenauslese: Vinhos doces elaborados com uvas botritizadas.
  • Eiswein: Vinhos provenientes de uvas com alto teor de açúcar e acidez, concentradas através de congelamento na vinha. Menos raro que os TBA.
  • Trockenbeerenauslese (TBA): Vinhos doces, muito raros e caríssimos. Elaborado com uvas colhidas a mão, totalmente maduras, que foram atacadas pelo Botrytis Cinéria na vinha.

QbAQualitätswein bestinnter Anbaugebiete : Vinho de qualidade de uma região designada. Qualidade abaixo do QmP. A chaptalização é permitida.

Landwein: Vinho da Terra, o mesmo que o francês Vin de Pays – designação não muito popular quando a designação QbA está difundida.

Tafelwein: Pequena categoria para os vinhos mais básicos e leves

Grosses Gewächs: Designação para vinhos secos de qualidade TOP com graduação de açúcar mínima de Spätlese. A resposta alemã para o conceito de Grand Cru. No Rheingau essa designação é denominada Erstes Gewächs.

*-> O Botrytis Cineria é um fungo que se apresenta em condições climáticas específicas. Ele fura a casca da uva e causa a perda de líquido da fruta, que se enruga e tem seus açúcares concentrados. Normalmente as uvas ficam expostas ao sol por mais algumas semanas antes da colheita final.

Na próxima semana tem mais Riesling: Alsacianos, os Grandes Rivais dos Alemães, e boas novas de Nova Zelândia, Austrália Estados Unidos e Chile.

Os vinhos Grans-Fassian, Franz Kunstler e Horst Sauer são importados para o Brasil pela Decanter – www.decanter.com.br

Os vinhos Weingut Dr. Loosen são importados para o Brasil pela Aurora – www.aurora.com.br

Os vinhos Fritz Haag são importados para o Brasil pela Grand Cru – www.grandcru.com.br

Os vinhos Clemens Busch são importados para o Brasil pela WorldWine – www.worldwine.com.br

Os vinhos Weingut Robert Weil, Domdechant Werner e Iphofer são importados para o Brasil pela Mistral – www.mistral.com.br

Os vinhos Hans Lang a são importados para o Brasil pela Vinci Vinhos – www.vinci.com.br