Reimaginação de clássico do surfe é, no fundo, um episódio arrastado e chato de um programa do Canal Off
Lançado em 1991, Caçadores de Emoção foi um filme que marcou uma geração por trazer uma história policial envolvente a partir de dois personagens carismáticos, como Bodhi, interpretado pelo finado Patrick Swayze, e um universo completamente diferente do cinema: o dos esportes de ação, em especial o surf, rendendo ótimas cenas para o longa.
Na onda dos remakes que assola uma Hollywood sem imaginação e com ideias megalomaníacas, uma nova versão da história de Utah e Bodhi foi reimaginada – e o novo Caçadores de Emoção – Além do Limite (Point Break, EUA, 2015), que tinha tudo para ser um ótimo exemplar para os fãs dos esportes radicais, se transforma numa espécie de longo episódio de um programa ruim do Canal Off.
O filme até que começa de maneira razoável, mostrando Utah (Luke Bracey, de November Man) como um atleta de esportes radicais que perde o seu parceiro de aventuras de maneira trágica numa trilha de motocross. Alguns anos depois, dentro do FBI e traumatizado (porque é indo para uma agência de inteligência que a gente se recupera!) ele se vê pressionado pelos seus supervisores a mostrar o real motivo que o fez entrar no bureau.
Uma série de ações criminosas bem elaboradas – como o roubo de uma carga de dinheiro de um avião no México e de diamantes na África – é o que Utah precisa para convencer os seus chefes de que ele é um agente eficiente. Ele descobre que o grupo está alinhando os roubos com a realização dos Oito de Ozaki, uma série de desafios onde o homem precisa superar as forças da natureza.
E é aqui que começa o problema: com o intuito de criar uma nova mitologia para o filme, desenvolver uma mensagem ecologicamente correta e uma necessidade para o desenvolvimento de cenas de ação espetacularmente filmadas, o roteiro de Kurt Wimmer se mostra confuso e bobo: no original, os roubos eram realizados em proveito próprio; aqui os bandidos se tornam uma espécie de Robin Hood de esquerda e naturalista, o que rende cenas risíveis de discursos sobre o relacionamento do homem com a natureza e da necessidade de devolvermos para o planeta o que nos foi dado (porque é realizando uma avalanche ou jogando dinheiro no céu no meio da selva mexicana que o planeta se recupera!).
Quando Utah descobre onde a gangue vai atacar, ele consegue um voto de confiança do FBI e vai até o local – e logo ele e Bodhi (Édgar Ramírez, de A Hora Mais Escura) se tornam amigos e ficam num bromance que se divide em meio aos esportes radicais e a busca por redenção em traumas de vida muito mal resolvidos.
Não demora muito para que Caçadores de Emoção – Além do Limite se torne uma fita de ação genérica, arrastada e aborrecida. O único diferencial é o uso de atletas reais para a realização das cenas de esportes, que são muito bem filmadas e trazem um realismo extra com o uso do 3D, em especial nos momentos em que é necessário criar uma sensação de profundidade ou vertigem, evidenciado nas cenas do voo com wingsuit, de snowboard e numa escalada.
Mas, nem só de ação e cenários exóticos se faz um bom filme: o excesso de merchandising e uma trama boba transforma Caçadores de Emoção num programa nem um pouco divertido, como se fosse uma marola que não faz nem cócegas em uma dia de praia.
Imagens: Warner Bros