Uma Aventura no País Miao, explora a cultura do mundo com uma história de amizade, afeto, superação e sabedoria

crianças da sombraVocê conhece o termo “crianças da sombra”?

Ele faz referência a uma política empregada durante o regime de Mao Tsé-Tung na China, onde as famílias podiam ter no máximo um filho, com exceção da minoria que vivia no campo, como os Dong e os Miao, e podiam ter dois para ajudar nos trabalhos rurais. O problema é que os pais queriam, a todo custo, ter um filho homem, já que ele é que perpetuaria o nome dos acentrais e também o direito a mais terras para o cultivo de subsistência, o que não acontece quando se tem uma menina.

Na maioria das vezes, quando se tinha uma filha, os pais preferiam esconder seu nascimento das autoridades, fazendo o mesmo com as crianças em excedente, sejam elas meninas ou meninos. Oficialmente, essas crianças não existiam: não possuiam documentos, não podiam ir à escola nem ser atendida em postos de saúde… Quando os agentes de planejamento familiar visitavam esses lugares para fazer o controle populacional, elas se escondiam, pois se uma criança dessas era pega, sua família tinha que pagar uma multa enorme.

crianças da sombra

Logo, como viviam escondidas, elas eram chamadas de “crianças da sombra” – e é essa triste realidade que a dupla francesa Béka e Marko trabalham em seu novo trabalho, a graphic novel As Crianças da Sombra – Uma Aventura no País Miao (tradução de Fernando Scheibe; Editora Nemo, 48 páginas, R$ 24,00), que acaba de ser publicada no Brasil.

Assim como em suas outras duas obras – O Apanhador de Nuvens e A Narradora das Neves -, a dupla trabalha de forma emotiva e educativa a cultura dos Miao, povo que habita o interior da China e tem como principal atividade o cultivo de arroz. O livrinho conta a história do Mestre Wang, artista que vaga pelos quatro cantos do país para ficar longe da vigilância do governo, que vê com maus olhos suas pinturas e caligrafias em estilo tradicional.

Numa de suas andanças, ele se perdem num nevoeiro nas montanhas do sul do país, onde vive o povo Miao. Quando a névoa se dissipa, Wang encontra as tais das “crianças da sombra”. O artista é ajudado pela velha Yao a encontrar um lugar para ficar na vila. A senhora o envia para conversar com Bayang, avô das irmãs Shilu e Meng, que lhe oferece uma casa desocupada.

crianças da sombra

Assim, Wang se torna vizinho da família, e, ao vê-lo trabalhar, as duas meninas ficam fascinadas por sua arte. Shilu, a mais velha, é sensível e observadora, conseguindo reproduzir fielmente os símbolos que ele pinta. No entanto, ela não sabe o que significam as palavras escritas de forma artística, pois não aprendeu a ler. Wang decide então alfabetizar as meninas e ensinar Shilu a arte da caligrafia. Mas um dia, as coisas não saem como previsto – e o destino de Wang e das irmãs ganha uma nova conexão.

Com elements de misticismo oriental, humor e poesia, essa sensível e divertida HQ consegue representar de forma sutil um tema profundo e complexo, envolvendo a sociedade, o governo e a história da China. Com belíssimos desenhos e textos concisos, o jovem leitor mergulha nos costumes e tradições de uma cultura distante e bem diferente da brasileira, descobrindo que alguns sentimentos e aspirações são na verdade universais.

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Imagens: Reprodução

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