Pela saúde, há que se conviver com insucessos em razoável aceitação

Um jovem senhor, executivo de 43 anos, está bastante angustiado “pelo rumo que a minha vida profissional tomou”, como me disse repetidas vezes em sua conversa, num velado pedido de ajuda, mesmo disfarçado por justificativas a cada frase. Bem comum aos homens, principalmente nessa faixa etária, que teimam em afirmar não precisar de nada que não o prático de cada dia e abominam qualquer questionamento que não seja a atividade profissional e o futebol, com exceções, é claro. Canso de constatar isso no relacionamento com amigos ou maridos de amigas.

Na verdade, e espero que ele se permita a ler este texto, toda a sua angústia no trabalho, a pressão que diz sentir e que acarreta insônia e tremores, se resume numa palavra: auto-exigência. Tão comum, difícil de ser controlada e, muitas vezes, avassaladora.

Já sofri muito por ela em nome do meu perfeccionismo e não sei, ainda, se já consigo controlá-la, embora faça muito esforço para isso. Trata-se de manter um determinado padrão nas coisas que se faz, nem tanto por vaidade ou por ambição, mas porque se alcançou com muita luta, diga-se de passagem, um determinado patamar nas funções exercidas e que foram do agrado dos que nela estavam envolvidos ou a quem eram dirigidas. E teme-se deixar de corresponder a uma presumível excelência.

É terrível e traz um sufoco comportamental que pode levar fácil à exaustão, a uma estafa mental bastante perigosa. E muito difícil de equilibrar, não fosse a exigência uma atitude interna de quem a pratica e externa de quem a recebe.

Depois de tantos anos trabalhando com pessoas e avaliando posturas, não tenho mais a menor dúvida de que essa exigência faz parte da natureza de algumas pessoas. Que ao perceber do que são capazes, querem usufruir disso ao máximo e oferecer o melhor aos outros. Por sua vez, esses outros se acostumam a receber dessa forma e passam a esperar sempre a competência como perfil.

Eis porque os auto-exigentes e perfeccionistas precisam atingir certo controle sobre esse compromisso, sob pena de um esgotamento perigoso. Tendo sempre claro que não conseguirão, a não ser numa tragédia ou numa circunstância limitadora, empurrar com a barriga e nem se propor a fazer mais ou menos, mas que não só é impossível satisfazer a todos, como também precisam contar com dias e períodos de menor produção, de ausência de talento, de falta de criatividade. Ninguém é perfeito e nem robô.

Falha-se como todos, tem-se insucessos como todos, fases medíocres como todos. O que é traço comum da nossa humanidade. E há que se conviver com isso em razoável aceitação. Sob pena de cair num abismo.

O cartoon que ilustra esta matéria é uma criação de Hugh MacLeod, www.gapingvoid.com

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