Como um grupo de adolescentes que roubaram mais de 3 milhões de dólares de celebridades nos EUA podem definir uma geração
Entre outubro de 2008 e agosto de 2009, um grupo de adolescentes criados em regiões endinheiradas de Los Angeles invadiram a residência de celebridades como Paris Hilton, Orlando Bloom, Lindsay Lohan e Rachel Bilson, levando mais de três milhões de dólares em roupas, jóias, sapatos e outros suvenires das casas de seus ídolos. Logicamente, o bando foi preso. Toda a história foi revelada com muita maestria e sensibilidade pela jornalista Nancy Jo Sales primeiramente num artigo da Vanity Fair e, em seguida, no livro Bling Ring: A Gangue de Hollywood (tradução de Andrea Gottlieb, Cláudio Figueiredo e Lourdes Sette; Editora Intrínseca, 272 páginas, R$ 24,90 o livro e R$ 14,90 o e-book).
Mais do que uma obra que acompanha um grupo de adolescentes descabeçados ou uma história para meninas que envolve o luxo e figuras da moda, Bling Ring é um livro que esmiúça um pouco o que se tornou a sociedade hoje em dia: obcecada por um estilo de vida em que o consumo, a exposição e a superficialidade se tornam cada vez mais comuns e intenso em nosso dia-a-dia. Quem não tem um amigo que vive postando fotos de tudo o que faz durante o dia no Instagram? Ou quem não conhece uma pessoa que é obcecada por uma celebridade qualquer? Ainda, quem não já ouviu alguém reclamar da vida que leva e deseja agir ou viver de uma maneira completamente oposta?
Com a explosão do Facebook, muitos garotos e garotas viram que poderiam expor seus sonhos, gostos e conquistas pela rede: era uma rotina de fotos, frases de efeito e marcos que, de maneira concreta, não trazem nada demais para os seus seguidores.
As celebridades também tiveram essa sacada: Paris Hilton, por exemplo, tem mais de 2,1 milhões de seguidores na rede. Acaba então de vez o limite que existia entre fã e celebridade. Se os homens sonhavam nas décadas de 1950 e 1960 esbarrar com Marilyn Monroe na rua, hoje, com um clique, você está dentro da privacidade de qualquer um.
É justamente nesse mundo que esse grupo de adolescentes vivem. Rachel Lee, Nick Prugo, Alexis Neiers, Diana Tamayo, Courtney Ames, Johnny Ajar e Roy Lopez Jr. vivem numa espécie de estratosfera cheia de superficialidades e sonhos pequenos. A razão que os leva a cometer os crimes são vários: é a geração perdida, sem um propósito, a vontade de provar alguma coisa, de se valorizar. Mas, por que escolher essas celebridades que, muitas vezes, nem se deram conta de que foram roubadas diante de tantas coisas que elas possuem? Por que essa necessidade de acompanhar pessoas que vivem num mundo completamente distante do seu?
Jo Sales não faz um estudo antropológico sobre o caso, mas também não tenta criar uma justificativa para o que aconteceu. Ela trabalha com os fatos, depoimentos e entrevistas, e, mesmo com alguma contradição ou vazios que geram dúvidas, dá para perceber que a sociedade está num momento perigoso quando o excesso de exposição pelas redes sociais, o culto à fama e o consumismo exacerbado geram criaturas cada vez mais vazias e narcisistas, caminhando para um futuro triste e negro.
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