A Futon Company, loja de decoração e editora de design de São Paulo, pertencente ao casal Matthieu Halbronn e Bénédicte Salles, apresentou três peças que está reeditando para o mercado brasileiro e, em parceria com a francesa Objekto, para o internacional.

Em coletiva para a imprensa especializada, foram apresentadas a cadeira Paulistano com capa de malha de aço e a chaise metálica PMR, ambas criações do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, além da poltrona FDC1, expressiva obra do modernista Flávio de Carvalho.

 

 SURPREENDENTE ENCONTRO COM UM PRÊMIO PRITZKER

Presente ao evento, Paulo Mendes da Rocha roubou as atenções. Em poucos minutos, afável e de bom e fluente humor, o arquiteto quebrou qualquer formalidade e conquistou o grupo de jornalistas, que o acompanhou por mais de duas horas, enquanto contava casos, descrevia o processo de criação das cadeiras, posava para fotos ou brincava com as perguntas antes de dar suas opiniões. Até ao sair da loja, numa pausa para fumar um cigarro, a audiência cativa o acompanhou, e só debandou depois de tirar fotos ao lado do ilustre entrevistado. Só para lembrar, estávamos falando com um ganhador do Prêmio Pritzker de Arquitetura (2006), ou seja, o correspondente a um Nobel, honraria mundial concedida, antes dele, a apenas mais um brasileiro, Oscar Niemeyer. A seguir, o registro de algumas observações de Rocha. 

 

Sobre a Paulistano (que consta da coleção permanente do MOMA): “Um engenheiro amigo meu, o Rubens Tibiriçá, era da Villares e comentou comigo que a empresa faria o aço-mola (uma liga especial), que se dobra a frio para não perder a têmpera. Com isso, tive a idéia de pegar uma única barra e moldar a estrutura da cadeira, com um único ponto de solda. E depois cobrir com um tecido indígena, eu queria esse contraste, mas não foi possível. Então, fiz com couro, isso em 1956. E a cadeira teve uma tiragem, feita pela Interiors , uma loja da época, para o Clube Paulistano. Depois, nos anos 80, a Adriana Adams, da Nucleon8, a reeditou. E, agora, a Futon/Objekto. Acho muito interessante esse revival dos desenhos. Um estúdio francês propôs a malha de aço inox; para mim, desde que o desenho seja mantido, não importa o material da capa, seja, tecido, couro ou malha de metal. A graça da cadeira é aceitar várias vestimentas.” 

Sobre a Chaise Longue PMR (de 1985, criada após uma visita a uma fábrica de molas, onde se impressionou com as bobinas de aço de fina espessura, utilizando depois duas chapas paralelas apoiadas em estrutura tubular): “Sua característica é a flexibilidade, a fluidez. Quanto mais esbelta e flexível a chapa, mais elegante a cadeira. Ela é o que te apara no espaço. Se me pedem uma cadeira de encomenda, fica difícil. Mas se ela surge espontânea, assim de histórias muitas vezes casuais, acaba dando certo.”

Sobre a FDC1 (criada por Flavio de Carvalho na década de 50, como parte do mobiliário de sua residência, a Fazenda Capuava): “ Essa cadeira é uma maravilha. Olha só, parece um corpete medieval. Simples, enxuta. O Flavio era um artista. Eu sou um arquiteto de escritório. E não há o que explicar numa obra de arte.”

Sobre arquitetura, urbanismo, museus…: “Penso qua a cidade é em si um espaço cultural. Essa coisa de criar espaço cultural é uma bobagem. Veja o Rio de Janeiro: criou uma “cidade da música”, quando o Rio já é a cidade da música, inteiro, que tem de Noel Rosa a Villa-Lobos. Então, pra que criar essas besteiras?”

“Museu do Amanhã… vocês, jornalistas de hoje, não dizem nada por vocês, só querem que o entrevistado fale, não querem a responsabilidade… risos… mas acho que não seria necessário ter um museu para essa preocupação. Tal especulação devia estar restrita à Universidade. É preciso melhorar o estudo, a educação. Não é necessário ter uma nova arquitetura para exprimir isso. Fala-se que o próprio museu, hoje, tem que ser uma atração. Mas isso é um engodo. O que precisa é que as pessoas se espantem com o conteúdo. A fantasia faz parte da criação, mas não para venda. Museu hoje é para enganar. Talvez haja muito museu para uma educação deficiente. Para mim, falta a formação. Nós mesmos temos que ser um museu ambulante em termos de conhecimento e de repassar isso adiante.

Cito Gramsci, que lá nos anos 30 disse: ‘O velho está morrendo, o novo não consegue nascer, e nesse interregno muitos sintomas mórbidos aparecem.’ E daí vemos esses prédios de 400 andares, absolutamente desnecessários, construídos sobre crianças pobres… Mas também acredito que o mundo vai se encontrando, anulando esses sintomas mórbidos. A técnica não foi feita para produzir desastre e a arquitetura foi feita para exibir o êxito da técnica.” 

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 As cadeiras podem ser vistas/compradas na Futon Company – Rua Mateus Grou, 370, Pinheiros, São Paulo – tel. 3083-6212 www.futoncompany.com.br

Fotos: Alessandra Przirembel Angeli