Recentemente esteve no Brasil para uma rápida visita, Chiara Lungarotti, uma jovem umbra que tem muita história para contar. Chiara tem um grande número de paixões e as que mais se destacam são o vinho, sua terra natal e a música. É Presidente Nacional do Movimento do Enoturismo, Assessora da Fenovini, Vice-Presidente da Donne del Vino Association e Conselheira Administrativa da Fundação Perugia de Música Clássica.
Muito discretamente, após alguns minutos ao lado dessa enérgica mulher, nota-se que ela tem uma outra grande paixão, o jovem Giovanni, seu filho. Com todo esse curriculum, ela e seu importador no Brasil, organizaram um evento ‘enogastronômico’, petit comitée, no belo e agradável Restaurante Le Chef Rouge. Ciro Lilla, o proprietário da importadora Mistral, uma das grandes do país e responsável hoje pela importação dos vinhos Lungarotti, estava muito feliz, pois era estreia de mais um grande produtor em seu portfólio.
Os vinhos Lungarotti já estiveram no Brasil nas mãos de outro importador. A família Lungarotti é da Umbria e lá, são além de produtores de vinhos, proprietários de um importante hotel. A Umbria é uma região linda na Itália, cuja cidade mais importante é Perugia, terra dos deliciosos chocolates Perugina. Muito mais que o chocolate, principalmente para os amantes da culinária, a Umbria é a terra do Tartufo Nero De Norcia. Uma iguaria usada na culinária. O bom do Tartufo Nero é que seu preço é muito mais accessível do que os caríssimos e deliciosos Tartufo Bianco D’Alba, do Piemonte.
A agenda de Chiara nesses poucos dias de Brasil foi dedicada parte para a música e parte para divulgar sua terra natal e principalmente seus vinhos. O belo jantar oferecido por Ciro Lillo foi meticulosamente desenhado por Renata Braune, a Chef do Restaurante, que preparou um menu para acompanhar os vinhos que estavam sendo lançados aqui no Brasil. Tudo correu impecavelmente no jantar, mas vamos mesmo contar um pouco mais da vinícola e seus vinhos.
A família Lungarotti é mais conhecida com seus vinhos de Torgiano, uma pequena cidade na região, mas recentemente a família adquiriu também propriedades em Montefalco, também na Umbria e não muito distante de Torgiano. Na década de 70, Giorgio Lungarotti conseguiu um feito fantástico, colocou a Umbria no mapa mundi na produção de grandes vinhos ao produzir seus Rubesco (Torgiano) 1971 e 1975. Giorgio, assim como as filhas Teresa e Chiara, tinha muito orgulho de sua terra e uma verdadeira paixão pelos seus vinhos, principalmente o Torgiano Rubesco, produzido a partir das castas Sangiovese e Canaiolo, castas estas que brilham ainda mais na vizinha Toscana. À época, década de 70, esses dois vinhos foram comparados com grandes vinhos e até com os imortais vinhos de Bordeaux.
Com a morte de Giorgio, as filhas Teresa e Chiara assumiram a propriedade, que passou a ser a primeira grande vinícola da Itália sob o comando exclusivo de mulheres. Segundo o renomado guia italiano Gambero Rosso, o trabalho impecável desenvolvido pelas irmãs Lungarotti trouxe de volta o encanto que colocou esta propriedade em Torgiano entre as mais prestigiosas vinícolas da Itália.
Pois bem, dos sete vinhos degustados tivemos dois brancos, quatro tintos e um doce. Os vinhos básicos da casa, tanto o branco “Grechetto 2009”, produzido a partir da casta branca mais importante da região (de nome Grechetto) e como o tinto “Sangiovese 2008” estavam muito gostosos. Ambos sem muito segredo (sem maquiagens) e mostrando o caráter da região.
O segundo branco foi o excelente Torre di Giano Vigna Il Pino 2007. Um vinho da DOC (denominazione di origine controlatta) Bianco di Torgiano, produzido a partir de 70% de Trebbiano e 30% de Grechetto. Cerca de 30% das uvas são fermentadas em barricas de carvalho, o que confere mais intensidade ao conjunto. Um branco delicioso e repleto de personalidade.
Os tintos foram servidos na seguinte ordem: Rubesco Riserva Vigna Monticchio 2004 seguido do San Giorgio 2003 e por último, antes do doce, o Sagrantino di Montefalco 2006. O primeiro mostra o classicismo e o estilo dos vinhos da Umbria (70% Sangiovese e 30% de Canaiolo), já o segundo é uma espécie de Super Umbrian, uma resposta dos Lungarotti aos Super Tuscan, que fizeram e continuam fazendo sucesso mundo a fora, divulgando os vinhos italianos com castas francesas como Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, etc.
O San Giorgio foi criado em 1977 por Giorgio para provar que a Umbria poderia também elaborar um grande vinho com castas internacionais. O San Giorgio 2003 foi elaborado com 50% de Cabernet Sauvignon, 40% de Sangiovese e o restante de Canaiolo. Os dois vinhos estavam impecáveis, com muito estilo, bom corpo e complexidade.
O Vigna Monticchio foi melhor, principalmente por demonstrar o caráter local e estilo muito italiano. O San Giorgio é mais moderno e mais internacional. O último tinto foi o encorpado Sagrantino di Montefalco 2006, que além de mais jovem e menos pronto, mostrou a força da casta Sagrantino, uma das castas mais ricas em polifenóis, dentre todas. Um especial vinho que precisa de mais um ano de garrafa para ter melhor integração entre os taninos, o álcool, a fruta e a madeira.
Para encerrar a deliciosa noite, nada melhor que finalizá-la com um vinho doce, o Dulcis 2006, produzido com Trebbiano majoritariamente e complementado por outras castas locais. Um vinho branco fortificado encantador mostrando força e equilíbrio. Encerramos uma deliciosa noite com uma doçura cheia de graça, feminina.