Novo filme do Superman não é só um espetáculo visual e uma ótima fita de ação: é uma metáfora sobre o papel do herói na sociedade
Quando foi lançado em 1938, Superman logo se tornou um ícone dos super-heróis por ter como princípios a moral e a ética, defendendo os mais fracos da corrupção, violência e da dominação dos mais poderosos. Ao longo desses 75 anos, o herói de capa vermelha passou por várias mudanças, tanto visual como na estrutura da sua história, morrendo, ressuscitando, ganhando novas variações, mas sempre enfrentando os dilemas da sua existência e do seu legado. No entanto, parecia que, com todas essas reinvenções e reimaginações, ele perdia a grande aura que tinha como a figura da capa vermelha.
Em 2006, o diretor Bryan Singer (que havia acertado a mão com os dois primeiros filmes do X-Men) dirigiu Superman – O Retorno, uma espécie de homenagem ao estilo mais clássico do personagem e do filme original, de 1978. Um quase fracasso de bilheteria, a Warner Bros. não tinha mais planos de leva-lo de volta para as telonas até que Christopher Nolan fez do Batman uma franquia bilionária e com uma nova vertente para as adaptações dos quadrinhos.
Com o público acostumado com a pirotecnia e cores dos filmes da Marvel, era objetivo da Warner e da DC recriar o personagem com tons semelhantes ao do Batman de Nolan, mais sombrio e realista.
O resultado?
Um dos melhores filmes dos últimos tempos. O Homem de Aço (Man of Steel, EUA, 2013) não só consegue reintroduzir de vez o personagem para esta nova geração, como também consegue agradar tanto os fãs mais radicais como uma pessoa “desavisada” que vai aos cinemas.
A trama escrita por David S. Goyer e Nolan apresenta um herói ainda se questionando sobre o seu papel na Terra. Interpretado por Henry Cavill, o personagem ganha várias camadas psicológicas por nuances de olhares e trejeitos bem discretos do ator. Fisicamente, o personagem também é bem mais trabalhado que todas as outras representações anteriores.
Aqui acompanhamos o jovem Clark Kent descobrindo seus poderes extraordinários e suas origens. Ao se tornar um jovem homem, ele viaja para descobrir de onde veio e a razão pela qual foi enviado. Mas o herói dentro de si deve se manifestar se ele quiser salvar o mundo da aniquilação e se tornar um símbolo de esperança para a humanidade.
Dirigido por Zack Snyder (300 e Watchmen), O Homem de Aço é um filme que foi construído com muita qualidade: começando pela sua estética, é um filme muito bem trabalhado. Com cores cinzentas, flares e câmeras rápidas, a fita evoca grandes batalhas de guerra e entra de cabeça na ação, afinal, são deuses que se enfrentam na Terra, e não um simples herói que precisa tomar cuidado para não quebrar a janela do vizinho. Então dá-lhe destruição em massa e altos efeitos sonoros.
Os flashbacks e até algumas cenas com o personagem já adulto trazem closes de pequenos detalhes e são construídos de modo poético de uma maneira que você nunca imaginou que se encaixaria tão bem num filme de um herói.
Isso só comprova o ótimo uso dos efeitos especiais e sonoros, que engrandecem ainda mais as cenas de ação, voo e construção de cenários. O único porém fica para o 3D, que nem cria uma sensação de profundida ou nos coloca dentro da ação, sendo bem desnecessário.
Outro destaque é a ótima trilha de Hans Zimmer, que esquece o tema clássico criado por John Williams e compõe algo mais épico, orgânico e com ar de ficção científica. A música aqui não é concreta, mas tem uma importância de engrandecer o que o personagem faz, e vai crescendo conforme Clark Kent vai se estruturando. Com o uso de vários instrumentos de corda e eletrônicos, Zimmer consegue, mais uma vez, fazer uma obra independente ao filme e de máxima qualidade.
Da parte dos atores, todos foram uma boa escolha: Henry Cavill é simpático e tem boa presença de tela, acertando a sua interpretação com algumas nuances bem discretas quanto ao personagem. E é impressionante também como ele conseguem representar um adolescente de quase 20 anos e, na cena a seguir, estar com 30 e poucos e mudar por completo postura, voz e olhar.
Amy Adams também manda muito bem como Lois Lane, sendo sensacional com a sua impulsividade e atitude. Russell Crowe também rouba os poucos minutos que aparece em tela, mas é Michael Shannon que domina a fita: ele está excelente como o General Zod, um personagem surtado e realmente perigoso.
O mais legal é que a história, por meio de simbolismos e referências visuais, cria justamente essa dilema e reflexão do personagem ser um deus no meio de humanos, e o que ele pode trazer para o povo com os seus poderes. Afinal, o tio de um outro personagem disse que, “grandes poderes vêm grandes responsabilidades” – e o Superman aprende que isso é a mais pura verdade. Assista ao trailer!
Emblemático, divertido e espetacularmente construído em camadas mais singelas de simbolismo, O Homem de Aço sem dúvida é um dos melhores filmes do ano. E, depois de sair do cinema lotado e ter visto a cara de satisfação do público de diversas idades, posso admitir uma coisa: ainda acredito que o homem pode voar.