O sustentável drama do amor
Muitos não entendem, realmente, o que é o ciúme, que maltrata tanta gente no sustentável drama do amor, também chamado de Síndrome de Otelo, em nome da tragédia de Shakespeare, em que o rei negro mata Desdêmona, mesmo louco de paixão, em nome das acusações invejosas e mentirosas de Iago, o primeiro a afirmar “o monstro dos olhos verdes que zomba do alimento de que vive”.
Trata-se de um estado emocional caracterizado pela ansiedade e desejo intenso de obter segurança e o olhar que alguém amado dirige para outro ponto. Revela angústia inerente ao fato de ser desalojado de um lugar que se acreditava conquistado.
Para o ciumento, por incrível que possa parecer, o jogo do amor só tem um desfecho: a pessoa amada o trairá e essa derrota anunciada está escrita desde sempre, o que faz dela um mistério singular e indecifrável. As raízes do ciúme que desembocam na insegurança, foram fincadas nas dúvidas dos primeiros momentos da existência ao se romper a perfeita harmonia entre a mãe o bebê e segue quando este a vê dedicar-se aos outros: a quem mais ela ama além de mim?
Eis porque o ciumento projeta, prevê, espreita, julga adivinhar, procura provocar os tormentos que teme. O que espera? Nem mesmo ele sabe…em certo estágio, o dominado se alimenta de um prazer vindo de uma imaginário amplo que tanto o transforma em perdedor quanto em ganhador, num jogo fantástico e caótico que o faz torcer para que sua projeção se torne realidade. É a chamada linguagem do caos.
Agora, o mais importante de se entender e o que a maioria das pessoas desconhece: o ciúme está fora do fato, desaparece diante dele. É sempre projetado. Sua força está na imensa fantasia, no duelo de amor e ódio que esse estado de espírito provoca em relação ao objeto amado.
Ou seja: só temos ciúme quando não temos uma realidade à frente, eis a projeção, que leva a elaborar cenas, imagens, situações. Se uma pessoa pega um parceiro no flagra, se abre a porta e se depara com uma cena determinada, não há ciúme, há revolta, vontade de matar, de destruir. Pode ser tudo, menos esse estado emocional. Tá certo?
É também sinal de uma fixação que é preciso interrogar. Além da mera relação a dois, já que se estende às figuras de admiração, o que provoca a identidade mal constituída que é consequência e não causa.
Fundir-se num mesmo todo com as pessoas amadas num momento é a meta dos vínculos que constroem um ciumento forte. A ofegante intensidade fusional é o seu destino. Até que aprenda que ninguém pertence a ninguém, um longo caminho no aprendizado do autoconhecimento.