Nos últimos 40 dias tivemos 3 eventos de primeira grandeza em São Paulo
Nos últimos 40 dias na desvairada São Paulo tivemos 3 eventos relacionados ao vinho de altíssimo nível. Foram mesmo inesquecíveis pela diversidade de cada um. Começamos com a visita da dupla Giuseppe e Giuseppe Bologna. Isso mesmo, primos homônimos. O “1º” Giuseppe é filho do lendário Giacomo Bologna da Cantina Braida, de Roccheta Tanaro no Piemonte. O genial e enérgico Giacomo foi quem “inventou” a Barbera Barricata.
A casta Barbera ,um das mais importantes da Região, era antes destinada a produção de vinhos mais simples e para consumo mais massivo. Foi então que com as uvas Barbera da especial safra de 1982 que Giacomo decidiu amadurecer seu vinho em barricas de carvalho de 225 litros. Daí nascia um grandíssimo vinho e que representa os grande Barbera, o Bricco dell”Uccellone. O “2º” Giuseppe é o chefe do restaurante da família em Roccheta Tanaro. Para recepcionar os convidados Giuseppe da Braida escolheu os vinhos e na cozinha, ao lado de Alex Atala, estava o primo Giuseppe.
A sempre encantadora Ana Rita Zannier da Expand foi quem nos recebeu no Dalva e Dito. A comida estava impecável e os vinhos também, mas o 2 ultimos tintos estavam fabulosos. Eram eles os deliciosos Bricco dela Bigotta e o ,já citado, Bricco dell”Uccellone, ambos da especial safra 2007.
Pois bem o que foi mais difícil foi escolher quais desses dois vinhos estava melhor. O Uccellone 2007 com seus impressionantes 15,5º de álcool estava reluzente, firme e com in crível frescor. Sua acidez, a fruta e o álcool estavam supreendentemente integrados.
Já o La Bigotta estava mais elegante, porem com a mesma e vibrante acidez. Dois tintos absolutamente deliciosos e que de fato nos trazem o quão especial é a casta Barbera. Minha avaliação foi de 93 pontos para os dois. Um empate técnico. Talvez daqui há 10 anos, o Uccellone possa superar seu irmão La Bigotta.
O segundo evento foi um challenge entre grandes Syrah do norte do Rhône da extraordinária safra 2009 versus grandíssimos Syrah/Shiraz da Austrália, Estados Unidos e Chile . Como aperitivo para esse grande evento tivemos um branco e que branco.
Tratava-se do sublime e inebriante M. Chapoutier St-Joseph Les Granits 2009, que foi para seu colunista o mais impactante branco degustado to date em 2012. Esse branco produzido a partir de 100% Marsanne é exótico e muito perfumado. A fruta cítrica presente aliada aos toques de mel com um final mineral e hints de flores compõem um buque extasiante. Em boca é verdadeiramente eletrizante. Um branco encorpado repleto de vida. Inesquecível.
Ah! Voltando aos Syrah/Shiraz a briga foi sensacional e com impressionantes surpresas. O campeão da noite foi uma surpresa. Como foi a 1ª vez que havia degustado esse vinho, a surpresa foi ainda maior. Um tinto marcante tanto nos aromas quanto em boca e que foi o campeão pelo extremo equilíbrio apresentado. Realmente delicioso.
Trata-se do Charles Smith Syrah Columbia Valley Royal City Stoneridge Vineyard 2008 que derrotou por pouco o também extraordinário M. Chapoutier Le Pavillon 2009, que nos tasting mostrou o classicismo dos grandes Syrah franceses. Minhas pontuações para esses dois vinhos foram de 98 pontos.
O sempre espetacular Penfolds Grange 2004 , o Shiraz mais importante da terra dos Cangurus, teve também uma excepcional performance ao lado do seu mais ferrenho rival o Astralis 2005 da Clarendon Hills, hoje o tinto mais caro de toda Austrália. Minhas avaliações foram de 94 pontos para o Grange e 95 pontos para o Astralis. O nível dessa degustação foi realmente muito alto. Ainda como surpresa positiva tivemos o Montes Alpha Syrah 2008 que estava muito gostoso, principalmente se considerarmos que o preço dessa garrafa é cerca de 15 vezes menor que a do Grange, por exemplo. As decepções ficaram por conta do M. Chapoutier Le Meal 2009 e do Montes Syrah Folly 2004, esse último incrivelmente derrotado por seu irmão, o Montes Alpha.
O último evento para fechar esses gloriosos últimos dias aconteceu no Restaurante Skye. A importadora Todo Vino ,do grupo Interfood, organizou um belíssimo evento para recepcionar pela 1ª vez no Brasil o executivo responsável pela Maison Armand de Brignac, da região de Champagne. Essa Maison é de propriedade da família Cattier, uma das mais renomadas casas produtoras de Champagne. O competente e alegre chef Emmanuel Bassoleil preparou em excepcional cardápio para acompanhar as joias da família Cattier, que foram apresentadas pelo simpático Brett Berish, que representava os renomados Champagnes. Brett apresentou os 3 Champagnes da casa.
São eles o Brut Gold, o Rosé e o Blanc des Blancs. Como no challenge de Syrah/Shiraz foi difícil escolher o mais especial de todos. Vale ressaltar que todos os Champagne foram avaliados com pontuações superiores a 95 pontos, ou seja, um trio de Champagnes de exceção. O interessante da casa Cattier é que os seus Champagnes se destacam por blends, ou seja, a casa é especialista em assemblages e não em Vintage’s. O primeiro a ser servido foi o Brut Gold. Esse blend de 3 safras é composto por 40% Chardonnay. 40% Pinot Noir e 20% Pinot Meunier. Um Champagne do estilo encorpado, construído para ir a mesa e acompanhar pratos com personalidade. Apresentou imensa complexidade aromática e uma textura impressionante. Foi o mais espetacular Champagne degustado em 2012, repetindo o feito do branco Les Granits mencionado acima. Minha avaliação para esse Champagne foi de 96 pontos.
Logo após chegou a mesa o Armand de Brignac Blanc de Blancs. Por ser branco de brancas é um Champagne elaborado a partir de 100% da casta Chardonnay (á única casta branca utilizada na elaboração dos Champagens). Diferentemente da Brut Gold apresenta mais finesse, mais delicadeza. Seus aromas predominantes são de frutas cítricas, flores brancas e damascos, com um toque delicioso de baunilha no final. Em boca é confirmada a elegância. Sua acidez é deliciosa e seu final de boca é longo e duradouro. Minha avaliação final foi de 95 pontos.
Por último tivemos a oportunidade de provar o Armand de Brignac Rosé. Sua cor é absolutamente linda. Um rosa mais para o forte. Perlage fina e abundante. Sua composição é 50% Pinot Noir, 40% Pinot Meunier e 10% Chardonnay. Esse é um Rosé elaborado com 10% de vinho tinto (Pinot Noir). Seus aromas são fascinantes com a fruta vermelha emergindo da taça, seguida de toques levemente defumados. Boca muito volumosa e alegre. Mais um grandíssimo Champage que esbanja charme e personalidade. Minha avaliação foi de 96 pontos. Vale ressaltar que todos esses 3 Champagnes tem estrutura para evoluir em garrafa por 10/15 anos. Podemos garantir que dentre os Champagnes non vintage essa casa é um das mais expressivas dentre todas da região de Champagne. A Brut Gold supera facilmente o Krug Grand Reserve. Talvez os únicos rivais dentre os non vintage do Armand Brignac Brut Gold sejam as TOP Cuvée’s da Maison Laurente Perrier, o La Grande Siecle e o La Grand Siecle “La Cuvée”.