Paulo Coppo e Mario Cordero representam duas das mais renomadas casas do Piemonte e sempre estão juntos mundo afora, com um discurso apaixonante sobre uma das mais belas regiões vitivinícolas do planeta
Inseparáveis, com uma harmonia incrível e uma paixão especial pelo nosso país, Mario Cordero e Paolo Coppo, estiveram mais uma vez no Brasil para divulgar além de seus vinhos, a cultura de uma região que tem o vinho e a gastronomia como religião. Mario é casado com uma das herdeiras da Casa Vietti de Castiglione Falleto, que produz seguramente alguns dos mais encantadores Barolos dentre todos. Além de Barolos a casa vem produzindo a cada ano que passa excepcionais Barbera D’Alba, além dos tradicionais Roero Arneis e Moscato D’Asti, um branco e um branco doce respectivamente. Já Paolo é descendente direto do lendário Luigi Coppo que fundou a vinícola há mais de 100 anos.
A casa Coppo produz talvez os melhores Barbera D’Asti de todo Piemonte e complementa seu portfólio com um excelente Chardonnay de nome Monteriolo, excepcionais espumantes produzidos a partir do método clássico e também um Moscato D’Asti. Podemos dizer que Paolo e Mario são embaixadores da cultura enogastromica do Piemonte. Recitam de maneira cativante a paixão pelas Trufas Brancas de Alba, os Cogumelos (Funghi) Porcini e outras delícias dessa linda região.
Quando o assunto é vinho focam de maneira totalmente harmônica a importância da preservação da tipicidade da região, do Terroir do Piemonte. O evento destinado aos jornalistas para recepcionar Batman e Robin, ou seja, Mario e Paolo, foi no simpático Bar Bottagallo, no Itaim Bibi em São Paulo. Comandado por Ciro Lilla da importadora Mistral, que é responsável pela importação dos vinhos dessas duas casas há mais de 15 anos, tivemos talvez um dos mais completos eventos de vinho do ano, pois além de desfrutarmos mais de duas horas com essa cativante e aguerrida dupla, tivemos a oportunidade de provar cinco vinhos de cada casa.
Tivemos um branco, três tintos e um doce de cada um deles. Todos os vinhos estavam excelentes em cada faixa de preço e estilo. A harmonia deles é tão grande que os vinhos foram servidos com uma cadência impecável no quesito sequência de intensidade, presença e estilo (os doces ficaram para o final).
Começamos com o vibrante Vietti Roero Arneis 2009. Um branco cheio de frescor e vida, que casou perfeitamente para a recepção. Um vinho apetitoso que foi elaborado para ser degustado mesmo na juventude. Excelente para acompanhar frios como salames, presunto cru e copa.
Na sequência tivemos um vinho que pode ser considerado uma obra prima e que deve ser colocado como um dos melhores brancos da Itália, talvez de todos os tempos. Para amantes da casta Chardonnay com estilo borgonhês, aqui vai uma dica. Não percam a oportunidade de provar o Monteriolo 2006. Esse branco ,100% Chardonnay, sempre é excelente, mas especificamente esse da safra 2006 é fabuloso. Recentemente tive a oportunidade de provar o Monteriolo 2003 e o 2005 e posso assegurar que o 2006 é superior, principalmente no quesito elegância e equilíbrio.
Paolo nos confessou que na safra em questão diminui um pouco a carga de madeira nova no processo de afinamento nos barris e com isso tivemos um vinho mais leve, fresco e com elegância de sobra. Aromas muito apetitosos de frutas, com destaque para abacaxi seguidos de nuances florais e um delicioso toque mineral. É mesmo um vinho que poder ser degustado ao lado de alguns premier cru e grand cru da Borgonha e não vai fazer feio. Um branco excepcional hoje e que continuara evoluindo na garrafa por cerca de 10 anos.
Após os dois brancos começava chegar à mesa o primeiro tinto. A Dolcetto é uma casta autóctone da região do Piemonte e é responsável por produzir vinhos frescos e fácies de beber. Raramente passa por madeira, prestigiando sempre a fruta. O Vietti Dolcetto D’Alba Tre Vigne 2008 é o caso em questão. Não passa por madeira e mostra mesmo a fruta e a suculência de um vinho jovem, cheio de vida.
Mario fez uma brincadeira dizendo que os bons Dolcetto’s são como Beaujolais, mas os Cru’s e não os Noveau. Uma alusão com fundamento que esse vinho pode ser comparado com bons Morgon, Julienas ou mesmo Chiroubles, por exemplo.
Após o início com um tinto apetitoso e repleto de frescor, chegava à mesa uma bateria de três Barbera puros. A Barbera ,também autóctone do Piemonte, é uma cepa extremamente versátil. Até o início da década de 80 do ultimo século era destinada a vinhos mais simples, sem muito compromisso. Com um aspecto semelhante aos Dolcetto, porém com mais acidez e intensidade.
Pois bem na safra de 1982, um revolucionário chamado Giacomo Bologna, conhecido também pelo seu apelido, Braida, decidiu pegar suas melhores uvas Barbera e as colocar em barricas de carvalho. Nascia então o Barbera Barricato, que logo a seguir foi batizado por Braida de Bricco dell’Uccelone, hoje um dos grandes tintos da Itália.
Voltando a nossa bateria tivemos na ordem o Barbera D’Asti Camp du Rouss 2006 de Coppo, o Barbera D’Alba Scarrone Vigna Vecchia 2007 de Vietti e por último o Pomorosso Barbera D’Asti 2005 de Coppo. Imagine três vinhos de características, terroir (dois de Asti e um de Alba), intensidade, profundidade, corpo e safras distintas, à mesa, e todos a partir da mesma casta.
Foi uma verdadeira aula de Barbera. O Camp du Rouss 2006 alia frescor e média intensidade e corpo, sendo um dos mais especiais e de melhor custo beneficio dessa casta, dentre todos do mercado. É fácil de beber e pode acompanhar diversos pratos desde aperitivos até estar ao lado de uma boa carne grelhada.
Logo em seguida viriam dois tintos de tirar o fôlego. Sensacional a oportunidade de ver lado a lado dois Barbera de alta estirpe, um de Alba e outro de Asti. O Scarrone Vigna Vecchia 2007 era pura fruta negra madura (ameixas) em total consonância com toques de couro, alcaçuz e nuances defumadas. Seu conjunto olfativo é sensacional e quando comparado com o Pomorosso 2005 apresenta um toque levemente mais rústico, que o faz ainda mais inebriante.
Gustativamente é confirmado o vigor do olfato comprovando ser um vinho de altíssima qualidade. Seus taninos são de excelente formação e seu final de boca é longo. Estava delicioso e pode evoluir por seguramente mais 15 anos na garrafa. Uma expressão máxima de um Barbera D’Alba. Já o Pomorosso 2005 apresenta um conjunto olfativo mais sutil, elegante e de certa maneira mais “doce” que o Scarrone. Na boca seu taninos são redondos, fascinantes. Retrogosto elegante e duradouro.
Se quiser mais tipicidade e uma acidez vibrante vá de Scarrone e se prefirir um vinho mais elegante e sutil, vá de Pomorosso. Para facilitar e descontrair um pouco poderíamos dizer em tom alegre que o primeiro seria um “Barbera Bordeaux” e o segundo um “Barbera Borgonha”.
O penúltimo tinto era um Super Piemonte, uma alusão aos Super Toscanos. Paolo Coppo batizou de AlterEgo seu vinho que leva 60% de Cabernet Sauvignon e 40% de Barbera. Provamos o AlterEgo 2006. Um vinho muito interessante pois a Cabernet repleta de estrutura casa de maneira interessante com a acidez e alegria da Barbera. Mais uma deliciosa experiência da impressionante safra 2006 do Piemonte.
Para encerrar os rossos, não poderíamos deixar de degustar um grande Barolo dos Vietti. Para não deixar por menos Ciro Lilla e Mario, escolheram um dos mais imponentes e clássicos Barolos dentre todos. O escolhido foi o Rocche 2006. Rocche é um vinhedo único que produz um dos mais especiais vinhos a base da mágica e ao mesmo tempo desafiadora uva Nebbiolo. Digo desafiadora, pois essa casta só produz grandes vinhos exatamente em seu berço, no Piemonte.
Muitos ensaios com a casta em questão foram realizados pelo mundo, mas o classicismo, a elegância, a finesse, a personalidade e a profundidade, só são mesmo alcançadas nessa região no noroeste da Itália. Talvez a Nebbiolo seja mesmo como a maior iguaria dessa região, o Tartufo Bianco, que como um bom Nebbiolo só se encontra por lá.
Gran Finalle equilíbrio tanto no nariz quanto em boca. A personalidade e estilo são marcantes. Para qualquer enófilo do mundo, beber um bom Barolo como esse deveria ser uma obrigação. Um tinto inesquecível, que ainda se encontra muito jovem. Um vinho para 30 anos de evolução pela frente. Uma obra prima colecionável.
Após o Gran Finalle, tínhamos que adoçar a boca e fomos para dois brancos doces frisantes denominados Moscato d’Asti, que são também quase uma religião no Piemonte. Ambos da safra 2009. O Vietti Moscato D’Asti Cascinetta e o Coppo Mostacto D’Asti Moncalvina. Ambos de baixa graduação alcoólica (7,5º GL) com uma doçura equilibrada e muita vivacidade. Esse encantador vinho é feito sob medida para acompanhar uma bela salada de frutas ao final de uma refeição, mas por ser um branco versátil, fresco e alegre, o Moscato D’Asti, pode também ser servidos como aperitivo.
Com essa leve doçura encerramos uma grande noite 100% Piemontesa e esperamos a próxima visita dessa dupla que prima pela harmonia e paixão pelo lindo Piemonte.