Ambientalista africana, Prêmio Nobel da Paz de 2004, deixa inestimável legado de sustentabilidade
Neste ano, em que o Prêmio Nobel da Paz vai para um trio de mulheres africanas – Ellen Johnson Sirleaf, Leymah Gbowee e Tawakkul Karman – por seus esforços regidos pela não-violência para a segurança e pelos direitos das mulheres e sua participação na construção da paz, uma outra mulher, a queniana Wangari Maathai – a primeira africana a receber o Prêmio Nobel da Paz, em 2004, – nos deixa um legado importantíssimo: a consciência e a proposta de ações sobre a problemática sustentável em nosso planeta e sua relação com a pobreza e a qualidade de vida.
Também pioneira na África como PhD em ciências biológicas e medicina veterinária, Maathai tornou-se ambientalista a partir de 1970, quando, ao trabalhar no Conselho Nacional de Mulheres, lançou uma campanha para denunciar o estado de degradação crescente e alarmante das florestas remanescentes do Kênia, então com apenas 5% da cobertura original.
Assim foi que no Dia da Terra de 1977 ela fundou o Movimento Cinturão Verde (Green Belt Movement), representado pelo ato simbólico de plantar sete árvores em homenagem a sete lideranças femininas do seu país. Wangari acreditava firmemente que as mulheres quenianas fariam a diferença para reverter o quadro de devastação ambiental que abria caminho para o deserto do Sahara se impor mais e mais no território do Quênia.
Através do Green Belt, ela não apenas iniciou um programa de conscientização, de reflorestamento e de recuperação da agricultura “caseira” para combater a fome, mas o utilizou como forma de chamar atenção para o problema social e a opressão política. Sua estratégia foi proteger e fortalecer a própria base para o desenvolvimento ecologicamente sustentável.
Quarenta e cinco milhões de árvores plantadas depois, Wangari alcançou reconhecimento mundial, mas além de premiações por suas iniciativas foi também presa diversas vezes pelo ativismo contrário aos interesses do governo queniano. Com tudo isso, foi eleita para o Parlamento e depois nomeada ministra do meio ambiente.
Sua campanha para plantar árvores extrapolou as fronteiras do Quênia e dos muitos países africanos que a adotaram, e, encampada pelas Nações Unidas, hoje tem alcance global – Plant For The Planet – The Billion Tree Campaign
Em 2004, laureada pelo Nobel da Paz por sua contribuição para o desenvolvimento sustentável, democracia e paz, declarou: “Hoje somos confrontados com um desafio que exige uma mudança em nosso pensamento, para que a humanidade deixe de ameaçar o seu sistema de suporte de vida. Somos chamados para ajudar a terra a curar suas feridas e, no processo, curar as nossas próprias – na verdade, abraçar toda a criação em toda a sua diversidade, beleza e maravilha. Isso vai acontecer se nós enxergarmos a necessidade de reavivar o nosso senso de pertencer a uma família de vida maior, com a qual temos compartilhado nosso processo evolutivo.
No curso da história, chega um momento em que a humanidade é chamada a alcançar um novo nível de consciência, para chegar a uma moral mais elevada. Um tempo em que temos de lançar mão de nosso medo para dar esperança um ao outro. Este tempo é agora.”
Wangari Maathai morreu de câncer, aos 71 anos, no dia 25 de setembro de 2011, em Nairobi.
Conheça outras declarações que a notabilizaram:
“Plantar árvores é plantar ideias. Ao começar com o simples ato de plantar uma árvore, damos esperança a nós mesmos e às futuras gerações.”
“É evidente que muitas guerras são travadas sobre os recursos que agora estão se tornando cada vez mais escassos. Se tivéssemos conservado melhor os nossos recursos, não precisaríamos lutar por eles… Assim, proteger o ambiente global está diretamente relacionado a assegurar a paz… Aqueles de nós que entendem o complexo conceito complexo de meio ambiente têm o ônus de agir. Não devemos cansar, não devemos desistir, temos que persistir.”
“Enquanto não houver confiança e certeza de que haverá justiça na distribuição justa de recursos, o posicionamento político permanecerá mais importante que o serviço.”
“Investi 20 anos da minha vida nesta campanha para o meio ambiente e ainda estou apenas arranhando a superfície. Confio na vitória. Ninguém vai construir qualquer coisa [na floresta] enquanto vivermos. Não podemos dignificar o roubo.”
“No mundo há uma nova força coletiva de pessoas se mobilizando em torno da questão da paz, relacionando-a com a necessidade de proteger o meio ambiente. Mas devemos direcionar a nossa visão coletiva e responsabilidade para formatar a paz não só para o nosso país mas também para toda a África.”
“As mulheres do Green Belt Movement aprenderam sobre as causas e os sintomas de degradação ambiental. Elas começaram a perceber que, ao invés do governo, deveriam ser elas as guardiãs do meio ambiente.”
“Percorremos um longo caminho da ignorância para o conhecimento profundo, do medo à coragem e das ruas para o Parlamento. Passamos do ‘eu’ para os outros, de ‘meu problema’ para ‘nossos problemas’, de casa para as comunidades, de nível nacional para global. Agora abraçamos os conceitos de nossa casa comum e futuro.”
“É como se os líderes não entendessem o impacto de sistemas políticos e econômicos injustos, que promovem a degradação ambiental e o modelo de desenvolvimento não-sustentável. Quando será que esse negócio será considerado inaceitável pela comunidade mundial?… Os desafios da África têm sido abordados em diferentes níveis, e alguns sucessos têm sido registrados. Mas não tão rápido quanto necessário. Os conceitos de desenvolvimento sustentável, com modelos apropriados e participativos, não são externos a nós. Estamos conscientes de que nossas crianças e as futuras gerações têm direito a um mundo que também precisará de energia, deverá estar livre de poluição, ser rico em diversidade biológica e desfrutar de um clima que sustente todas as formas de vida.”
Fotos: Reprodução