Mais do que um filme visualmente impecável, uma história tensa e um 3D impressionante, “Gravidade” explora a grandeza do homem
Em determinado momento de Gravidade (Gravity, EUA, 2013), a cientista espacial Ryan Stone (Sandra Bullock) finalmente consegue entrar na estação espacial russa, ela tira de forma desesperada todo o equipamento espacial e finalmente consegue respirar direito. Ela silencia, se encolhendo depois de todo sofrimento e desafio, ficando em posição fetal. Ao fundo, o sol começa a desaparecer e alguns cabos flutuam atrás da personagem, criando uma imagem que parece um feto dentro de um útero sendo alimentado por um cordão umbilical.
Pegando essa singela cena de Gravidade, do diretor mexicano Alfonso Cuarón (que foi responsável pelo formidável Filhos da Esperança e também amadureceu o universo de um bruxo famoso em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban), dá pra concluir que o homem nunca deixou de ser uma criatura curiosa e conquistadora, aprendendo que, para tudo existe um limite.
De forma emocional, metafórica e tensa, o filme escrito por Alfonso e seu filho Jonás Cuarón transforma a jornada da Dra. Stone em algo intimista, tendo como pano de fundo a vastidão espacial.
O filme começa com um catastrófico acidente quando restos de um satélite russo desativado começa a rodar a órbita terrestre e danifica a nave em que ela e a equipe estão, deixando a Dra. Stone e o astronauta Matt Kowalski (George Clooney) à deriva na escuridão espacial. A jornada deles começa no intuito de retornar para casa e sobreviver.
Falando assim, Gravidade pode parecer um filme desinteressante e monótono – sinceramente, achei que seria 90 minutos de Sandra Bullock flutuando no espaço e a câmera girando incansavelmente. Para minha surpresa, o filme foi além: essa é uma história sobre sobrevivência, exploração, inteligência e os limites do ser humano.
Para ilustrar esse universo, Cuarón cria as imagens mais bonitas do cinema de 2013, um verdadeiro balé espacial: desde a chuva de destroços, passando pela fuga pelo céu negro, pelas piruetas na gravidade zero e pela Terra refletida no capacete dos astronautas, tudo foi pensado para embelezar e criar ritmo para o filme.
Do momento em que a Dra. Stone sai voando, a câmera fica parada e ela vai se afastando, o desespero se mistura com um tom de admiração. É lindo ver do espaço a Terra, as luzes, a aurora boreal, as calotas polares e, mais do que isso, é fantástico ver toda a tecnologia desenvolvida para criar esse cenário, bem como o bom uso do 3D e da trilha sonora de Steven Price. É o verdadeiro modo de fazer cinema que é exercitado por Cuarón e todos os envolvidos.
Ao final desse momento único, fica uma estranha reflexão do papel do homem como explorador ou conquistador: todos temos um limite, mas desbravar o novo é o que nos motiva. Li que todos temos a coragem dentro de nós, e que é preciso um momento e um motivo para colocá-la para fora. A jornada da Dra. Stone em Gravidade explora muito bem isso: por trás de todo o drama que ela passa ou já passou, ela encontra força para renascer – e a cena que descrevi no início desse texto expressa muito bem isso, já que ela renasce e coloca para fora toda a força que tem, mostrando todo seu instinto de sobrevivência.
Seja por terra, mar, céu ou espaço, o homem sempre procurou extrapolar barreiras e desbravar o desconhecido. A experiência emocional e cinematográfica que se tem com Gravidade é única, intimista e metafórica, mostrando que o homem sempre nasceu pequeno e que nossa grandiosidade é construída por nós mesmos.