Um exercício para atingir uma visão mais humanista
A paciência não é uma virtude como nos ensinou a formação judaico-cristã e nem mérito como pensam as pessoas de boa vontade, mas que desconhecem comportamento humano. É uma estratégia de vida, um recurso da inteligência, uma tentativa de se atingir a tolerância e a compreensão.
“A importância de uma grande e longa paciência para se poder viver razoável e honestamente ao lado de alguém” dizia Jung. Trabalhar essa possibilidade é tentar entender a si mesmo e aos outros para um momentâneo equilíbrio até que aconteçam mudanças.
Do latim “patientia”, ela pode ser definida como o saber esperar o curso natural das coisas e entender que existe um ritmo próprio regendo todas as identidades que se movem no mundo e que, justamente por ser identidades, são diferentes. Logo, é sempre temporária e limitada pelas possibilidades de quem abre mão. Eis porque não se pode dizer que uma pessoa é sempre paciente, já que se trata de um exercício constante.
Alguém com paciência eterna é passivo, o que é bem diferente. O grande erro é achar que se trata de uma imobilidade o que acaba por embotar nossas ânsias e desejos em nome do ritmo externo. Quando é um reconhecimento inteligente de que as coisas não podem ser do jeito que queremos e quando queremos. Logo, a paciência não é para nos modificar e sim para ajudar a nós e os outros, numa determinada situação para que se alcance uma condição melhor.
Há três grandes estímulos para que se trabalhe a estratégia da paciência: o amor, o interesse e a esperança. Sempre objetivando o que nos cabe vive e resolver, já que nada tem a ver com engolir o que nos é aversivo, o que acaba com a auto-estima e o auto-respeito.
Eis porque temos mais paciência com algumas pessoas do que com outras. Já repararam nisso? Pelo bem querer, por sentir que vale a pena, por acreditar na luz de uma reparação, de uma ultrapassagem. E que bom que é assim. Quando não há mais espera de boas possibilidades, caímos na chamada aceitação passiva ou no conformismo. Esta pesa e entristece; aquela elimina o envolvimento, já não faz sofrer, mas também não acresce. É quando temos claro diante do quadro à frente ou de alguém, o “não tem jeito”.
Pouco a pouco, com os exercícios constantes de paciência, evoluímos e atingimos uma visão humanista. É quando entendemos que não detemos todos os resultados e que precisamos desenvolver a noção do tempo de resposta e como ele funciona nos outros, assim como o esforço de nos colocarmos em seus lugares para tentar saber o que se passa, não esquecendo de olhar para o próprio umbigo já que talvez o problema não no outro e sim, em nós. Padecemos de uma individualidade teimosa.
Que nos impede de ler os sinais que a vida traz e até onde podemos ir. A paciência tem um amadurecimento, uma sequência e um limite. Quando se pereniza sem dar sinais de evolução e prejudicando o nosso próprio caminho, está na hora de dar um basta.
Senão é passividade, prejuízo da individuação, quebra do sagrado compromisso que temos conosco.
Ilustração: Texto sobre detalhe da gravura Patientia, de Pieter Bruegel, the Elder, c. 1559-1561