Livro de formação explora os horrores da guerra com um olhar corajoso, inspirador e emocionante

The Berlin Boxing Club

Histórias passadas durante as duas guerras mundiais são sensacionais. Não só por trazerem fatos de superação humana e retratar o horror da guerra, despertando um olhar crítico sobre o assunto. No mesmo estilo de vários livros que tratam sobre o assunto (como O Menino do Pijama Listrado, O Diário de Anne Frank etc.), O Clube de Boxe de Berlim (tradução de Raquel Zampil; Rocco Jovens Leitores, 392 páginas, R$ 39,50), de Robert Sharenow, trata como ninguém do papel do jovem na guerra, abordando de um modo diferente e poético a jornada do protagonista Karl Stern.

A adolescência é uma fase difícil: o corpo muda; os olhos do mundo parecem voltados, inquisidores, para você; constrangimentos diversos; medo em não ser aceito em grupo; vergonha dos pais; dificuldade em compreender suas origens, construir sua identidade, assumir quem é de fato. Tribulações estas passadas nos anos 1930, na Alemanha, por Karl Stern, jovem que nunca se pensou judeu, apesar das raízes, e que tem no boxe a oportunidade perfeita para se redescobrir e proteger sua família da cruel perseguição nazista.

O clube de boxe de BerlimCriado por um pai ateu e uma mãe agnóstica, o protagonista de 14 anos jamais frequentara uma sinagoga — sabia do sangue que corria em suas veias, mas não se via como judeu. Para a Matilha de Lobos, um clube nacional-socialista improvisado por três rapazes valentões, sua ascendência não passou despercebida pelos corredores do Ginásio Holstein. Antissemita como Adolf Hitler, que chegara ao poder no ano anterior, em 1933, o trio humilhou e surrou Karl impiedosamente. Nocaute no primeiro round.

Com seu anonimato religioso sob risco, a expansão do ideal nazista e as crescentes — e cada vez mais comuns — retaliações contra os “inimigos do regime”, Karl teria que se preocupar mais em se precaver de futuros ataques e perseguições do que em formas de ganhar peso, livrar-se da acne, namorar sua vizinha, Greta, ou a situação financeira do pai, Sigmund Stern. Fundada na década de 1920 para exibir artistas expressionistas, a Galeria Stern persistia aberta, apesar dos magros rendimentos ocasionados pela escassa venda de quadros naquele cenário político de exceção.

Com a ascensão de Hitler, a arte de vanguarda foi subjugada corrupta; artistas modernos foram perseguidos, presos; várias galerias proibidas de expor tais trabalhos, outras tantas fechadas; quadros e esculturas queimados. Sem opção, Sigmund teve que se submeter aos artistas aprovados pelo governo para poder sobreviver. E foi num desses vernissagens enfadonhos e políticos que a Galeria Stern recebeu a inesperada visita do campeão de boxe Max Schmeling, o “Ulano Negro do Reno”, amigo de longa data de Sigmund — para espanto de seu filho.

Em troca de um quadro, um retrato seu pintado pelo expressionista Grosz e guardado no porão da galeria, Max passa a dar aulas particulares de boxe para Karl, um jovem comprido para sua idade em quem enxergava um lutador nato, com envergadura de vencedor. Enfim, a chance ideal para que o adolescente, então um cartunista amador, pudesse se reinventar, melhorar sua autoestima, mostrar seu valor e, claro, defender-se da Juventude Hitlerista.

Com rigor nos exercícios físicos, dedicação aos treinamentos e atenção às lições recebidas no Clube de Boxe de Berlim de Max Schmeling, Karl torna-se um grande pugilista. Contudo, com o passar dos anos e a ameaça de uma guerra avançando, o sonho de se tornar um campeão de boxe como fora seu mentor torna-se distante. Com a perseguição e a violência contra os judeus se agravando, sua família corre grande perigo e precisa sair da Alemanha antes que seja tarde.

No entanto, como pedir ajuda ao seu herói, Max, se a crescente fama — após a vitória sobre um lutador negro norte-americano — alçara-o à posição de símbolo da supremacia ariana? Como confiar em alguém que demonstrava ter se associado a Hitler e ao alto escalão nazista? Como considerar ainda mestre quem estava endossando os ideais e as ações do nazismo? Como escapar do certeiro destino dos campos de concentração? Seria Max de fato um vilão?

Inspirado nos acontecimentos devastadores que antecederam o Holocausto e na história real do resgate de dois garotos judeus na Kristallnacht — a noite de 9 de novembro de 1938 em que sinagogas, lojas, habitações e pessoas identificadas como judias foram atacadas com violência na Alemanha e na Áustria — pelo boxer Max Schmeling, o escritor Robert Sharenow concebeu um romance de formação que mescla historicidade com emoção. O Clube de Boxe de Berlim é uma leitura que ultrapassa a mera fruição e convida o leitor a refletir sobre questões como racismo, intolerância e violência que foram motrizes das atrocidades nazistas na Segunda Guerra Mundial.

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