Pintora, ceramista, escultora, gravadora… definições que só em conjunto traduzem o perfil de Maria Villares, artista que estrutura sua obra a partir do desenho, paixão, semente e origem das expressões por onde fluem sentidos, sentimentos, imagens, momentos, histórias, colagens da vida
“Desde o início da minha formação em arte, aos 14 anos, sou centrada no desenho, que é a base para tudo. Por um bom período me dediquei à cerâmica de torno, utilitária, até me dar conta de que o caminho da industrialização não era o que eu queria fazer. Minha expressão autêntica estava na arte, e então abandonei o torno e passei a modelar a cerâmica livremente. Foi quando surgiram peças como a série de favas gigantes, que unem cerâmica e bronze.
Numa outra transição, inclusive de mudança de casa e atelier, comecei a trabalhar com tinta nanquim, aquarela e pastel, e assim retomei as artes plásticas”, relembra. “Para não dizer que abandonei a cerâmica totalmente, há dois anos fiz uma série de pequenas peças em porcelana branca para a mostra individual na galeria Berenice Arvani, e então ela também se integra aos trabalhos de desenho, pintura, aquarela, gravura e esses objetos de malha tecida em espaguete de pvc, o que é bastante coisa para administrar”, diverte-se.
Maria Villares vê a sua primeira exposição individual, em 1994, na galeria Nara Roesler, como um marco da sua evolução artística e domínio de várias técnicas. “Eu me identifico com o desenho e ele é a estrutura que importa. Hoje adoro trabalhar com técnica mista.” Assim, a série Nexus, de painéis ou cortinas de tricô em pvc transparente, deu origem aos desenhos das tramas com nanquim e, estes, às grandes gravuras.
Dos tricôs também nasceram os objetos-casulos. “Se você reparar, vai ver que eles têm a ver com formas presentes nas telas, nos desenhos, nas aquarelas, aqui, ali”, Maria vai apontando os trabalhos pelo atelier. “Existe uma conversa entre eles e acho que se unem também pelo meu interesse por objetos da natureza e pelas formas orgânicas.
A semente, por exemplo, sempre me seduziu, veja quantas eu tenho espalhadas por aí. Tem uma coisa de invólucro, de embrião, de formas associadas ao arcaico, à ancestral questão de nascimento e morte”, explica. “Meu trabalho tem como ponto de partida a observação, o olhar, ver, perceber, sentir emoção, e na maior parte das vezes essa observação se dá na Natureza.”
Foi assim que de uma viagem turística à Amazônia, em 2007, a artista trouxe fotos que, acrescentadas de poemas alusivos à água, se transformaram nas obras apresentadas em Fortaleza, na exposição Água, Wasser, Water, e que estarão na mostra Olho n’Água, em junho de 2011, no Memorial da América Latina, ambas coordenadas pela Associação Ponte Cultura da Alemanha e relacionadas aos valores de sustentabilidade. “Nesse projeto, as fotos com os textos são a minha poética a serviço de uma consciência ambiental.”
Em 2009, na programação do Ano França-Brasil, Maria participou do livro Lugar Tempo Olhar – Arte Brasileira na França Românica, de Anne Louyot, e da mostra Impressões – Gravadores Brasileiros e Franceses, da galeria Gravura Brasileira, além da coletiva Barão 955 (com uma trama pendente do teto). Está ainda na exposição Gravadores Contemporâneos Brasileiros, em itinerância pelo México, depois de passar pelos Estados Unidos.
“O que dá a medida de qualquer trabalho é a paixão que conduz a outra sensibilidade, a outro nível de percepção”, conclui a artista.
Fotos da artista e no atelier: ALESSANDRA PRZIREMBEL ANGELI