Robert Langdon está de volta em uma aventura elétrica e divertida, mas sem grandes surpresas

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Quando em 2003 O Código Da Vinci se tornou um sucesso mundial, vendendo mais de 80 milhões de exemplares, Dan Brown finalmente havia achado o seu filão ao misturar uma trama de suspense com um fio histórico, que foi copiado exaustivamente tanto no cinema como na literatura. A única coisa que fica evidente é que Brown sabe como ninguém construir uma trama inteligente e envolvente, mesmo sendo absurda em alguns momentos.

A primeira aventura que apresentou o professor de simbologia Robert Langdon era Anjos & Demônios, e trazia um pouco dos bastidores da Igreja Católica e de como funciona o conclave ao mesmo tempo em que uma ameaça pairava sobre o Vaticano com o ressurgimento dos Illuminati e a presença de um bomba escondida sob o estado italiano.

A fórmula de sucesso estava então lançada: um assassinato + algum assunto envolvendo religião ou ciência + fatos históricos + uma sociedade secreta + segredos que podem modificar a concepção da humanidade sobre algum assunto e, pronto, aí estava o roteiro dos livros.

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A segunda história protagonizada pelo professor era O Código Da Vinci, o livro que fez um sucesso gigantesco e foi adaptado para os cinemas em 2006. Aqui Langdon precisa desvendar os motivos Do assassinato do curador do Museu do Louvre, que tudo indica foi cometido pelo simbologista. Mas a trama é bem mais complexa do que parece, e envolve a verdade por trás da existência de Jesus Cristo, a Opus Dei e alguns segredos da Igreja Católica. Era com esse livro que a fórmula previamente pré-estabelecida se firmava, e inspirava tantas outras como a franquia A Lenda do Tesouro Perdido, livros como O Terceiro Segredo ou Códex 632, além da péssima série Zero Hour.

Na terceira parte, Langdon tenta descobrir O Símbolo Perdido e se envolve com a maçonaria e a história dos Estados Unidos. Justamente por ter inspirado uma obra com uma temática semelhante (o já citado A Lenda do Tesouro Perdido), o livro não empolga tanto como os anteriores, mas diverte.

Agora, Dan Brown volta a fazer sucesso com o livro Inferno (tradução de Fernanda Abreu e Fabiano Morais; 448 páginas, Editora Arqueiro, R$ 39,90 (livro) ou R$ 24,99 (e-book)), reaproveitando o estilo que fundamentou com seus outros livros e criando novas possibilidades para a história.

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Aqui, Robert Langdon acorda num hospital, desorientado e com um tiro na cabeça. Quando ele se dá conta, está em Florença e é perseguido por uma assassina e um grupo de militares e, no momento, sua única aliada é a médica Sienna Brooks. De forma acelerada, já somos colocados dentro da trama, que envolve descobrir o paradeiro de uma nova arma biológica capaz de destruir a população, plano de um cientista maluco que acredita que a Terra deve ser repovoada, para que não falte no futuro os recursos essenciais à vida.

Numa aventura internacional, Langdon vai a Florença, Veneza e Istambul, desvenda mistérios e apresenta o mundo das artes aos leitores, bem como curiosidades a respeito de figuras como Dante Allighieri e lugares como a Galleria degli Uffizi, o Duomo de Florença e a Basílica de São Marcos.

No fundo, Inferno é daquele tipo de livro bem divertido, com uma trama que acaba te “consumindo” e fazendo que o livro seja devorado. Em muitos momentos, por tratar do aumento populacional e de uma arma biológica, vêm à cabeça obras como Contágio e o recente Guerra Mundial Z, onde algo tão maligno pode se propagar de maneira rápida e perigosa. Mas, é justamente por estar preso a uma fôrma que o livro não se revela nem um pouco surpreendente por Dan Brown não criar um novo estilo. O livro tem uma única reviravolta, mas quem viu Indiana Jones e a Última Cruzada provavelmente vai saber do que estou falando, já que a traição da Dra. Elsa Schneider é bem mais surpreendente do que a que acontece aqui.

Com esse livro, Brown se torna uma espécie de Michael Bay da literatura: sabe divertir e entreter, mas não cria algo memorável ou marcante. Ele tem bem definido o seu estilo de escrita, com capítulos curtos e mudando para o ponto de vista de vários personagens e ações paralelas, a necessidade de constantemente estar descrevendo obras de arte ou relembrando de coisas da infância de Langdon, o que deixa o livro um pouco cansativo em alguns momentos, mas nada que atrapalhe o resultado final. Para os fãs e para aqueles que buscam uma leitura rápida, Inferno é uma excelente pedida, mas acaba ficando ruim para os que querem uma leitura mais “cabeça” e sem tanto pirotecnia e correria.

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