Sem deixar de lado a inteligência, a competência e a sensibilidade
Uma historinha boba que chegou pela Internet me fez lembrar de muita gente. Com o título “Saber negociar é tudo hoje em dia”, descreve diálogos.
O pai diz ao filho:– Filho, quero que você se case com a moça que escolhi. Filho: – Mas, pai, eu quero escolher a minha futura mulher. Pai: – Ela é a filha do Bill Gates, não está bom? O filho prontamente aceitou. Então, o pai negociador foi falar com Bill Gates e disse-lhe: – Eu tenho um marido para sua filha. Bill: – Minha filha é muito jovem para casar. Pai: – Mas o seu futuro genro é vice-presidente do Banco Mundial. Bill: – Sendo assim, tudo bem. É quando o pai oportunista vai até o presidente do Banco Mundial e afirma-lhe: – Sr. Presidente, eu tenho um jovem profissional recomendado para ser vice-presidente de seu banco. O presidente levou um susto com a audácia e respondeu: – Mas eu tenho muitos vices, inclusive mais do que necessito. O pai ambicioso insistiu: – Senhor, esse jovem vai ser genro de Bill Gates. Argumento que foi suficiente para que fosse contratado imediatamente.
Situações desse tipo, em maior ou menor proporção, é o que estamos vendo desde os altos escalões do governo até os arrivistas de plantão em pequenos embustes. Muitas pessoas fazem “pontes”, entre amigos de importantes, de famosos, a quem eles chamam de bacanas, para chegar próximo; há gente que faz qualquer coisa para aparecer e bajula da forma mais abjeta a quem lhes possa ajudar a ascender.
O lobby virou prática usual e elogiável em termos de artimanha profissional, a ponto de se ouvir de um coordenador de recursos humanos que deu uma palestra sobre sucesso na carreira, mês passado, num desses questionáveis seminários: “Tudo depende da estratégia a ser estabelecida e, se for para subir ou para alcançar uma função superior na empresa, tudo vale, menos matar a mãe”. Declarou isso numa entrevista de tv, num tom jocoso, é claro, mas sua fisionomia mostrava o quanto ele apostava nesse recurso.
Com isso, cresce a desconfiança entre companheiros, aumenta a postura de pé atrás, ninguém conta para ninguém sobre um projeto com medo de ser roubado ou imitado e a amizade entre colegas se torna altamente discutível. O problema é que nesse oportunismo de cada dia a qualidade de vida decai porque ela não é mais resultado do talento, da competência, da sensibilidade e da sutileza, mas da esperteza de quem consegue enganar melhor ou bajular de forma mais convincente.
É muito importante que se alerte aos jovens contra isso, porque o aparente sucesso desse tipo de atitude tem existência curta, curtíssima, aliás, porque quem chega lá por aí, não tem sustentação da inteligência, da cultura e nem da habilidade. Segura-se na pífia arte do oportunismo. Um dia a casa cai.