Talvez seja uma das mais retumbantes frases feitas (o que sempre detestei), mas não há como ignorá-la em nosso dia-a-dia: tudo tem seu preço, nada vem de graça. Sei lá que lei é essa, se tem a ver com o tal preceito de Murphy, se é uma das condições existenciais impostas pelo Criador para o desenvolvimento do ser humano ou um componente do fantástico Livre Arbítrio que acompanha a nossa atitude diante das opções propostas, das escolhas necessárias.
Não há como fugir a esse entendimento por mais que a gente sonhe com uma felicidade e uma realização que não seja precedida de qualquer exigência ou condição. Aliás, conheço muitas pessoas que nada fazem, que praticamente se deixam conduzir em tudo ao invés de tomar a iniciativa por medo do preço inapelável.
Senti bem isso quando conversei com uma mulher de 48 anos, que optou por não ter filhos em nome da carreira profissional e sentindo o quanto o marido não os queria com medo de perturbar o relacionamento um tanto livre que tiveram nestes 25 anos de casados, onde viajam e passeiam sem compromissos ou satisfações. “Percebi que um filho não cabia em nosso sistema de viver, mas hoje, de vez em quando, agora que não posso mais tê-los, tenho medo de terminar sozinha, amarga e arrependida. Até porque muitas pessoas me falam isso”
Sei bem o que é esse papo. Quantas vezes ouvi que a minha velhice seria triste por não ter filhos para cuidar de mim…e olhe, que me disseram na lata e nas horas menos próprias. Há pessoas que são mestras em falar as coisas erradas e nos momentos ainda mais errados. Parecem que estão à espreita da hora errada ou as escolhem. Os especialistas em cortar clima de tudo. Mas aí está bem situada a tal imposição do pagamento.
Primeiro porque filho não é garantia de não solidão; a maioria quase absoluta dos idosos abandonados nos asilos e casas de repouso possui uma família numerosa. Também, porque saindo da hipocrisia do sistema pequeno burguês na formação religiosa que tivemos, trata-se de uma perfeita circunstância de prós e contras.
Não tendo filhos paguei o preço de ter perdido, provavelmente, doces afetos, carinhos intensos e um delicioso convívio, mas também me livrei de muitos problemas, de noites insones, de ter que ouvir de um adolescente arrogante ou de um jovem adulto blasé depois de um sacrifício insano para criá-lo e formá-lo da melhor maneira, abrindo mão de tantas ânsias e desejos: “não lhe devo nada, fez porque quis” ou “não pedi para nascer”. Como isso deve ser duro para um pai!
Enfim, há que se cacifar as escolhas, gente! Que jamais saberemos se foram certas ou não, por mais que se esteja feliz com a opção. Não escolhemos certo, só escolhemos e olhe lá, trata-se de um privilégio.
É isso que mantém as perguntas, o questionamento. Esse preço, alto ou baixo, justo ou absurdo, um ensaio dramático e lúcido, chama-se vida.