Com carisma incrível, o enérgico Cristiano faz seus vinhos brilharem mundo afora
Cristiano Van Zeller é um português da cidade do Porto, fanático pelo futebol e mais especificamente pelo Futebol Clube do Porto. Além da paixão pelo futebol, Cristiano é um aficionado pelo nosso país (talvez também por causa de nosso futebol) e finalmente é um dos maiores embaixadores dos vinhos da região do Douro mundo afora. Cristiano tem uma historia familiar muito interessante. Sua família era dona da fabulosa e mítica Quinta do Noval, que foi vendida anos atrás para a empresa de seguros francesa AXA. A Quinta do Noval é uma das mais importantes e históricas Quintas de todo o Douro e de seu vinhedo “Nacional” entra ano, sai ano, produz o vinho do Porto mais desejado, procurado e caro dentre todos: o “Vintage Port Quinta do Noval Nacional”.
O bisavô de Cristiano, Luis de Vasconcellos Porto, foi o responsável pela reconstrução e total reconversão da Quinta do Noval e também pela introdução no Douro dos terraços seguindo a linha de maior declive. Luis também fez a replantação do famoso talhão do “Nacional” com vinhas não enxertadas em 1924. Também é crédito dele a “invenção” dos conceitos dos Vinhos do “Porto de idade” em meados dos anos 20 do século passado (10, 20, 30 e 40 Anos) e do conceito LBV em finais da década de 40, logo após a II Grande Guerra. Finalmente, e o fato mais interessante do bisavô de Cristiano, foi quando ninguém queria arriscar a declarar um Vintage na safra de 1931, por causa da Grande Depressão Mundial de 1929, ele fez isso sozinho, declarando esse ano como Vintage. O resultado dessa ação foi que Luis produziu um dos vinhos mais importantes e disputados de toda história. Há pouco mais de dez anos a publicação americana Wine Spectator publicou os 12 vinhos mais importantes do século XX e um dos Wines of the Century é o Quinta do Noval Nacional 1931.
Das diversas visitas que fiz ao Douro, na maioria das vezes tive o prazer de estar com Cristiano, que além de sua propriedade na região, a linda Quinta do Vale D. Maria, participa ativamente do “movimento” Douro Boys e também é proprietário da empresa Van Zeller & Co, empresa datada de 1780, que foi re-fundada por ele em 2007, após a marca voltar novamente às mãos de sua família.
A Quinta Vale D. Maria, hoje comandada por Cristiano, fica localizada no vale do Rio Torto. Essa propriedade é muito antiga e pertence à família da esposa de Cristiano, Joana, há mais de 200 anos. Os registros oficiais dessa Quinta datam de 1868, quando a mesma foi registrada no nome do trisavô da Joana, José António Teixeira de Carvalho Vaz e Sousa. Muitos anos se passaram e em 1973 a Quinta foi arrendada ao Grupo Symington, um dos maiores conglomerados do vinho do Porto. De acordo com Chantal Lecouty em “Le Porto“ (Éditions Robert Lafont S.A., Paris, 1989), os vinhos da Quinta foram utilizados para produzir alguns dos melhores Portos da marca Smith Woodhouse, um dos importantes brands de Vinho do Porto pertencentes ao Grupo Symington.
A Quinta possui vinhas com uma grande variedade de castas que cobrem um espectro amplo com diversas variedades tradicionais do Douro, a saber: Tinta Amarela, Rufete, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Francesa, Touriga Nacional, Sousão, e muitas outras variedades autóctones da região.
Em 1º de setembro de 1996 a propriedade voltou às mãos de maneira definitiva a Joana. Consequentemente a partir daí nascia o projeto de Cristiano e Joana, agora com a Quinta Vale D. Maria sob nova direção. Logo em 1997 foram colhidas as uvas para o 1º vinho Quinta Vale D. Maria sob a batuta de Cristiano. Ainda em 1997 também foi iniciada a reconstrução de novas facilities e edifícios na Quinta. Um velho casebre foi transformado numa casa de hóspedes, os velhos lagares foram totalmente reconstruídos, uma nova adega ficou pronta em 2001 e os tradicionais armazéns do Vinho do Porto foram recuperados.
A Quinta hoje conta com cerca de 28 hectares de vinhas, dos quais 14 hectares com vinhas com mais de 60 anos, 9 hectares com vinhas com 25 anos e os restantes 5 hectares com vinhas plantadas entre 2004 e 2007.
Cristiano tem como enóloga responsável por seus vinhos a competente Sandra Tavares, que como ele também tem uma história muito interessante relacionada ao vinho. Sandra é filha dos proprietários da Quinta da Chocapalha, localizada no Alenquer, e é casada com Jorge Serodio Borges, ex-enólogo chefe da Niepoort e irmão de Margarida S. Borges, proprietária da Quinta do Fojo. Sandra, além de comandar a elaboração dos vinhos da Quinta do Vale D. Maria e da Quinta da Chocapalha, tem em parceria com o esposo Jorge o projeto Wine & Soul, que produz o espetacular Pintas e o recém lançado e também espetacular Quinta da Manoela.
Na Quinta Vale D. Maria são produzidos os Vinhos do Porto Vintage, Vintage LBV e Reserva e os tintos Quinta Vale D. Maria, Casa de Casal de Loivos e CV – Curriculum Vitae. Já com a marca Van Zellers & Co temos o Van Zellers Douro Tinto, Branco e Rosé, o VZ Branco e Porto VZ 10 anos.
Os vinhos mais destacados de Cristiano são mesmo o Quinta Vale D. Maria e o CV. O primeiro desde 1997 vem se consolidando como um dos grandes vinhos de mesa do Douro. Todos os vinhos desde então são de muito bons para excelentes. Tive a oportunidade de provar todos e, sem dúvida, o 2001, o 2003 e o 2004 são os mais impactantes ao lado do irmão mais novo 2007, que comentarei a seguir. Vale ressaltar que o 2001 derrotou em degustação às cegas vinhos como Vega Sicilia em contest entre grandes vinhos portugueses e espanhóis no inicio da década. O vinho CV nasceu com a safra de 2003 e de lá para cá temos mais um ícone dentre os grandes tintos do Douro. O 2004 é fabuloso, uma obra de arte. O 2005 é excelente, ligeiramente menos impactante que o 2004. A seguir comentamos o extraordinário 2008, que é do mesmo nível do 2004.
Para essa matéria provamos especificamente 4 vinhos de Cristiano que estão disponíveis no Brasil. Foram eles o Van Zellers Branco 2009, o Quinta Vale D. Maria 2007, o CV 2008 e o Porto VZ 10 anos. O primeiro é um branco interessante produzido a partir de vinhas velhas com 60 anos de idade do distrito de Murça. Um vinho que não passa por madeira. Fresco e cheio de vida nos aromas. Em boca tem boa concentração e bom volume de fruta. Um branco bem seco e direto ao ponto. Os 13,5 de álcool estão bem no conjunto. Final de boca gostoso e fresco. Uma boa pedida para acompanhar pescados e crustáceos.
O Quinta Vale D. Maria 2007 é um tinto impactante. Segundo a ficha técnica enviada pelo importador o vinho é composto por mais de 41 espécies de castas com idade entre 25 e 60 anos. O que desprende de imediato da taça é a fruta negra madura entrelaçada com o carvalho seguido de toques especiados e nuances florais. Gustativamente é delicioso. Taninos de excelente formação, fruta suculenta, madeira na medida e uma excelente acidez. Retrogosto longo e muito rico. Não poderíamos deixar de mencionar que esse vinho em maio desse ano participou do The Judgement Of Hong Kong, um blind tasting que reuniu grandes tintos de Portugal e Bordeaux, todos da safra 2007, na China. Foram apresentados 13 tintos, sendo 6 de Bordeaux, 6 do Douro e um do Alentejo. O Quinta Vale D. Maria foi o melhor entre todos os portugueses, derrotou o Chateau Beychevelle e ficou em quarto lugar empatado com o Leoville Barton e a décimos do terceiro lugar, o mítico Chateau Latour. O que mais é marcante nesse vinho é sempre sua elegância, que na maioria das vezes supera a maioria dos vinhos TOP da região, comumente mais para o estilo blockbusters. Vale ressaltar que a safra de 2007 no Douro foi uma das melhores dos últimos 20 anos, principalmente para os vinhos de mesa. Foi desse novo milênio a melhor safra principalmente se levarmos em conta que foi excepcional tanto para Tintos de Mesa quanto para Porto Vintage.
O CV 2008 é um vinho soberbo, cheio e potente. Em seus aromas há um predomínio da fruta madura com um carvalho marcante. Cristiano utiliza em seu flagship wine um dos melhores carvalhos dentre todos, da floresta de Allier na França, com barricas das mais expressivas e reconhecidas tonelerias como Seguin Moreau e Taranceau.
Complementando os aromas temos ainda uma marca floral deliciosa (violetas, provavelmente concedidas por uma madura Touriga Nacional – normalmente uma marca dessa casta) e um caráter mineral marcante. Conjunto aromático sensacional. Em boca é confirmada as percepções detectadas nos aromas. Um tinto denso, muito rico e potente. Esbanja vivacidade e estilo. Seu final de boca é muito longo, duradouro e encantador. Um vinhaço de uma grande safra. Em 2008 tivemos também uma excelente safra no Douro, um tanto quanto menos quente que a anterior, mas que trouxe ao Mercado grandes tintos de mesa. Se tivesse que escolher entre o Quinta Vale D. Maria 2007 e o CV 2008, ficaria com os dois, sendo o primeiro mais elegante e fino e o segundo mais potente e guloso. Ambos são vinhos ainda jovens, que estarão melhor com 2/3 anos de guarda e vão continuar evoluindo por mais 15 anos. Pela estrutura tânica o CV 2008 deve ter mais alguns anos de guarda se comparado com seu irmão o Quinta Vale D. Maria 2007.
Depois do show dos tintos de Cristiano chegamos ao Porto VZ 10 anos. Um Porto que prima pela elegância. Sua doçura aromática é encantadora. A madeira muito leve e a fruta passificada são os destaques no conjunto. Palato firme, doce, rico e muito equilibrado. Um Tawny excelente e delicioso. Foi degustado ao lado de um generoso pedaço de queijo stilton inglês. Fechamos o tasting com chave de ouro. O bisavô de Cristiano, Luis de Vasconcellos Porto, ficaria orgulhoso com esse Tawny 10 anos produzido pelo seu querido e competente bisneto. Saúde!
Os vinhos Quinta Vale D. Maria, Van Zellers e VZ são importados para o Brasil pela www.vinho sul.com.br
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