Dão e Tejo se modernizam sem perder o estilo

A bela Quinta da Falorca do Dão

Não podemos questionar que os vinhos do Douro são os mais profundos, intensos e especiais vinhos de mesa de Portugal. As uvas antes destinadas, na sua quase totalidade, para a produção dos Vinhos do Porto agora também tem seu espaço para produzir reluzentes vinhos tintos, capazes de competir com os melhores tintos do mundo.

Logo na sequência em termos de qualidade e principalmente diversidade, o Alentejo ganhou muito espaço nos últimos anos e tem se colocado como a segunda região mais importante de Portugal, produzindo também alguns tintos de tirar o fôlego.

Aqui mesmo nessa seção destacamos nos últimos meses os vinhos da Quinta do Crasto e da Quinta do Vallado ambos do Douro, e os vinhos da Herdade do Esporão e da Fundação Eugenio de Almeida (Pêra Manca e Scala Coeli), ambos estrelas do Alentejo. Pois bem, não é somente dessas duas regiões que os vinhos portugueses brilham. Temos outras tantas regiões nesse pequeno país, mas vamos agora destacar a tradicional região do Dão e a promissora região do Tejo (até 2009 Ribatejo).

Colheita na Quinta do Alqueve em Alpiarça

Quem não se lembra principalmente os mais velhos, das garrafas do famoso Dão Grão Vasco em almoços de domingo com a família? Os vinhos do Dão foram em um passado recente, ao lado dos vinhos do Porto básicos, Tawnies e Ruby’s, os grandes embaixadores da cultura do vinho português no Brasil. Infelizmente, durante alguns anos, essa marca registrada foi perdendo força e novos vinhos de outras regiões foram surgindo.

Nos últimos anos o paladar dos brasileiros foi mudando em direção a vinhos com mais corpo, fruta, estrutura e força, e os vinhos básicos do Dão, por exemplo, mantiveram seu caráter de vinhos mais fáceis de serem degustados, com pouca carga de frutas, madeira pouco pronunciada e graduação alcoólica baixa. Muita fruta, álcool e principalmente a madeira (carvalho) foram as características que alavancaram no Brasil vinhos de nossos vizinhos, Chile e Argentina, que hoje dominam o mercado dos importados por aqui por larga margem.

Para uma grande parte dos enófilos a tendência de vinhos muito encorpados começou a ficar chata e aí começou a chegar a contra-resposta do mercado, que se baseia na tipicidade e caráter de um vinho, de uma região e/ou castas especificas, por exemplo. É com esse espírito que estamos notando a volta de regiões como o Dão e o despontar de uma região em total transformação como o Tejo. O diferencial de alguns produtores dessas regiões são o foco em tradição com modernidade, terroir e vinhos “gastronômicos”.

Nos últimos anos, essas duas regiões se modernizaram sim, mas sem perder o estilo. Hoje, por exemplo, podemos degustar tintos do Tejo com alegria de sobra e boa carga de frutas, mas sem chegar a propiciar a sensação de doçura de um Malbec argentino de mesma categoria.

Vinhas nas Planícies da DOC Tejo

Subindo a escala de exigência em direção a grandes vinhos, não há como negar que o Dão é hoje a região de Portugal que produz os mais elegantes, delicados e longevos tintos. Orgulhosos, alguns produtores do Dão se intitulam como a “Borgonha de Portugal”. Essas tendências são válidas para todos os vinhos em todas as faixas de preço e são fabulosos os indícios que mostram as regiões do Dão e Tejo com um grande e promissor futuro no mercado brasileiro.

Dão: elegância, diversidade e longevidade

Trio de respeito da Quinta da Falorca do Dão

A região demarcada do Dão completou 102 anos em 2010. Essa região, que foi a primeira demarcada de vinhos tranquilos de Portugal, passa por enorme transformação. Não há dúvidas de que seus vinhos são os que mais mudaram nos últimos 20 anos em toda Portugal, ao lado do jovem Douro, que começou nos vinhos tranquilos, de forma estruturada, recentemente na década de 1990.

Com uma variedade singular em castas viníferas, o Dão se coloca como a região de maior diversidade do país. Apresenta, por exemplo, varietais ou blend de Touriga Nacional (a mais sensacional casta indígena de Portugal e uma das maiores sensações dos últimos anos no mundo vitivinicola),  Jaen (uma parente muito próxima da galiciana Mencia), Alfroxeiro Preto, Tinta Pinheira, Rufete e Aragonês, dentre os tintos. Temos ainda brancos sensacionais à base da estupenda Encruzado, também de Bical, Cercial, Malvasia Fina, Verdellho etc.

Tejo: força e estilo internacional

 

Quinta do Alqueve Touriga Nacional Syrah 2001 e Touriga Nacional Syrah 2003

Até 2009 chamada de Ribatejo, essa denominação de origem está localizada na província do Ribatejo. A DOC (Denominação de Origem Controlada) Tejo é pouco conhecida na produção de vinhos de alta gama, sendo mais conhecida na produção de vinhos mais simples e de consumo diário.

As uvas plantadas nas planícies aluviais tem altíssimo rendimento e talvez por isso tenham sido destinadas a produzir quantidade ao invés de qualidade.  Pois bem, felizmente muitos produtores da região decidiram investir na viticultura, em barricas de carvalho de qualidade e em tecnologia de uma maneira geral, e com isso, muita coisa mudou. Hoje temos grandes vinhos produzidos nessa DOC.

Foi nessa região de Portugal que tivemos os primeiros exemplares de alta qualidade a partir da “francesa” Syrah. Temos, como no Dão, excelentes parcelas da nativa Touriga Nacional, além de uma importante plantação de castas como Cabernet Sauvignon,  Carignan, Esgana Cão, Merlot, Periquita, Tinta Amarela, Tinta Muida , Pinot Noir, dentre outras. Para a produção de brancos temos Rabo de Ovelha, Sauvignon Blanc, Malvasia Fina, Ugni blanc e  Chardonnay.

Encontro com grandes tintos do Dão e Ribatejo em São Paulo

 

Quinta da Falorca Garrafeira Old Vines 2004

No começo do mês de maio São Paulo recebeu a World Wine Experience. Uma feira de vinhos organizada pela própria World Wine, do grupo La Pastina. O evento reuniu diversos produtores dos quatro cantos do mundo.

Dentre os mais de 30 expositores estavam lado a lado representando suas regiões Paulo Cunha, proprietário da Quinta do Alqueve, e Mario Ferreira, sócio-proprietário da Quinta da Falorca. Por pura coincidência ou por um trabalho minucioso por parte do importador, podemos afirmar que esses são dois dos mais importantes e renomados produtores de suas regiões, respectivamente Alqueve do Tejo e Falorca do Dão. Depois de muito interagir com esses dois “homens do vinho”, após o evento em questão, PPOW decidiu degustar alguns tintos desses duas casas, incluindo um mais antigo, para realmente sentirmos com mais profundidade a qualidade desses produtores.

Foram cinco vinhos degustados às cegas. A seguir destacamos o desempenho de cada um desses vinhos. Do Dão/Falorca foram três vinhos degustados e todos estavam excelentes. Sem dúvida o Garrafeira Old Vines 2004 foi o mais profundo, perfumado e sensual. O toque floral vem da Touriga Nacional, predominante no blend (75%), seguidos de excelente volume de frutas negras, tons de chocolate e especiarias. Gustativamente é um vinhaço, esbanjando elegância e ao mesmo tempo força. Acidez deliciosa e um final de boca longo e persistente.

O Touriga Nacional 2003 estava reluzente, cheio de vida e com muita alegria nos aromas. As frutas negras e vermelhas madura estão muito bem entrosadas com a acidez, álcool e madeira. Final de boca pungente e firme. Um belíssimo exemplo de um Touriga Nacional puro (100%). Talvez a maior surpresa, principalmente no quesito custo beneficio, foi o Quinta da Falorca Lagar Reserva 2004. Com o preço menor que a metade do garrafeira (R$ 279,00 versus R$ 117,00) mostrou muito vigor, concentração e estrutura. Com o blend muito similar se comparado com o Garrafeira, mostrou aromas interessantes de frutas maduras, a marca floral da Touriga Nacional e de novo a baunilha, proveniente do estágio em madeira (18 meses em barricas francesas). Boca firme, rica e com taninos muito estruturados. Uma delicia.

Dos dois tintos do Alqueve/Tejo ousamos e abrimos uma garrafa mais antiga, a do Syrah 2001, além do Syrah Touriga Nacional 2003. Pois bem, o primeiro é uma obra de arte. Já com certa evolução apresenta cor rubi com toques púrpura. Aromas marcantes de frutas negras, madeira de excelente qualidade e muita vivacidade. A sensação aromática é de uma essência marcante. Na boca é rico e firme. Taninos muito presentes e de excelente qualidade. Muita persistência, intensidade e tipicidade nessa garrafa. Seguramente entre os 3 melhores Syrah de Portugal degustados. Tem ainda muita evolução pela frente, apesar de já estar delicioso hoje.

Infelizmente esse vinho está quase esgotado e se você encontrar uma garrafa compre correndo, pois é um vinho raro.

Adega da Quinta do Alqueve em Alpiarça, na DOC Tejo

Touriga Nacional Syrah 2003 da Quinta do ALqueve

Não entre em desespero, pois o Touriga Nacional Syrah 2003 está disponível no Brasil. Este blend, que tem em partes iguais Syrah e Touriga Nacional, é um luxo português e alia o perfume de violetas da Touriga Nacional com os toques terrosos e profundos da Syrah. Um vinho mais para o elegante do que para o encorpado. Em boca é muito firme, vivo e com taninos de boa qualidade. Ameixa negra presente e boa marca da madeira.

Saúde!!!

Os Vinhos da Quinta do Alqueve e Quinta da Falorca são importados para o Brasil com exclusividade pela WorldWIne – www.worldwine.com.br

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