Creio que uma das maneiras mais eficientes de se diminuir o preconceito é entender o verdadeiro sentido da tolerância: reconhecer e valorizar a diferença, na certeza da enorme contribuição que recebemos de quem pensa e vive de outra forma que não a nossa.
Uma diferença que pode e deve agregar e não desagregar, como acontece entre aqueles que só vivem em seu mundinho e que só gostam de se relacionar com quem é igual. Tem gente que sequer senta com “estranhos” numa mesa de festa ou faz cara feia para quem não conhece. Aliás, é muito feio esse costume de colocar bolsas nas cadeiras para guardar lugar para os amigos, nas festas, não permitindo que os outros se sentem ou sejam obrigados ao vexame de circular pelo salão e ouvir recusas quando perguntam se podem sentar ali. Quando é tão bom conhecer gente nova, estabelecer outros contatos que não os habituais.
Ao valorizarmos a diferença está plantado em nós o sagrado, já que somos feitos diferentes para que possamos existir com a multiplicidade e nos identificar com tudo o que é individuado, considerando a individuação o milagre do criar. A isso se pode dar o nome de humanismo, uma paixão interna pela vida e pelo ser humano, o que torna alguns, interessantes e excitantes, assim como outros, que não o possuem porque só vivem em guetos e em círculos fechados, chatos e enfadonhos; a igualdade permanente nos torna repetitivos e comuns.
Sagrar ou segregar as pessoas, os ambientes, as raças, as propostas é uma opção de cada um em seu caminho existencial. Que tanto pode levar ao espírito e ao entendimento, quanto à solidão e à separação. Até porque nunca podemos contar com o apoio e a solidariedade dos iguais. Quem já teve essa experiência de receber ajuda e suporte de quem menos esperava, sabe bem disso.
É quase um milagre o que vem de alguém que nem parecia entender o nosso universo e que, de repente, cria uma reciprocidade valiosa. Eis porque a espiritualidade é ampla na avaliação do conjunto e não registra diferenças em emoção e sentimento ou realçando essas diferenças para que se assimile a Grande Igualdade. É, também, onde se perdem as religiões de um modo geral ao tender ao segregacionismo de quem não as acompanha ou segue seus preceitos.
Uma das belezas do evolucionismo na fé é a compreensão de que cada um vai ao Pai à sua maneira e de acordo com suas próprias possibilidades, o que torna a divindade e o metafísico de uma beleza sem par, ainda mais no recôndito da alma.
O interessante de se avaliar a importância das diferenças é a sutileza de que estamos sempre a um passo entre o sagrar e o segregar, em nome dos nossos medos, dúvidas, tensões, credos e perigos de fanatismo ou de influências condicionantes.
Um grande momento de encontro com a maturidade, que nunca se alcança de vez embora muitos julguem detê-la, é perceber que por trás dos manifestos tão diversos há uma única manifestação: ser feliz e que, como dizia o médico francês René Guenón, uma das figuras mais importantes do esoterismo, “na realidade mais profunda, além do espaço e do tempo, talvez sejamos todos membros de um só corpo”.