Novo disco de Vander Lee traz a essência a um gênero modificado pelo tempo
Num tempo de samba rock, Sambarroco, porque Minas Gerais tem um jeito diferente de fazer samba. Barroco, sinuoso nos detalhes, exuberante no colorido, desconcertante nas harmonias. E Vander Lee é o cara certo para mostrar esse espírito mineiro que transcende fronteiras. Afinal, não foi de graça que Elza Soares disse que Vander Lee tinha o suingue dos anos 2000.
Partindo do nome, uma ideia antiga, Lee pediu ao violonista Thiago Delegado que convocasse uma banda regional, com duas percussões, um sopro e seu sete cordas e logo começaram a criar e testar o repertório do disco em estúdios, rodas de samba, lugares pequenos e médios onde fossem possível testar as reações da plateia e burilar cada tema com calma e paciência. Aproveitou que começou uma reforma em casa e, enquanto os pedreiros retocavam a construção, construiu o disco no estúdio do selo mais tradicional de Belo Horizonte, o da Bemol.
O disco abre com a faixa que batiza o álbum, Sambarroco. Uma espécie de evocação ao samba de raiz, assim como acontece ao longo do disco, o amor malandro, o amor barroco, o amor em sua pura forma está impregnado nas letras, na parte instrumental, no disco inteiro.
Terno Cinza, talvez a música mais bonita do álbum, realmente busca com sua letra singela realçar a emoção dos relacionamentos; é a saudade, a solidão, uma bossa mineira que lembra o outono do Rio, com “gostinho de ressaca boa” e “uma tristeza elegante”.
Por fim, a lembrança da infância, das expressões que os pais interioranos provocaram o samba rural Vai Assombrar Porco, um “pagode de viola” que trata, com humor, de formas de exclusão e diferenças de classes. O final oficial acontece com a versão com motor, suspensão e lataria do Sambado, que ele havia gravado de voz e violão no disco ao vivo de 2003, e surge com esplendor de grande escola com arranjo cheio de manha de quem tem manha de fazer o carro pra andar em qualquer situação. É, segundo Vander Lee, “a limonada do limão”.
Ao final, Sambarroco é aquele disco diferente, aquela música que conquista logo no começo. Cheio de som bom, de romantismo, da malandragem, do instrumental dançante, esse novo trabalho de Vander Lee – que faz uma ponte com seu último disco, No Balanço do Balaio, lançado em 1999 – é capaz de encantar fãs do samba, da bossa, da vida e do amor.