Degustação vertical mostra a impressionante qualidade desse vinho, um dos mais importantes de nosso continente
Poucos sabem, mas foi o Seña o primeiro grande projeto chileno para a produção de um vinho superlativo, ícone, para representar uma vinícola como seu flagship. O simpático Eduardo Chadwick, herdeiro de um império vitivinícola no Chile, lançou o primeiro Seña na safra 1995 e inaugurou uma prática que foi se proliferando nos anos seguintes. O projeto Seña foi uma joint venture entre Chadwick e o saudoso e genial Robert Mondavi. O objetivo foi elaborar um vinho de alma chilena com a tecnologia e força dos Mondavi que na época dominavam a produção de vinhos premium na América. Robert criou um verdadeiro império que acabou ruindo anos depois. Os Mondavi saíram da parceria, mas Chadwick continuou firme. Somente para entender cronologicamente, a 1ª safra do Almaviva foi a 1996, o Clos Apalta da Casa Lapostolle e o Montes Alpha M foram lançados com a safra 1997. Depois desses vieram novas parcerias entre chilenos e grandes viticultores do mundo todo. No Chile temos o ramo dos Lafite Rothschild na Los Vascos e os espanhóis da Miguel Torres, por exemplo. Chadwick lançou com a safra 1999 o vinho mais caro chileno disponível no mercado hoje, o Viñedo Chadwick, produzido no antigo campo de Pólo da família no Vale do Maipo. Isso é só para dizer que esse homem é incansável e tem quase uma obsessão por produzir os melhores vinhos do Chile. O bom para nós é que a cada ano que passa isso fica mais claro. Esses dois vinhos , Seña e Viñedo Chadwick, estão entre os cinco mais importantes do Chile hoje.
Mesmo sem a presença de Eduardo e de seu competente diretor de exportação, Nicolas Saelzer, ambos habitués de nosso país, tivemos conosco em São Paulo, em julho último, a enóloga Carolina Herrera conduzindo uma especial vertical de Seña.
Coordenado pela importadora dos vinhos Seña para o Brasil o evento foi realizado no Bar des Arts em São Paulo. Essa degustação vertical foi a mais completa e importante desse grande tinto já realizada no Brasil, pois tínhamos à mesa seis safras. Em 2006 Eduardo Chadwick conduziu uma bela vertical do Seña, porém somente com quatro safras.
A Vertical
Na linguagem dos amantes dos vinhos, uma vertical significa degustar o mesmo vinho de diversas safras. Nesse grande evento as safras apresentadas na ordem foram: 1995, 1997, 2001, 2003, 2006 e 2007. É simplesmente sensacional ter a oportunidade de provar um vinho desde a sua primeira safra, passando por outras muito importantes e chegando a mais recente disponível no mercado.
Ao primeiro acesso no nariz, do primeiro vinho a mesa, que coincidentemente é o primeiro Seña, o 1995, o que vem a cabeça é um vinho chileno a base de Cabernet Sauvignon, porém com um estilo de um excelente tinto de Bordeaux. Rubi mais claro se comparado com os irmãos mais novos. Levemente turvo. Bem evoluído nos aromas com toques de couro, especiarias (louro), alcaçuz, tostados com a fruta negra ainda presente. Um “Bordeaux” na acepção da palavra. Pronto para ser apreciado, não devendo ser adegado por muito mais tempo. Deve ser consumido logo. Delicioso. Sua composição é 70% Cabernet Sauvignon e 30% de Merlot e Carmenère.
O 1997 estava mais vivo e ainda pungente. Também com o marcante estilo Caberrnet Sauvignon de ser. Um tinto repleto de estilo com a fruta presente, madeira na medida e um final mineral, que lhe concede extra valor. Excelente em boca, taninos deliciosos e um retrogosto marcante. Comprova os prognósticos da grande safra que foi 1997 no Chile, que sem duvida foi uma das mais impressionantes da década de 90 ao lado da também excelente 1999. Um dos destaques da prova. 84% Cabernet Sauvignon com 16% de Carmenère.
O próximo vinho à mesa era talvez um dos mais especiais vinhos que nosso continente já produziu. Tive a oportunidade de degustar inúmeras vezes esse vinho, colocando-o sempre em destaque entre o que há de melhor na América do Sul. Na degustação conduzida por Eduardo em 2006 esse vinho foi o campeoníssimo dentre todos (na ocasião foram degustados 2000, 2001, 2002 e 2003). Mais uma vez o Seña 2001 foi o destaque, e o mais impressionante é que com o tempo passando ele tem se tornado ainda melhor. Sublime no olfato, muito equilíbrio entre a fruta, os toques especiados, a madeira e o o caráter mineral. Um vinho espetacular no conjunto aromático.Na boca é delicioso, rico, aristocrático, clássico e com um final de boca sensacional. Um vinho colecionável. A composição final desse ícone chileno é 74,9% Cabernet Sauvignon, 15,1% Merlot, 6.3% Cabernet Franc e 3,7% Carmenère.
Já o 2003 é um ponto fora da curva. Dois pontos importantes valem ser destacados. O 1º é que 2003 foi uma safra muito quente e 2º esse é de todos os Seña que mais tem Merlot (40%) com Carmenère (6%), complementados por Cabernet Franc (25%) e Cabernet Sauvignon (52%). Com esse blend nota-se claramente um vinho com o estilo mais “verde”/herbáceo, notadamente proveniente da maior proporção mais elevada de Merlot e da Carmenère. Apesar de ser o mais “verde” de todos tem fruta madura abundante. A ameixa, o mirtilo e a amora são a espinha dorsal do ponto de vista aromático, com a madeira bem integrada. Esse contraste do “verde” com a fruta e a madeira, faz desse tinto um vinho exótico, diferente. Muito vivo e provocante com um surpreendente e delicioso frescor em boca.
Na sequência tínhamos a dupla 2006 e 2007. Nesse momento decidi voltar e acessar novamente os mais antigos e o estilo Seña de ser estava mantido. O 2006 um blend de 55% Cabernet Sauvignon, 16% Merlot, 6% Cabernet Franc, 10% Carmenère e impressionates 13% de Petit Verdot, que pela 1ª vez faria parte do blend. Bem mais sutil se comparado com o 2003. O estilo “verde” praticamente inexiste, deixando claro a mudança do estilo. Impactante nos aromas com excelente carga de fruta madura e bom um equilíbrio na madeira. Ainda jovem, porém com boa personalidade. Seus taninos são de excepcional formação. Muito elegante, com boa carga de fruta e um surpreendente frescor. Essa safra foi muito quente, principalmente no final da temporada. Mais um grande Seña.
Por último, nota-se que foi proposital a sequência. Chegavamos ao 2007. Uma gratíssima surpresa, pois finalmente chegava à mesa um rival a altura do fabuloso 2001. Uma sensação deliciosa. Ainda fechado nos aromas, pela sua juventude. Mostra um estilo semelhante ao 2006, passando uma percepção de ser mais um pouco mais alcoólico que o 2006 (ambos tem 14,5º de álcool) . Mas mesmo sendo mais jovem a fruta esta se sobressaindo mais, um excelente indício para seu potencial de evolução em garrafa. Boca firme com taninos ainda mais finos e profundos. Um vinho de classe mundial que deve ser apreciado entre 2013 e 2025. Sua composição é 57% Cabernet Sauvignon, 20% Carmenère, 12% Merlot, 6% Cabernet Franc e 5% de Petit Verdot.
Os vinhos Seña são importados para o Brasil pela Expand – www.expand.com.br