Os vinhos brancos também são sonhos de muitos enófilos
Depois do sucesso de nossos 3 capítulos dedicados aos sonhos de um enófilo, tivemos que voltar a trás e trazer mais um capitulo dos sonhos de um enófilo, que na pratica não terá fim nunca. Muitos de nossos leitores enviaram e.mails pedindo que passássemos mais vinhos brancos secos dentre os mais sonhados e desejados do Planeta. Em nossos 3 capítulos somente destacamos um branco seco, o Mítico, sublime e inigualável Montrachet da Domaine de la Romaneée Conti.
Não há duvidas que esse é o vinho branco seco mais espetacular do planeta, mas temos outros verdadeiramente sensacionais e que vamos mencionar nesse novo capitulo. Além do pedido de nossos leitores, mais um fato ocorreu para que adotássemos essa pequena mudança de nossos planos, pois dia 09 de dezembro último, realizei mais um sonho, que foi provar o mais profundo e especial vinho branco de Bordeaux, o Haut-Brion Blanc.
Temos vinhos brancos secos de destaque fora da França, mas para serem elencados como sonhos, vamos somente destacar os brancos secos da somente desse país.
Bordeaux, além dos soberbos tintos, temos alguns Brancos secos dos sonhos
O sonho mencionado acima que foi realizado recentemente foi provar o Haut-Brion Blanc 1999. Esse grande Chateau, um dos cinco Premieur Grand Cru Classé da região de Bordeaux é consagrado pelo seu vinho tinto, talvez o mais aristocrático e o que mais valor tinha quando da classificação de Bordeaux de 1855, que classificou os vinhos de Bordeaux em cinco categorias.
O Chateau em questão é o único não Medoc dos cinco Premieur Grand Cru Classé da lista. Fica localizado em Pessac-Leognan, nas cercanias da grande Bordeaux . Essa classificação de 1885 perdura até hoje, com somente uma revisão em 1973 quando da noemação do Chateau Mouton Rothschild de Deuxième Vin dessa classificação para Grand Cru Classé.
Pois bem o Haut-Brion tinto já havia sido destacado no nosso 1º capitulo e como não havia provado ainda o branco, esse passou incólume. Vale ressaltar que já tive o prazer de visitar o Chateau Haut-Brion e lá não me foi oferecido o branco e sim somente o Gran Vin Tinto e o segundo vinho, á época, denominado Bahans-Haut-Brion. O sonho chamado Haut-Brion Blanc 1999, elaborado a partir de Semillon e Sauvignon Blanc, estava intenso e soberbamente perfumado.
Super encorpado, apresentando muita força. Repleto de frutas exóticas, tons cítricos e um toque profundo de mel. Por incrível que parece ainda estava jovem. Um vinho para muitos e muitos anos de evolução. Sem duvida foi esse o melhor vinho branco de Bordeaux degustado até hoje.
Ainda de Bordeaux temos algumas maravilhas que são mesmo sonhos. Ainda da região de Pessac-Leognan temos o Chateau Smith-Haut-Lafite, que ficou ainda mais imortalizado por ter em suas dependências um SPA denominado Les Caudalies e um restaurante de 1º linha.
Foram muitos desses reluzentes brancos degustados e os mais especiais são o 2004 ,recentemente degustado, e o imortal 1990. Esse branco é produzido a partir de Sauvignon Blanc.
O terceiro mais destacado vinho dessa região é o Chateau de Fieuzal, cujo branco é sempre mais disputado que seu também excelente tinto. Os Chateau Fieuzal Blanc mais impressionantes são o 1990 (deve estar chegando ao ápice) e o 1995, um grande branco.
Da região do Medoc ,ainda em Bordeaux, o mais espetacular branco dentre todos é o Pavillon Blanc de Chateau Margaux. Talvez um dos Sauvignon Blanc mais espetaculares produzidos fora do Vale do Loire.
Borgonha, os mais sonhados brancos secos do planeta
Não resta a menor duvida que os mais intrigantes, especias, profundos e prazerozos vinhos brancos do mundo provêem da Borgonha, Côte D’Or, mais especificamente da Côte de Beaune.
Além do mítico e já destacado Montrachet da Domaine de la Romanée Conti (DRC), temos nesse mesmo pequeno pedaço de terra de 7,99 hectares de Chardonnay, denominado Le Montrachet, outros produtores que produzem também esse néctar dos Deuses. Temos nesse exíguo espaço de terra 18 proprietários e 26 produtores do vinho Le Montrachet.
De todos os produtores os que mais chegam perto do Montrachet da DRC são os Montrachet da Domaine Ramonet, da Domaine Leflaive e da Domaine Drouhin. Todos esses 3 vinhos são dos sonhos e as safras recomendadas são: Ramonet 1980, 1982, 1990, 1996, 1999 e 2001, Domaine Leflaive, qualquer safra. Só provei um o 1995. Sublime, longevo e inesquecível. Da Domaine Drouhin, também somente um Montrachet Marquis de Laguiche degustado, em janeiro desse ano quando da visita a Domaine Drouhin, no centro de Beaune. O 2003 estava potente, maduro e muito prazeroso.
De todos os Montrachet degustados foi o mais exuberante e o motivo disso, muito provavelmente, é que 2003 foi uma das safras mais quentes dos últimos anos na região. Ainda da Borgonha temos mais 4 grandes sonhos. São eles o Mersault do produtor Coche-Dury, o Chevalier Montrachet e o Batard Montrachet da já citada Domaine Leflaive e o Corton-Charlemagne da Domaine Bonneau Du Martray.
Do Mersault Coche-Dury somente uma safra foi degustada, a de 1999, também esse ano em viagem a França. Um branco inesquecível entre os melhores já degustados até hoje. Os vinhos do produtor Coche-Dury estão entre os vinhos mais difíceis de serem encontrados no mundo hoje.
O Chevalier-Montrachet 1997 ,degustado em 2002, foi também uma das maiores jóias degustadas até hoje. Até hoje esse é o branco que mais perto chegou dos Montrachet degustados. O Batard Montrachet 1995 degustado no último domingo, entrou definitivamente para minha coleção de sonhos. Já com relação ao Corton-Charlemagne da Domaine Bonneau Du Martray tive a oportunidade de provar diversas safras. O 1996 foi o melhor de todos to date, mas esse ano em janeiro, provei o 2003, que também estava intenso, sublime e cheio de vida. Mais um sonho realizado.
O último sonho da Borgonha é da Côte de Nuits, a propósito o único branco de toda região que pode ter no rótulo o título de Grand Cru. Aqui vale explicar. O vinho em questão é o Musigny Blanc do produtor Comte Geroges de Vogüé que foi destaque com seu tinto em nosso primeiro capítulo de sonhos de um enófilo. Em 1986 a família produtora decidiu renomear o vinho como Bourgogne Blanc até que as vinhas atinjam idade para serem classificadas como vinhas velhas e com isso aptas a produzir um vinho Grand Cru, ou seja, dentro de alguns anos teremos novamente o Musigny Blanc Grand Cru.
A área total das videiras de Chardonnay plantadas no vinhedo Musigny totaliza 0,6 hectares. Sendo que 0,4 hectares foram plantados no topo do vinhedo nos anos de 1986, 1987 e 1991. O restante de 0,2 hectares foi plantado em 1997. Tudo isso para dizer que meu ano de 2011 foi um ano de muitas realizações, pois tive o prazer de provar o Comte Georges de Vogüé Bourgogne Blanc 2006. Um branco ilustre, aristocrático, mineral e muito marcante. É mais encorpado e desafiador que seus rivais da Côte de Beaune.
Mais um sonho importante realizado, pois esse vinho é também muito raro e dificílimo de ser encontrado.
Vale do Loire e Alsácia
Apesar de termos excelentes tintos do Vale do Loire, são os brancos que se destacam. Nessa vasta região que percorre mais de 1.000 quilômetros nas margens do rio Loire temos nos extremos dois grandes vinhos de alguns produtores, que são mesmo dos sonhos. Nas cercanias de Angers temos uma Appellation d’origine contrôlée (AOC) denominada Savennières, que além de seus grandes vinhos brancos, tem também espetaculares brancos doces.
Como já dissemos nesse capitulo vamos falar de brancos secos e dessa AOC temos um sonho chamado Clos de la Coulée de Serrant, um monopole do produtor Nicolas Joly.
Esse vinho é produzido a partir de 100% da casta Chenin Blanc. Nicolas esteve no Brasil 5 anos atrás e conduziu uma vertical com 10 safras de seu vinho ícone. O 1976 não sai de minha cabeça. Talvez tenha sido o branco mais velho que degustei e que esbanjava vida, corpo e alegria, mesmo com quase 30 anos. Recentemente degustei o 2004 e o 2005, ambos vinhos para 20/30 anos de guarda.
Bem ao oeste do Rio Loire ,já quase chegando na Borgonha, temos uma AOC denominada Pouilly-Fumé. Dessa pequena comuna temos os vinhos de mesmo nome e dois se destacam sobremaneira e tem o estigma para serem considerados sonhos de um enófilo.
São eles o Pouilly-Fumé Pur Sang do genial e recém desaparecido Didier Daqueneau e o também Pouilly-Fumé, o Baron de L, da casa Ladoucette. De Didier Dagueneau os mais reluzentes Pur Sang degustados foram 2000 e 2005. Já da casa Ladoucette os mais fortes a candidatos a sonhos são o 2002 e o extra-ordinário 2005. Desses dois vinhos o Baron de L tem mais estrutura para evoluir com o tempo. É mais longevo.
Da Alsácia mencionamos alguns doces como sonhos em nosso capitulo 3, da semana passada, inclusive destacando um deles como um dos dois mais espetaculares doces provados até hoje. O sonho “branco seco” da Alsácia é também da Domaine Weinbach, a mesma do doce dos sonhos. Estamos falando do Riesling Schlossberg Cuvée Saint Catherine. Foram muitas safras provadas e nunca provei nenhum que não fosse espetacular. Os mais destacados são o 1995, 1999, 2001, 2002 e 2007. Um Rieling potente, riquíssimo e com estrutura para evoluir por muitos anos.
Ah! Para finalizar, temos mais um protesto recém chegado à redação do PPOW. Mais um enófilo reclamando “seus direitos”…. O Motivo da reclamação: Onde estão os sonhos do vale do Rhone?
Pois bem, dessa vez dou a mão a palmatória. Na semana que vem teremos o capitulo numero 5 de “Sonhos de um Enófilo”, dedicado aos tintos dessa espetacular região da França. Até lá!