Os vinhos portugueses produzidos na Quinta do Monte D’Oiro brilharam em recente visita a Lisboa
O predestinado José Bento dos Santos adquiriu em 1987 a Quinta do Monte D’Oiro, na região da Estremadura, pouco mais de 20 quilômetros em linha direta do oceano atlântico. De Lisboa até a Quinta são pouco mais de 70 quilômetros para o nordeste da capital. Essa lindíssima Quinta se localiza nas cercanias da cidade de Alenquer. José, um ‘louco’ pela gastronomia desde sempre, catapultou essa Quinta que hoje é reconhecida na produção de vinhos de altíssima qualidade. Somado a isso, os resultados da propriedade acabaram impulsionando o nível dos vinhos da região da Estremadura, que antes era conhecida por produzir tintos e brancos de alto volume e, de maneira geral, sem expressão.
Depois de muitos estudos e investigações José e sua equipe decidiram apostar nas principais castas do norte do Vale do Rio Rhône na França. Nessa importante região brilham a casta tinta Syrah e a branca Viognier. É dessa região que nascem os maravilhosos, famosos, caros e disputados Hermitage, Côte Rôtie e Condrieu, dentre outros. O Hermitage é um tinto elaborado a partir de 100% da casta Syrah, o segundo, o Côte Rotie, é elaborado com Syrah predominante, porém é permitido pela appellation d’origine contrôlée (AOC) o uso de pequena parte de Viognier em seu blend. O Condrieu é um branco elaborado a partir de Viognier (100% – obrigatoriedade da AOC).
Essa introdução é para nos colocar em linha com a visão de José e já afirmar de maneira taxativa que os vinhos dessa Quinta são mesmo a expressão dessas duas castas em pleno solo português, em plena recém-criada Denominação de Origem “Regional Lisboa”. Além de seus Syrah e Viognier, a Quinta também utiliza castas autóctones portuguesas para elaborar seus blends e também varietais.
Em minha curta viagem a Portugal, na semana passada, além de saborear muito a culinária portuguesa, tive o prazer de estar por algumas horas com Francisco Bento dos Santos, filho de José, que já atua na Quinta com o esmero que aprendeu com o pai.
Nos encontramos no simpático Mercado 1143, na Lx Factory, em Alcântara, Lisboa. Essa simpática Deli fica localizada em uma antiga fabrica/gráfica que hoje é um conglomerado de bons bares e excelentes restaurantes. O destaque dentre os restaurantes é o Taberna 1300, onde tivemos a oportunidade de jantar. Nesse restaurante brilha, além da excelente gastronomia, o escanção (como o sommelier é chamado em Portugal) Rodolfo Tristão, recentemente nomeado presidente da Associação dos Escanções de Portugal. O conjunto de degustação e jantar, com Francisco e Rodolfo, foi mesmo muito especial.
Francisco trouxe a linha completa dos vinhos do Monte D’Oiro para provarmos. Começamos com o gostoso Quinita do Monte D’Oiro Lybra Syrah Rosé 2011. Um Rosé de linda cor rosa clara. Muito fresco nos aromas. Casou sobre maneira com uma entrada de Atum com redução de aceto balsâmico.
A seguir tínhamos o Quinta do Monte D’oiro Lybra Viognier Arinto 2011. Um branco vibrante que alia a carga aromática da Viognier com o frescor da Arinto. Em boca é estava super agradável. Apesar de um vinho branco que não passa por madeira, mostrou personalidade e força. Excelente acidez e marcante final de boca.
Após esse fresco branco, mais para consumo diário, chegávamos ao grande branco da casa, o Quinta do Monte D’Oiro Madrigal Viognier 2010. Elaborado à base de 100% dessa vibrante casta é um primor de branco. O que marca demais é seu estilo. De fato lembra um bom Condrieu e os “segredos” para conjunto fresco aliado a um bom corpo são a colheita e vinificação.
Francisco nessa hora parecia um poeta descrevendo esses “segredos”. Foi mesmo impressionante ver o entusiasmo desse jovem “homem do mundo do vinho”. 1º segredo: A colheita é realizada em duas etapas. Primeiramente a metade das uvas Viognier é colhida com menos de 13º de álcool potencial e dias depois é colhida a outra metade, com pouco mais de 14º de álcool. Essa técnica é para equilibrar o álcool do blend final que alcançou 13,5º de álcool.
O 2º “segredo” é que metade de cada uma das metades colhidas, uma com 13,5 e 14,5º de álcool, é fermentada em barricas de carvalho francês e a outra metade, fermentada em aço inoxidável. Com o blend final desses 4 vinhos chegamos ao Madrigal. Esse 2010 está soberbo nos aromas.
A madeira está milimetricamente postada no conjunto. Os aromas de frutas tropicais maduras despontam, com destaque para pêssegos. A presença floral da casta está presente e o toque mineral faz a diferença. Conjunto aromático delicioso. Em boca é fresco e ao mesmo tempo marcante. Prima pela elegância. Delicioso hoje e com vida pela frente. Deve ser bebido nos próximos 4/5 anos.
A seguir tínhamos o primeiro tinto à mesa. Uma verdadeira surpresa para um vinho que custa em Portugal 9 euros. Estamos falando do Quinta do Monte D’Oiro Lybra Syrah 2008. Provocante nos aromas e com tudo bem situado. Equilíbrio entre a fruta madura, a madeira e o álcool. Buque surpreendente. Palato vigoroso e equilibrado. Um tinto delicioso e muito versátil, pois pode ir à mesa com um sem fim de pratos. A linha Lybra de maneira geral apresenta excepcional custo beneficio e posso garantir que o Lybra Syrah 2008 é um dos melhores custos benefícios dentre os tintos portugueses disponíveis no mercado hoje.
Depois dessa surpreendente linha chegávamos aos vinhos tintos de autor, assinados por José, além de um tinto de sua parceira com o craque enólogo francês Michel Chapoutier, um das mais renomadas autoridades do Vale do Rhône na França. Francisco escolheu a seguinte ordem para degustarmos.
Têmpera Tinta Roriz 2007, Aurius Touriga Nacional Syrah Petit Verdot 2007, Domaine Bento & Chapoutier ExAequo 2008, “Syrah 24” 2007 e ,por último, o Quinta Monte D’Oiro Reserva 2007. O Quinta do Monte D’Oiro Têmpera 2007 foi sem duvida o vinho menos encorpado de todos esses tintos, o que prova a escolha correta de Francisco.
Seus aromas são muito elegantes. Um tinto sem maquiagens, privilegiando as características da casta. Aqui vem um detalhe importante com relação ao estágio em madeira. O estagio total foi de 14 meses, sendo que somente 35% do vinho passa por madeira nova. Com esse aporte moderado da madeira, o vinho prima mais para o equilíbrio do que para a força. A fruta madura está presente também e muito entrosada com a madeira, formando um buque muito bom e agradável. Gustativamente é de corpo médio. Final de boca muito bem definido. Não é um blockbuster. Um tinto para quem quer conhecer um “Tinta Roriz” muito diferente dos disponíveis no mercado, principalmente os espanhóis (A Tinta Roriz é a mesma casta que a Tempranillo na Espanha).
O próximo tinto á mesa foi o “perfumado” Quinta do Monte D’Oiro Aurius também da safra 2007. Esse impressionante tinto tem predominância da casta indígena portuguesa Touriga Nacional, blended com Syrah e um toque de Petit Verdot.
O adjetivo perfumado dá-se devido a casta Touriga Nacional que prima por uma carga aromática deliciosa, sempre marcada pelas notas florais e minerais. A fruta negra madura (destaque para as cerejas) está muito bem centrada no conjunto que apresenta ainda uma nuance leve da madeira de boa qualidade.
Boca sedosa, taninos de excelente formação e um final de boca marcante. Propositalmente Francisco colocou como o próximo tinto na sequência o ExAequo da parceria do Monte D’Oiro com Michel Chapoutier. A razão foi comparar vinhos com proporções opostas. Enquanto o Aurius 2007 tem mais de 70% de Touriga Nacional com quase 25% de Syrah, o ExAequo 2008, possue 75% de Syrah com 25% de Touriga Nacional. Bingo! Minhas conclusões aqui são que o Aurius tem mesmo mais um estilo Português de ser, com a Touriga Nacional concedendo um boque mais alegre e uma boca levemente menos encorpada.
Já o ExAequo é um tinto mais moderno, mais frutado (além das cerejas negras temos aqui cassis e ameixas negras) e também com mais madeira. Em boca o ExAequo é mais potente e firme se comparado com o Aurius. Dois tintos muito interessantes com o ExAequo levando vantagem por possuir mais expressão. Para fechar a estratégia de Francisco, seguimos direto para um Syrah puro, o Quinta do Monte D’Oiro Syrah 24 2007 e ,por último, o Quinta do Monte D’Oiro Reserva também da safra 2007. A ideia, por sinal de extrema precisão de Francisco, foi provar um Touriga com Syrah, um Syrah com Touriga, seguidos de um Syrah Puro e um Syrah 96% com 4% de Viognier. Esse último tinto uma versão portuguesa dos Côte Rotie, mencionados acima.
Como diriam os italianos tivemos mesmo um gran finale. O Syrah 24 é um vinho produzido a partir de um vinhedo único (single vineyard) com uma miscelânea de clones de Syrah com mais de 60 anos, de grandes produtores, trazidos da região de Hermitage, Vale do Rhône, França.
Absolutamente sensacional nos aromas. Prima pela complexidade com a fruta negra madura reluzente no conjunto, seguido de toques de madeira, que lhe concederam tostados e tons lácteos, esses últimos nos remetendo a chocolate e baunilha. O Buque é inebriante. Em boca se destaca o equilíbrio entra a força e a elegância. Muito alegre com taninos excepcionalmente bem formados e um final de boca delicioso e muito longo. Um tinto que merece muitos aplausos e que sem duvida é o melhor Syrah puro produzido em terras portuguesas, de todos os tempos.
O premiadíssimo Reserva, que na safra 2007 excedeu, estava também muito preciso. Apresentando boa densidade, demorou um pouco mais para abrir nos aromas, mas foi melhorando com o passar dos minutos. Aromas gulosos com fruta madura de sobra e tostados provenientes dos 18 meses em barricas de carvalho francês. Em boca é vibrante e delicioso. O mais elegante de todos os Reserva degustados to date. Viva a Syrah, Viva a Viognier e Viva Portugal!!!!
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