O livro explora o Holocausto e a história de uma família com uma visão leve e bem-humorada
Jonathan Safran Foer é um nome pra ficar de olho: ele possui um estilo de escrita único, mesclando pontos de vista e diferentes formas de narração para explorar algum tema.
Se com Extremamente Alto & Incrivelmente Perto ele mudava a cada capítulo a forma como o narrador escrevia e utilizava recursos visuais para transformar a narrativa em alto detalhado e único, com Tudo se Ilumina (tradução de Paulo Reis e Sergio Moraes Rego; Editora Rocco, 368 páginas, R$ 53,00) a gente chega em algo que é exatamente o que não se espera de um livro sobre o Holocausto: leve, divertido, inventivo e moderno. Na verdade, só é possível perceber que esse é o tema central do romance quando já se está perto do seu final. Não é à toa que esta obra criativa e surpreendente rendeu diversos prêmios e honrarias ao seu autor.
Safran Foer é judeu e sempre quis saber detalhes da história de seu avô, um ucraniano que teve toda a sua família assassinada pelos nazistas e só escapou da morte graças à ajuda de uma certa Augustine, que o teria escondido dos alemães. Safran Foer nem conheceu o avô, mas cresceu ouvindo o que sua avó lhe contava sobre ele. Obcecado pela origem de sua família, o rapaz foi à Ucrânia tentar descobrir o paradeiro daquela mulher. Ele não tinha informação alguma para lhe servir de guia, sabia apenas que seu avô era de Trachimbrod, uma pequena aldeia judaica. Fora isso, ele contava com uma fotografia antiga que supostamente mostrava Augustine e seus parentes.
A idéia de Safran Foer era voltar da Ucrânia e escrever um livro de não-ficção sobre seu avô. Entretanto, a viagem não lhe rendeu as respostas que ele desejava. Augustine continuou sendo um enigma do passado. Seu projeto, portanto, implodiu. Foi quando ele teve a idéia de misturar ficção e realidade num único livro, preenchendo as lacunas de sua viagem e da história de sua família com fatos inventados.
O resultado a gente confere em Tudo se ilumina, um romance construído sobre três narrativas completamente diferentes, que seguem paralelas e entremeadas. Alguns capítulos mostram Jonathan Safran Foer, personagem fictício homônimo do autor, em sua viagem à Ucrânia em busca de Augustine. Em sua jornada, ele conta com a ajuda do estranho Alexander Perchov, jovem ucraniano que lhe serve de guia e intérprete. Outros capítulos são páginas do livro de não-ficção escrito pelo personagem, contando a história de sua família desde o nascimento da aldeia Trachimbrod, no século XVII, até sua viagem de pesquisa ao local. A terceira narrativa é composta por cartas de Alexander Perchov, em que ele comenta o que já leu do tal livro, dá dicas ao autor e relembra os momentos que passaram juntos.
É tudo muito intrincado e inventivo, mas não é complicado. O Safran Foer real tomou o cuidado de adotar estilos literários radicalmente díspares ao escrever cada uma das três narrativas que se revezam ao longo do livro, como se cada uma tivesse sido criada por uma pessoa diferente: o autor real, o autor fictício e o personagem Alexander. Este último é responsável pelas passagens mais engraçadas do romance, com o seu jeito truncado e equivocado de falar e escrever em inglês – ele se refere a “papo furado”, por exemplo, como “conversa esburacada”. No fim, o leitor vê que tudo conflui para uma única história triste e irônica, mas também muito rica e divertida.
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