O encanto de horas fugazes que ficam para sempre
Quando ouço alguém dizer que é bobagem gastar dinheiro numa festa de casamento ou de Bodas de Ouro, assim como na celebração de uma data redonda porque só dura um dia, lamento a falta de sensibilidade para perceber o quanto existe de eternidade nos momentos que parecem passageiros, o elemento inolvidável que acompanha certos fatos em nome da magia que pode existir no que parece fugaz. Desde que se saiba perceber é claro.
Aliás, os laivos de eternidade que temos nessa nossa vida tangível, material, concreta, estão justamente no mistério do efêmero que consegue incutir nas pessoas que passam por ele imagens que não se apagam, o que fica em nós como marca do atuado. O encanto que se faz num momento e mantém os amados na lembrança, assim como as deliciosas horas junto vividas.
Até que eu feche os olhos e sabe-se lá, senão depois, vou lembrar da festa de 90 anos que fiz para meu pai, um ano antes de subir ao andar de cima, e o quanto ele ficou feliz de ver os familiares ainda vivos que moravam distantes e os amigos de coração, aqueles que torcem por nós e nos acompanham nas alegrias e nas dores. Seu sorriso maroto, o olhar de menino ao apagar as velas do bolo, a felicidade e a gratidão estampadas em seu rosto quando ao final da noite, ao chegar à casa, disse-me num abraço e entre lágrimas “obrigado, filho”. Algum dinheiro economizado pode valer mais que isso? Será que o trabalho e o cansaço para realizar, que tantos alegam para não fazer nada, não compensa largamente?
Dizem os espiritualistas e místicos que nos derradeiros minutos da vida física uma avalanche de imagens nos re-visitam trazendo de volta as cenas inesquecíveis da existência e que bom será que só tenhamos flashes bonitos e cenas doces para nos envolver naquele cineminha particular em que a biografia passa nítida.
Neste tempo natalino é importante crer nos paradoxos e confiar nesse maravilhoso elemento de eternidade que se esconde nas horas fugazes, caso não nos deixemos aturdir pelo supérfluo, pelo frívolo das compras e dos compromissos e paremos um pouco para olhar as expressões à volta da mesa, as fisionomias nas trocas de abraços, a emoção na hora da prece, o prazer da presença, o entusiasmo para desejar o melhor e a honestidade dos votos vindos das ânsias mais sinceras.
Não percam isso nesta noite, por favor, aonde quer que vocês estejam e com quem. E posso fazer um pedido, talvez chato, aos mais jovens, aos irrequietos, aos que temem estar perdendo uma noite em família ao invés de cair na balada? Curtam ao máximo os pais, irmãos e todos os amados à volta, captem o momento precioso de afeto e calor humano. Eles vão durar para sempre na sua saudade, na sua memória, na sua comoção. Será tudo tão rápido e vai se transformar em imagens permanentes no álbum das melhores lembranças, o que aquece a alma para sempre.