Um dos sintomas claros de que uma pessoa ainda não ama outra com quem se relaciona é o prévio estabelecimento das condições da relação. Ou quando antes mesmo de iniciar um romance, já se determina o que é necessário para que haja algum afeto: situação financeira tal, morar próximo ou distante, determinado padrão de inteligência ou características físicas.

Isso é sinal de que a pessoa não sabe o que é, realmente, amar, ainda não se envolveu com ninguém de forma intensa e total ou está muito influenciada pelas imagens externas. Ou seja, a superficialidade que vela os melhores sentimentos. Porque o exercício do amor incondicional é o grande demonstrativo de que se está apaixonado e entregue a esse movimento de êxtase. Não se condiciona antes; ama-se primeiro e de repente, as condições se fazem naturalmente.

Eis porque cada caso de amor é único, seja numa relação a dois, familiar ou de amizade. Na unicidade, se estabelecem os limites. A melhor forma de um encontro de almas e afetos se tornar saudável e duradouro é conhecer na seqüência, os limites da individuação. Por outro lado, razões determinadas pelas circunstâncias externas ou pelos valores da influência, valem pouco, diante da grandeza do amor.


Carlos Drummond de Andrade dizia “Há vários motivos para não amar uma pessoa e um só para amá-la; este prevalece”. Às vezes, não se percebe com clareza, qual é mesmo o motivo. Isso explica o porquê de não vermos certos defeitos nos seres amados ou quando o vemos, os atenuamos ou encontramos uma graça naquilo que poderia ser total incomodo. Assim como também, se aprende a não querer o parceiro ou parceira da vizinha, momentaneamente considerado perfeito, justamente porque está longe e não inserido no que Montaigne, o brilhante ensaísta francês chamava de habituação a afirmar “a habituação embota a visão do nosso discernimento”. É legal, o dia em que percebemos que pode ser perfeito ou ótimo para o vizinho, a prima, o amigo e não necessariamente para nós.

Sem que precisemos diminuir um ou querer enxergar o que nem existe no outro. Conhecer as condições de um amor no sentido que integra e intera duas pessoas é o grande código de qualquer vida a dois. Diria mesmo que o mistério e a individuação que a caracteriza. Só nessa conjugação é que se pode entender as raízes fortíssimas do sentimento humano quando mergulha, antes na paixão, depois no encanto da possibilidade de amar e finalmente, na maravilha da entrega.
Sem com isso, começar a ditar regras, por favor. Não é posando de heróis ou de profundos conhecedores que vamos conseguir a admiração que se sucede e nem a manutenção desse abençoado estado emocional. O que vale mesmo é aquele único motivo de que falava Drummond.

“Conhecer as condições de um amor no sentido que integra e intera duas pessoas é o grande código de qualquer vida a dois. Diria mesmo que o mistério e a individuação que a caracteriza”